Capítulo I

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Numa época distante, onde os deuses eram adorados e existia magia no mundo, dois jovens se apaixonaram. Para eles não importavam as diferenças que tinham, e olha que não eram poucas. Eles definitivamente não poderiam ficar juntos, mas estavam dispostos a passar por cima de qualquer obstáculo para viverem esse amor. Podia-se dizer que eram almas gêmeas, destinados a ficarem juntos.
Mas muitos não concordavam com isso e fariam o possível e o impossível para evitar que os jovens apaixonados ficassem juntos.

Um era sacerdote da deusa Amaterasu,  a deusa do sol e também do universo. Fazia parte do clã  responsável pela tecelagem da deusa Amaterasu,  eram os que teciam cotidianamente um quimono da cor do tempo, para que todos dias de manhã, a deusa pudesse sair e iluminar a Terra. Era um trabalho nobre que muitos queriam fazer, mas que era de um único clã a gerações e clã se sentia honrado por servir a deusa. Ele gostava do que fazia, mas se sentia preso muitas vezes, ele não teve escolha, desde seu nascimento  foi prometido a deusa, não tinha como fugir do seu destino.

O outro servia ao reinado, não tinha muitas  ambições na vida, e nem queria, gostava de tranquilidade e paz, seus pais chegavam a dizer que era um preguiçoso nato. Apesar do seu clã ser responsável pelas táticas de estratégia do exército e ele ser considerado um gênio por sua astúcia e capacidade de elaborar estratégias em pouco tempo, sempre achava soluções para os problemas que lhe era entregue. Então não tinha muita escolha a não ser seguir os passos do seu pai e assumir seu lugar como estrategista oficial do reino quando chegasse a hora.

Um dia em que havia dado um jeito de fugir de suas obrigações, enquanto descansava sob a sombra de uma cerejeira, em um lugar um pouco distante, onde poucos iam e poderia ficar sozinho tirando uma soneca, viu uma figura caminhando pelo caminho de pétalas que caiam das arvores, ficou encantado, admirando aquele que parecia flutuar, caminhava com calma e graciosidade, com seus longos cabelos castanhos soltos que voavam ao vento.
Este que andava distraído, e que também tinha saído escondido, depois de terminar suas tarefas como sacerdote da deusa, e deveria  ficar recluso em seu quarto, pois era estritamente proibido sair, mas não aguentava mais ficar “preso", precisava sair, sentir um pouco de ar puro. Então foi para onde sempre ia quando queria se sentir livre, nem que fosse por algumas horas.

Estava distraído admirando as flores caindo e se assustou ao ouvir alguém falando contigo.

- Você é um sacerdote da deusa Amaterasu? O que faz aqui?

Olhou para onde vinha a voz e viu alguém que parecia ter sua idade, ou um pouco mais, de pele morena e o cabelo preso no topo da cabeça, que lembrava um abacaxi. O achou adorável. Ficou o encarando por alguns segundos antes de responder

- Sim, eu sou... Eu... estava apenas passeando. Disse nervoso, pois ficou com medo de ser denunciado  por fugir do templo.

- Pelo que sei vocês não podem sair, devem ficar reclusos, a disposição unicamente da deusa.

- É verdade, mas estou cansado de ficar trancado, queria ver o sol, as nuvens, sentir o vento e tudo o que a deusa Amaterasu nos dá.

- Tudo bem, não se preocupe pois não vou te denunciar, já que eu também estou fugindo das minhas obrigações. Esse será o nosso segredo.

Sempre ouviu as histórias que os anciãos contavam, sobre o quão ruim as pessoas de outros clãs eram, que não podia confiar, eram traiçoeiras e ardilosa, mas alguma coisa dentro do coração o dizia que precisava ter medo e que podia confiar naquela pessoa.

O outro também tinha a mesma sensação, como se já o conhecesse de outras vidas, sentia uma paz e tranquilidade que nunca havia sentido antes. Os dois sentiam como se estivessem em casa na companhia um do outro.

- Posso me sentar ao seu lado? Perguntou um pouco tímido.

- Claro, a vontade.

- Qual seu nome?

- Eu acho melhor você não saber.

- Porque? Perguntou estranhando a resposta do outro.

- Não me parece seguro. Podes achar estranho, mas sinto que é melhor assim.

O outro concordou, apesar de achar realmente estranho, sentiu que seria mais seguro se não soubessem o nome um do outro, só não sabia o porquê.

Se antes o moreno já o achara gracioso, agora o olhando de perto, o achava  lindo, perfeito. Com suas feições um pouco delicadas, seus olhos claros como pérolas, a pele alva onde dava para ver um pouco das veias da mão.

Foi tirado dos seus pensamentos, ao ouvir a doce voz do outro.

- Você é diferente do que imaginava das outras pessoas.

- Como assim? Perguntou estranhando o comentário.

- É que em toda minha vida eu  só vi pessoas semelhantes a mim, na aparência, os mesmos olhos, os mesmos traços.

- Mas garanto que você é diferente de todos eles. Eles podem se parecer com você, mas com certeza você é único.

O outro corou levemente com o comentário, não era acostumado a ouvir esse tipo de coisa. Sempre achou que era mais um entre tantos outros.
Para muitos parecia uma conversa estranha, mas para eles não, era algo natural. Ficaram um bom tempo conversando, parecia que já se conheciam, os assuntos fluíam com naturalidade, até o sacerdote perceber que já estava tarde e deveria voltar antes que percebessem que tinha saído. Caso isso acontecesse estaria perdido.

- Te verei novamente? Perguntou vendo o outro se levantar.

- Não sei dizer, pois não posso afirmar que consigo sair de novo. Disse um pouco triste, pois gostou da companhia do outro.

- Fazemos assim, todos os dias, na mesma hora e aqui nesse mesmo local estarei te esperando. Caso consiga vir,  estarei aqui, pois gostei de ti e da tua companhia. E quero muito te ver de novo.

O outro ficou feliz com o que ouviu e disse

- Farei o possível para voltar, pois sinto o mesmo.

E dando um sorriso como despedida e acenando com a mão  foi embora feliz por ter feito um amigo e com esperança de o ver novamente.

Aquele sorriso que fez o coração do moreno errar uma batida. A partir de agora tinha uma certeza, queria ver o dono daquele sorriso sempre. E faria de tudo para que isso acontecesse.

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