O cavaleiro

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POV Hiccup

As pessoas não mudam, dizia muito bem a minha mãe. As pessoas dizem que eu mudei, mas eu apenas melhorei, ou piorei para alguns.

Eu não vou dizer que o treino e as convivências me afetaram, eu acho que apenas me fizeram ver o mundo de uma forma diferente.

Eu já não acredito na bondade das pessoas, como antes via. Toda a gente tem o seu lado negro, por isso são tretas.

O meu crescimento deveu-se essencialmente ao Alvin. Ele deu-me tudo o que uma pessoa deseja: casa e família.

Ele tratou-me como seu filho e fez de mim uma pessoa que antes era considerado como nada. Hoje, sou o melhor cavaleiro dele e o acompanho para todo o lado.

Trata-me como um filho, mas não se esquece do seu de sangue, Viggo. Ele é o meu amigo mais próximo. Ajudou-me em tudo e é tão bom cavaleiro como eu.

A única diferença entre nós os dois é que ele é temido pelo seu rosto frio e eu pelo capuz que cubro a minha cabeça.

Já era manhã na ilha dos exilados e eu e o Viggo vínhamos todas as manhãs treinar à arena, apesar de estarmos mais do que treinados.

Esta nova vida deu-me oportunidades como um melhor amigo: o meu dragão. Quando tinha 18 anos, dei-lhe o nome de Desdentado, porque os seus dentes eram descartáveis.

Ele é um dragão negro com escamas por todo o lado. Tinha olhos verdes dóceis e uma luz azul a sair pelas narinas ou pela crista das costas.

Nesse tempo, o Alvin disse-me que eu merecia o dragão se o conseguisse domar, e consegui, mas isso implicou eu perder o pé. Cai do dragão uma vez e parti o pé esquerdo. Para coincidência, ele também tinha um defeito na cauda, faltava-lhe uma parte, então eu todo generoso fiz-me uma parte da cauda metálica.

Ele gostou imenso, e acho que foi a partir dai que nós ficámos melhores amigos.

Agora ia quase levando com um golpe do Viggo, se não tivesse reparado a tempo.

- Concentra-te. Não queres perder outro membro, pois não?- perguntou ele irónico

- Isso querias tu.- disse o atacando com a minha espada

Viggo é um homem já bem adulto. Ele tem olhos grandes e pretos, barba bem feita negra e cabelo curto escuro. As suas sobrancelhas eram grossas e os seus lábios eram finos.

Ele usava duas placas de metal com espinhos nos ombros, um escudo com uma t-shirt castanha por dentro. Por baixo, usava calças e por fim umas botas.

Ele tinha 23 anos... tal como a minha irmã. Para ser sincero, eu tenho algumas saudades dela, mas a primeira coisa que o Alvin me ensinou foi que o amor é fraqueza, por isso deixei de pensar no passado e só me interessei no presente e no futuro.

Eu e o Viggo ainda disputavamos entre espadas. Eu dei um mortal por cima dele e apontei-lhe a espada para as costas dele, de maneira a ele render-se.

- O meu pai nunca me ensinou a fazer mortais ou coisas desse género.- disse ele revoltado

- Que pena. Talvez não tenhas prestado atenção.- disse sem olhar para ele, calmamente

Ouvimos um bater de palmas. Batia o sol na arena, então não consegui ver bem. Ele desceu a rampa e passou pela entrada. Pronto, só podia ser o Alvin.

- Os meus dois rapazes... Mais crescidos que nunca. Tenho orgulho em ambos e nunca duvidem disso.- disse ele dando palmadas nas nossas costas

- Disseste isso imensas vezes e sempre vinha uma coisa por trás.- disse o Viggo olhando para ele

Lá nisso ele tinha razão. Preferi ficar calado, como faço a maioritariamente.

Eu não costumo falar muito não por não ter assunto de conversa, mas sim porque faz parte da minha identidade. Sou um cavaleiro temido por muitos, conhecido pelo meu manto negro e pela sombra dos meus olhos. Dava um aspeto medonho, uma vez que eu não estou disposto a dar confianças a ninguém.

- Quero que vocês os dois vão a Berk. Conhecer as defesas e os pontos estratégicos.- falou ele olhando para nós os dois

- Absolutamente não.- falei firme e num tom gelado, virando-lhe as costas

- Porque não?- perguntou ele confuso.- Não era o que tu querias? Vingar os teus pais? Tudo começa por algo, Hiccup.

Eu hesitei a olhar para ele enquanto ele falava. Eu não gostava que me chamassem pelo nome. Fazia-me lembrar de quem eu realmente sou e de quem fui antes.

- Eu jurei a mim mesmo que só punha lá os pés naquela terra quando fosse para matar o filho da puta do Gosmento, não para brincar à porra dos espiões.- disse enervado

- O meu pai tem razão. Devíamos ir. Como iremos invadir uma terra sem saber como ela é?- perguntou o Viggo dando de ombros

Olhei para ambos desentendido, mas eu não podia negar. Eles tinham razão.

- Okay.- disse colocando a espada na bainha couro presa ao cinto

Não sai da arena revoltado, mas talvez desconfortável só de pensar que iria para aquele sítio onde aconteceram coisas terríveis.

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