O passado

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POV Alvin

Há 23 anos atrás...

Stoico tinha me chamado para o grande salão. Não sei como é que nesta fase ele tem tempo para liderar, visto que a sua filha tinha acabado de nascer e ele era um pai babado, digamos.

Aska Haddock, belo nome para uma rapariga. Já a tinha visto antes deste encontro. Tinha olhos azuis e fios de cabelos quase ruivos, como os do pai. Sabia que ela ia ser uma grande guerreira, tal como o pai.

Eu e o Stoico somos amigos desde os nossos 20 anos, ou seja há 10 anos que somos amigos. Não vou dizer que inseparáveis porque nós estamos a discutir todo o tempo.

Eu entrei no grande salão e lá na mesa ao fundo estava Stoico, a sua mulher, o irmão Gosmento e o Bocão, que era o amigo mais antigo dele. Acho que se conhecem quase desde que nasceram.

- Disseram-me que querias falar comigo.- disse avançando na sua direção

- E estás certo. Queria falar contigo sobre algumas coisas que têm acontecido de momento. Vieram a chegar aos meus ouvidos que andas a conspirar contra mim.- falou ele sereno

- Alguma vez? Eu sou fiel a ti, Stoico.- defendi-me fingindo estar incrédulo, mas acho que ninguém acreditou na minha defesa

Bem, acontece que a primogénita de Stoico é uma menina, e nunca em sete gerações o primogénito foi uma mulher, por isso é que eu ando a dizer que Aska não é digna de liderar Berk.

- Alvin, Berk tem ouvidos por todo o lado, sabes disso melhor do que ninguém.- disse a Valka cruzando os braços

A Valka é a mulher mais bonita de Berk. A sua beleza é incomum. É tão genuína e pura, até acho que ela é demais para o Stoico. Confesso que desde miúdo sou apaixonado por ela, mas ela preferiu o Haddock em vez de mim.

- Então, o que andam a conspirar contra ti?- perguntei fingindo estar desentendido

- Andam a dizer que tu não achas merecedor o facto da minha filha ser a futura líder de Berk. Porque não?- perguntou Stoico severo

- Não sei do que falas. Nunca ouvi tal boato.- disse fingindo mais uma vez não estar perceber

- E também andam a dizer que queres matar a minha filha.- disse Valka revoltada

- Oiçam, nunca ouvi tal coisa.- disse fazendo uma pequena gargalhada porque achava isto absurdo

- Chega de conversa. Eu e o concelho decidimos que estás banido de Berk, e os teus seguidores também.- declarou ele, o que me fez ficar sem chão

- Stoico, a tua decisão é desumana! Tu bem sabes que numa das invasões dos dragões a minha mulher foi morta e o meu filho é recém nascido! Como podes tomar uma decisão dessas?!- perguntei estupefato

- Lamento Alvin, mas eu não posso arriscar a vida da minha filha.- disse Stoico melancólico

Sai do grande salão emfurecido e de passos largos e pesados. Stoico está a tirar a minha casa e o minha cidade de mim. Que homem mais insensível!

- Alvin, espera!- disse o Gosmento a correr atrás de mim

Oh boa, cá vem este que era um dos meus principais apoios nesta revolta. Não o denunciei porque sabia que ele não ia querer ficar mal com o irmão.

Já estávamos fora do grande salão, então era impossível os filhos da puta de lá de dentro nos ouvirem.

- O que queres? Nem tu foste capaz de me defender.- disse irritado

- Eu sei, mas sê paciente. Daqui a 3 anos, neste mesmo dia, a magia vai acontecer, e quero-te cá para assistir ao caos.- disse ele com algum truque na manga, o que era óbvio

Eu só sai do lado dele e segui o meu caminho. Tinha pelo menos 3 anos para pensar se devia ir ou não ir à sua revolta.

(...)

Passaram-se 3 anos e eu tinha decidido que eu ia assistir. Eu tinha ido um dia antes, só para matar as saudades da minha terra.

Meti o meu filho Melequento fora disto, já com três anos de idade. Encontrei uma ilha onde eu vivo até agora com as pessoas que decidiram me seguir. Chamamos dela ilha dos exilados. Eu, como era óbvio, governava aquela ilha e aos poucos vou construindo o meu império.

Estava anunciado que o filho recém nascido de Stoico estaria presente no seu próprio Nafnfesti, uma cerimónia onde o pai da criança dá-lhe nome e um presente.

Já ouvi boatos de que o seu nome seria Hiccup Haddock.

No dia da sua cerimônia parecia tudo normal até ao momento em que o Gosmento mais uns não sei quantos decidem arruinar a festa, começando a matar as pessoas presentes.

Quando cheguei ao grande salão, estava quase toda a gente morta, incluindo o Stoico. Lá estava Gosmento à frente do corpo do irmão com todo o prazer do mundo.

Eu corri para fora do estabelecimento para saber onde estava a Valka e as crianças. Se bem me lembro, a casa deles ficava bem ao lado do grande salão.

Eu corri até lá e olhei pela janela. Observei Valka a escrever uma carta nervosa. Ao seu lado, estava um homem com um manto no qual não percebi quem era. Ele tinha as crianças.

Valka entregou-lhe a carta e ele fugiu pelas traseiras com as crianças. Entretanto, visualizei o Gosmento a chegar à casa do Stoico.

Eu estava tão chocado com o que acontecia que eu nem sequer me movia. Só vi o Gosmento a entrar em casa e a deglutar a Valka.

Ai deu-me um grande desgosto. O que me apetecia naquele momento era matar o Gosmento, mas lembrei-me do que o meu pai dizia quando eu era novo "a vingança não resulta em nada. A dor irá permanecer".

Então eu fui-me embora e voltei para a ilha dos exilados de barco, enquanto via a casa dos Haddock a ser queimada.

Sinto-me culpado por não ter feito nada.

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