13 - UM TEATRO REAL

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Noah Urrea

Any ainda fala pouco, mas já a sinto diferente e mais disposta. Ela está mais leve, como se um peso tivesse sido retirado de suas costas. É até curioso, nem parece que é a mesma Any do jantar e do casamento.

— Então, amigos? — pergunto.

— Amigos! — ela responde.

[...]

Três semanas se passaram desde a cerimônia. Nesse tempo, ficamos em casa. Às vezes, eu trabalhava pelo computador e ela, usava o tempo para estudar. À noite, víamos filmes e séries. Fiquei intrigado com o gosto peculiar dela por desenhos animados.

Também dispensei todos os funcionários da casa nessas semanas, não quero que acompanhem esse tempo de adaptação. Precisamos que acreditem que estamos fazendo o que eu gostaria mesmo de estar fazendo, fodendo como loucos.

A gente se aproximou bastante nesse período, aos poucos, eu estou conquistando sua confiança. Assumo que não tem sido uma tarefa fácil... ela tem seus motivos para não confiar em mim e eu sempre tive ciência disso. Any tem se revelado uma companhia agradável, mas ela ainda mantém uma distância segura.

Outra coisa que temos evitado, são os telefonemas. Atendemos as ligações. Mas sempre somos diretos e rápidos. Ela não é muito boa com mentiras.

A cama, quase não usamos. Como ficamos até mais tarde na sala de TV, dormimos ali no sofá mesmo. Perto dela, me sinto um adolescente de novo, e eu gosto dessa sensação leve e descontraída de liberdade que ela me traz.

— Como você pôde não chorar na morte de Mufasa? — ela pergunta seriamente.

— Eu gostava mais do Scar! — respondo e ela me olha incrédula.

— Você tem problemas! — ela diz e sorri.

Essa sim é a Any que eu conheci quando era jovem. Sorriso no rosto, descontraída e divertida.

— Então, o que veremos agora? — pergunta.

— Veremos o quarto, que não vemos a semanas. — digo — Esqueceu que nossa rotina de casal perfeito começa amanhã?

— Droga! — ela diz.

— Só vão ser alguns dias. Depois, eu volto para nossas sessões de filmes. — digo.

— Prometo não assistir as continuações sem você.

— Te devolvo para o seu pai se você fizer isso. — ele diz sério e é engraçado como ele usa esse tom, até mesmo em brincadeiras — Agora vamos dormir!

— Ah não! Só mais um e eu prometo que a gente sobe. O último, para fechar a temporada.

— Tudo bem! Mas depois, a gente vai dormir.

[...]

Acordo com Any me chamando. Já vi que dormimos no sofá, de novo. Ela pede para que me levante, pois Karine já chegou, mas consigo enrolar um pouquinho e dormir mais alguns minutos, enquanto ela sobe e se apronta para a retomada a faculdade. Hoje eu viajo, e provavelmente, só volto em uma semana. Eu gostaria da companhia dela em minhas viagens, mas obviamente, não serei egoísta a tal ponto.

Eu não desisti de Any! Eu de fato, a quero e gostaria que isso desse certo. Não o casamento em si, mas a nossa relação. Eu também sei que ela precisa de tempo para pensar, digerir tudo. Nesse tempo todo, ela enxergou esse casamento como um sacrifício aos seus sonhos e objetivos, isso ficou bem explicito em suas palavras, mas eu não vejo assim.

Quero que ela veja que podemos nos divertir, mesmo que não haja sentimentos afetivos em jogo. Sexo casual, coisa normal.

Nunca fiquei tanto tempo sem sexo desde que perdi minha virgindade a muito tempo atrás. É uma sensação estranha e estressante, assumo. Ah, se a minha esposa fosse mais flexível... não sou nenhum maníaco sexual, mas tenho um apetite grande e saudável. Quem não gosta de sexo, não é mesmo? Minha imaginação tem trabalhado bastante nesses últimos tempos.

E só de falar, minha mente já começa a trabalhar, mas os espantos... eu só a darei tempo! Tenho certeza que não tardará para terminarmos o que começamos na primeira noite.

— Ei. Já se passou bem mais que dez minutos. — ela diz se agachando e eu a sorrio, ainda de olhos fechados.

— Ok. — digo e me levanto rapidamente e ela se desequilibra, caindo para trás. — Você é muito desastrada! — digo e lhe ofereço a mão e ela pega, fazendo uma careta, porque caiu sentada — Vai acabar se machucando seriamente.

— Já estou acostumada. — diz — Agora vá se trocar.

Subo para o quarto e me preparo rapidamente, assim que desço, a vejo sentada no sofá com o notebook na mão. Ela usa uma calça jeans preta, assim como as botas e a blusa fina de mangas longas que usa. Seus cabelos estão soltos e uma maquiagem leve está em seu rosto, fora o batom vermelho escuro, que desenha seus lábios... que vontade de tirá-lo com a língua.

— Estava me esperando? — pergunto e ela coloca o notebook no sofá e se levanta.

— Estava! — responde.

— Pronta? — pergunto.

— Pronta! — ela diz e vamos até a cozinha. Karine nos serve e conversamos um pouco. Como um pouco mais rápido que o normal, pois já estou atrasado para o voo — Está uma delícia, Karine! — Any diz. Ela é sempre muito gentil.

— Obrigada, Senhora! Vejo que está feliz. Essas semanas lhe fizeram bem. — Sinto o duplo sentido na frase, mas Any, não. Se tivesse notado, estaria vermelha, agora. Eu tenho a observado bastante nos últimos dias.

— Eu tenho que ir! Já estou atrasado. — digo — Sebastian estará a sua disposição 24h por dia. Mas se surgir qualquer problema, me ligue na hora... e não se esqueça do que você me prometeu. — aproximo minha boca do seu ouvido e sussurro — Não assista sem mim... e, convença Karine.

— Claro! — sorri — Ligarei todos os dias. Boa viajem!

Dou um beijo em sua testa e vejo que Karine nos observa atentamente.

Me retiro e entro no carro. Esses dias serão longos!

Perdendo-me Em Ti | NoanyOnde histórias criam vida. Descubra agora