Capítulo 3

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Kesara acordou quando o sol nasceu, tomou um banho gelado demorado na banheira e em seguida voltou para o seu quarto.

Do seu guarda roupa tirou calças marrons escuras justas, uma túnica branca, um sobretudo de couro preto com capuz. Vestiu as peças e depois calçou um par de botas nos pés, o cabelo preso em um rabo de cavalo alto.

Seus passos ecoaram pelo apartamento, ela escreveu um pequeno recado para o príncipe que continuava dormindo, pegou sua bolsa de couro, adagas e uma maçã.

Durante o caminho, Kesara desviou de alguns guardas e comeu sua maçã o mais rápido possível. O calor de Solaris já começava a aparecer e um pouco de suor escorreu de suas costas.

O prédio do senhor Quinhill era um prédio simples, com três andares e fachada meio escondida. Os dois homens que ficavam na porta logo deixaram Kesara entrar no local.

A garota parou na recepção, uma das mulheres parou de anotar em seu bloco de notas e olhou Kesara.

- Vim receber meu pagamento do senhor Dennes.

- Kesara Blackheart?- a garota assentiu.- Assine aqui por favor.- a mulher diz estendendo um papel e uma pena com tinta, depois de assinar, Kesara ficou esperando a mulher voltar e observou o jornal de um homem sentado.

" Rei Hevar, de Lunare, foi declarado morto. Será uma possível declaração de guerra?"

- Com licença.- Kesara diz ajeitando seu capuz do rosto e o homem a olhou.- Essa notícia é de hoje?

- Sim, saiu hoje de manhã.

- Aqui está, senhorita Blackheart.- a mulher entregou dois sacos pequenos, Kesara abriu e viu que eram moedas de ouro e prata.

- Obrigada.- a garota guardou os sacos na bolsa e saiu do prédio.

"O príncipe de Lunare estava na sua casa, machucado e disse que muitas coisas tinham acontecido. O rei de Lunare foi declarado morto, será que Leecan tinha alguma coisa haver com isso?"

Essa pergunta martelava na cabeça de Kesara, a garota antes de voltar para casa, passou na feira do reino para comprar alguns legumes, verduras e doces para alimentar ela e o príncipe.

Kesara voltou para seu apartamento uma hora depois do meio dia e encontrou o príncipe sentado no sofá lendo um dos livros da estante de Kesara.

- Bom dia.- o garoto diz fechando o livro e colocando ele de lado. Kesara fechou a porta e colocou as sacolas de compras na arquibancada da cozinha.

- Bom dia, vou fazer o almoço e depois temos que conversar.- Kesara diz colocando a bolsa em cima da mesa, o príncipe parecia ter ficado tenso com a menção de uma conversa.

Kesara abriu a janela da cozinha que dava para uma floresta na esperança de vir alguma brisa, mas apenas vinha um vento quente. A garota tirou o sobretudo colocando em uma cadeira, puxou as mangas da túnica até o cotovelo e refez o rabo de cavalo.

Enquanto isso, ela não tinha percebido que o príncipe começava a guardar as compras.

- Eu posso fazer isso...

- Eu quero ajudar.- a garota não disse mais nada, passou do seu lado e pegou uma faca começando a cortar alguns legumes.

Enquanto cortava ela sentiu uma brisa gelada na espinha que fez o calor ir embora, ela olhou para o príncipe que a olhava.

- Esqueci que seu reino tem poderes de gelo.

- Não sabia que Solaris era tão calor.

- Mas de noite tem chuva, o que melhora um pouco o clima.- o príncipe parou do seu lado.- Sabe cozinhar?- Lee negou.- Então, coloque água naquela panela e aquele tempero na água.

O príncipe fez, Kesara viu que ele andava sem dificuldades e seu rosto antes pálido agora tomava uma cor branca novamente. Kesara estalou os dedos e o fogo ascendeu embaixo da panela.

- São cortes perfeitos.- Lee diz vendo os legumes cortados, Kesara o olhou e brincou com a faca entre os dedos.

- Anos de prática.- Kesara jogou os legumes na panela enquanto Lee mexia.- Já cozinhou alguma fez no palácio?

- Tentei, mas os criados me pegaram e contaram para minha mãe. Fiquei de castigo por uma semana.- Kesara riu pelo exageiro.- Você não treina os seus poderes?

- Não gosto deles, nunca usei eles em grande quantidade.

- Por que você não gosta deles?- Kesara largou a faca na pia.

- É uma longa história.- os dois cozinharam em silêncio.

Os dois iam almoçar curry com pão folha que Kesara tinha comprado.

- Onde você aprendeu a cozinhar?

- O meu amigo que morava aqui me ensinou.

- Ele...

- Achou o Calanmar dele e se mudou para a casa do garoto no centro. Largou a vida de assassino.- o príncipe assentiu e os dois ficaram em silêncio.

Calanmar era duas pessoas compatíveis e com os poderes unidos poderiam ser invencíveis, não eram raros mas alguns recusavam o laço.

- Leecan, seu pai for declarado morto. Você tem alguma coisa haver com isso? Ou sabe o que aconteceu?- o príncipe parou de comer e olhou para a garota.

- Eu...eu que matei meu pai.

- O que?- Kesara abaixou sua colher e olhou surpresa para o príncipe.

- A rainha Avina, ela queria que eu me casasse com ela para unir Lunare e Tenebris, mas é óbvio que eu e os meus pais dissemos não.

Tenebris, reino das trevas, reino onde abriga escuridão e renegados. Poderoso demais sozinho e nunca se meteu nas discussões entre Solaris e Lunare, mas sempre quis o poder de ambos.

- A algumas semanas, nós recebemos algumas joias como um pedido de desculpas da rainha, eu não sou de usar joias além da coroa, mas meus pais usaram elas. Foi quando eles começaram a ter comportamentos estranhos, não me davam atenção, os olhares eram vazios e estavam mais...agressivos.- o príncipe explicava com o olhar melancólico, como se doesse se lembrar.- Em um jantar, eles disseram que estavam pensando em aceitar a proposta da rainha, meus pais de verdade nunca iriam aceitar nada daquele reino. Eu me revoltei na mesa, os dois gritaram comigo e foi quando meu pai...

- O que?

- Meu pai pegou na minha mão e por alguns segundos eu vi os olhos dele sem o vazio, ele falou "me mate e acabe com essa tortura". Ele apontou para o anel preto que usava, o presente da rainha, não vi minhas ações e com a faca de jantar matei ele, ele sorriu de alívio e caiu no chão.

- Lee...

- Minha mãe ficou com raiva, nem tristeza ou horror, mas raiva. Ela ordenou que os guardas me prendessem, eu escapei usando meu poder, mas acabei me machucando no caminho. Até os guardas que eu confiava, se viraram contra mim.

- Então, você acha que a rainha estava controlando seus pais?

- Já tinha escutado lendas sobre demônios dentro de joias daquele reino, mas nunca pensei que fosse real. Meu pai implorou pela morte, minha mãe ainda está sendo controlada mas por um colar preto com pedras azuis.

- Então a rainha controlou seus pais, para ter sua mão e para ter o reino?

- Acho que sim.- ele levantou com o prato vazio, Kesara com a consciência pesada, levantou também.

- O que você vai fazer?

- Eu tenho que salvar minha mãe de alguma forma, mas eu sou considerado um fugitivo no meu reino, se eu entrar, terei minha cabeça cortada.

- Meus pêsames pelo seu pai.- Lee apenas fungou o nariz e olhou para a pia.

- Obrigada.

- Quer um abraço?- o garoto a olhou e não recusou a oferta, os dois eram quase da mesma altura, Lee era mais alto por poucos centímetros. O garoto colocou os braços envolta dos ombros de Kesara e ela na cintura do príncipe.

Kesara não era carinhosa, mas conhecia a dor de perder alguém que amava.

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