Capítulo 01

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São Paulo, 31 de dezembro de 2018.


Uma fumegante xícara de café foi colocada sobre a mesa de mármore do escritório de Mariana Figueroa. Giulia, a secretária de Mariana, deixou o café ao lado da plaqueta que identificava a profissão e especialidade de sua chefe: Advogada – Especialista em Direito da Família. A executiva abriu um sorriso fraco em direção a Giulia em agradecimento pelo gesto.


- Obrigada.


Giulia sorriu de volta. Sabia que a advogada estava precisando de café. Sua manhã seria difícil. Mariana, para quase todos Mari, era uma renomada profissional da área jurídica. Apesar de ter apenas 29 anos, Mari era muito respeitada pelos colegas de profissão. Ela era uma pessoa dedicada, extrovertida e muito companheira. Devido aos altos índices de separações que intermediava, era conhecida no meio dos advogados como Doutora Divórcio. Apesar do apelido, Mari possuía um relacionamento estável e duradouro com Ângelo Ferreira, seu companheiro há mais de dez anos. Os dois não eram casados no papel e nem na igreja, apenas moravam juntos e estavam felizes assim. A certidão de casamento nunca teve importância para eles.


Embora vivesse uma relação feliz, Mari não via problemas com o apelido de Doutora Divórcio. Ela sabia que muitas paixões e juras de amor eterno poderiam ter prazos de validade. Não era nenhuma desacreditada no amor, mas enxergava o divórcio com naturalidade.Aquela manhã ia finalizar mais um casamento, mas ao contrário da maioria de seus casos, ela não estava satisfeita com sua desenvoltura diante daquele trabalho. Um detalhe a chateava bastante. Mari tinha certeza que suas clientes ainda se amavam e eram perfeitas uma para a outra. Tratava-se de duas de suas melhores amigas, ela as conhecia muito bem. Não se sentia bem em vê-las separadas. Encarava a documentação a sua mesa com um ar acabrunhado. Ainda buscava uma solução para aquele impasse.


- Você também acha que elas não deviam terminar, não é?! – Giulia adivinhou seus pensamentos. Mari sorriu.

- Está tão na cara assim?


Giulia fez um gesto afirmativo.


- Na sua e principalmente na delas. – Mari deu um sorriso curto. – Elas têm certeza?

- Faz três meses que elas estão vivendo casas separadas... A Rafa até levou a maioria das coisas dela para o apê da Ju. – Juliana, além de uma das melhores amigas de Mari, também era sua cunhada, irmã de Ângelo. – Eu acho que é irreversível.- Acha ou é?- Acho...- Então se você acha, é que ainda tem alguma chance da Rafa e a Carol...- Elas são carnes de pescoço, mas eu também não fico atrás não... – E admitiu. - Eu ainda tenho uma carta na manga... – Deu uma olhada em seu relógio de pulso. – Daqui a pouco elas estão aí, assim que elas chegarem...- Eu as mando entrarem, pode deixar!


Giulia pediu licença e foi cuidar de seus afazeres. Mari olhou em volta e seus olhos se prenderam em um porta-retrato que possuía uma foto de seu aniversário de 18 anos. Na época ela ainda usava os cabelos descoloridos e não o castanho natural como havia deixado atualmente. Ela estava acompanhada das amigas, Rafaela Guerrero, ou Rafa, e Carolina Nogueira. Ela no meio, Rafa a sua esquerda e Carolina a sua direita. As três fantasiadas. Mari usava uma fantasia de Princesa Léia dos filmes Star Wars. Carol vestia um macacão vermelho, imitando o uniforme do famoso encanador bigodudo Mário Bros e Rafa se fantasiava com um uniforme parecido, mas no tom verde, fazendo referência ao irmão de Mário, o Luigi. Era engraçado como aquele dia parecia tão próximo e também tão distante. Fez um gesto negativo.

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