Capítulo 34

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O breve vacilo de Carol diante de Rafa na porta do apartamento fez a mais velha pensar que não foi uma boa ideia aparecer daquele jeito. Logo essa primeira impressão se desfez quando Carol abriu um de seus mais largos sorrisos e a acolheu em seus braços exibindo todos os sentimentos de saudosismo que residiam em seu peito, em relação a ex-mulher.


A professora de história aspirou de leve e uma fragrância de frutas vermelhas passeou por seu olfato. Era o hidratante que Carol usava para tratar a pele. Junto do cheiro de morango, amora, uva e mirtillo também havia outra nota. Maresia misturado com dendê. Esse era um aroma típico da orla de Salvador, qualquer ventinho e se espalhava pela cidade. Aquele "cheirinho de Salvador" misturado com o aroma natural de Carol tinha se transformado há anos para Rafa no "cheirinho de lar". "Nada como o cheirinho da casa da gente", Rafa pensou. Carol se desfez do abraço e afastou brevemente para poder avistar melhor a outra garota. Rafa estava com uma aparência ótima. A temporada na Inglaterra lhe fez muito bem. Sorriu.


- Não acredito que você veio...

- Eu não podia deixar de dar o meu presente para a Clarinha. - Carol sorriu. - Uma hora eu tinha que começar a fazer as coisas que você me pede, Carol... Eu estou atrasada, mas eu estou aqui...

- É um bom começo... - Afirmou ainda sorrindo. Estendeu a mão para Rafa. - Vem conhecer a minha casa...


Rafa abriu um sorriso e aceitou o convite.



(...)



Apesar de residirem ali há poucos meses, Rafa logo se deu conta que Carol havia dado, de fato, um lar a Clarinha. O apartamento era muito bonito e quase todo em tons claros. Os móveis puxado para elementos naturais, tudo de tão bom gosto que poderia até sair na capa de revista de decoração, mas ao mesmo tempo não havia a impessoalidade de um cenário de revista. Os brinquedos de Clarinha pelo sofá, o carrinho de bebê encostado no final do corredor e as roupinhas infantis com cheiro de amaciante, recém recolhidas do varal, emboladas sobre a poltrona do quarto da menina davam um ar de rotina e indicavam que uma criança muito bem cuidada e amada morava ali. O tour pelo apartamento se encerrou na cozinha, onde Carol serviu a Rafa os "restos mortais" da festinha de mêsversario de Clarinha. Empadinhas, salgadinhos assados, refrigerante e docinhos.



- Eu vou ficar te devendo cerveja, eu não ando bebendo... Mas se quiser eu posso abrir um vinho...

- Imagina... Festa de criança tem que ser mesmo suco ou refri. - Sorriu. - Adorei sua casa... Vocês parecem que estão muito bem aqui...


- É... Levando... - As duas trocaram um sorriso. - E você... Todo mundo falava que você estava enrolada com a mudança pra Oxford... Eu queria muito que você viesse, mas eu achava impossível...


- Eu não ia vir... - Rafa confessou. - Mas eu tinha que vir ao Brasil tratar de vez da minha demissão e ajeitar toda minha mudança pra lá... - Fitou Carol. - Eu precisava te ver... - As duas se fitaram, trocaram um novo sorriso. - E trazer o presente da Clarinha...

- Só de você estar aqui já nem precisava de comprar nada... Não precisava ter se preocupado...


SeparaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora