Separação

Capítulo 14

O adocicado familiar dos lábios de Rafa fizeram Carol reagir de forma automática. Passado o susto do beijo roubado, a menor entreabriu os lábios permitindo que a língua de Rafa se fundisse a sua. Seu rosto era segurado pela professora de História de maneira carinhosa. Os braços de Carol se entrelaçaram em torno do pescoço da maior e Rafa encaixou o braço em sua cintura formando um abraço perfeito.

Era difícil admitir, mas estava morrendo de saudade da boca, do toque do cheiro e tudo que envolvia beijar sua ex-esposa. Só ela sabia o quanto estava sendo complicado se segurar durante tantos meses. Estar com raiva era diferente de ser indiferente. Carol se afastou de forma suave para respirar e Rafa aproveitou para admirá-la. Amava cada detalhe daquele rosto. Não resistiu e roubou um novo beijo. Esse ainda mais forte que o primeiro. Carol prendeu o lábio inferior de Rafa entre os seus dentes, em um gesto de provocação. Sua mão ia descer mais um pouco pelo corpo da garota até que o ruído de alguém acionando o botão automático para abrir a porta do prédio a fez despertar para realidade.

Aquilo era errado. Extremamente errado. Estava ali para zelar pela sua vida e a vida de terceiros. Escapou por um triz de uma facada e de uma batida policial. Carol a beijou apenas para escapar de Dalila, a mulher ruiva que estava atrás delas para se aproximar de Edu. Precisavam encontrá-lo para se salvar. Havia muita coisa em jogo e estava se levando por um momento de fraqueza. Abruptamente soltou Carolina que a fitou sem entender. O beijo havia sido tão intenso que Rafa assistia o peito de Carol arfar. Sua respiração também estava agitada. O corpo por inteiro, como se tivesse levado um choque elétrico. Era inacreditável como o corpo e a energia de Carol exerciam tanto poder sobre o seu, mesmo depois de todos aqueles anos. Os olhares se cruzaram. Carol parecia ansiosa para ouvir algo.

- Eu... Eu não devia ter feito isso! - Rafa murmurou esfregando o rosto com uma das mãos.

- Que? - Carol questionou sem esconder o desapontamento pela frase que ouviu. A mais velha estava tão agitada, com a cabeça tão mexida que não percebeu o ar de decepção vindo de Carol. Rafa enfim tirou a mão do rosto. Repetiu.

- Isso não devia ter acontecido, foi um erro, um vacilo... - E então Rafa soltou sem pensar. - A culpa foi sua...

Carol arregalou os olhos.

- Minha?

- Você tinha que ter me beijado daquele jeito? - Rafa questionou. - Eu fiquei com a cabeça atrapalhada!

A confusão e decepção de Carol deram lugar a raiva. Sua revolta com Rafa era tão grande que tinha vontade de esquecer qualquer civilidade e arrastar a cara da outra no chão. Rafa falava de um modo como se Carol tivesse planejado tudo. A ficha de Rafa passou a cair e se deu conta da grande injustiça que estava cometendo tarde demais. Carol estava furiosa. Seu cenho apertado, suas narinas abertas e o tom de pele rubro denunciavam seu estado de irá. Rafa tinha arranjado mais um belo problema para lidar.

- Cá, desc...

- Vai a merda, Rafaela! Vai a merda! Carol deslocou Rafa do lugar que estava e passou a caminhar furiosa rumo a estação de metrô. Rafa tinha que apertar o passo para alcançá-la. De todo jeito tentava dissolver a raiva que a outra garota agora sentia. Havia sido muito cretina em acusá-la.

- Desculpa, Cá...

- Eu não quero ouvir a porra da sua voz... Sai de perto de mim!

- Cacá, me escuta!