Capítulo 27

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Rafaela fitou os dois. Apesar de sua memória estar quase intacta, a cabeça continuava muito confusa e dolorida. A fumaça ainda vinha do galpão e não ajudava em nada. Olhou de soslaio e viu o caminhão de bombeiros empenhado em apagar o fogo que consumia a construção de madeira.


Seu corpo ardia um pouco, o tornozelo latejava, mas Rafa acreditava que o pior havia passado para ela. Apertou o olhos tentando se lembrar de como saiu do galpão, mas ao chegar nessa parte sua memória começava a falhar. Branco total. Os dois socorristas logo identificaram a confusão que estava na mente da professora de História. Barbara tratou de esclarecer tudo.


- Qual é a última coisa que você se lembra, Rafaela?

- Minha cabeça doendo... Eu fui tentar andar e tropecei e cai. - Rafa afirmou. - Onde está o Edu? Acho que atiraram nele...


Barbara e Plínio, o socorrista que atendia Rafa se entreolharam. O rapaz achou de tomar a palavra e começou a se explicar.



- Rafaela, alguns minutos antes do fogo começar, você chegou a pedir um carro por aplicativo, não pediu?



Rafa não tinha o porquê mentir. Confirmou.



- O carro estava demorando por causa do Ano Novo... Por quê?


- Porque foi o motorista do carro que salvou sua vida. Ele chegou alguns minutos depois do início do incêndio... Quando ele viu o fogo, ele desceu preocupado para ver o que estava acontecendo e te viu pela janela do galpão... Você está desacordada.


Tudo foi muito rápido. Pouco tempo depois de Rafa cair no chão desacordada, um Onix vermelho parou em frente ao galpão. O motorista não viu ninguém. Estacionou e mandou uma mensagem para Rafa. Enquanto aguardava a cliente responder, o motorista resolveu descer para se aliviar. Há horas estava esperando uma brecha para tirar água do joelho e com a correria da noite de ano novo não conseguia uma pausa.


Como a rua estava deserta e sua cliente ainda não havia dado sinal de vida, o motorista encostou em uma mureta e abriu a calça para fazer xixi. Estava prestes a descer a cueca quando sentiu o calor e viu as labaredas na entrada do galpão. Preocupado, ele deu uma espiada pela janela.


- Cacete!


Sem pensar duas vezes, o motorista esqueceu de suas necessidades fisiológicas e ligou para os bombeiros. Enquanto passava os dados sobre o incêndio, o motorista observou duas pernas estiradas no chão. Alguém estava preso ali. Se não agisse rápido o incêndio teria ao menos uma vítima fatal.


Em um gesto instintivo, o homem voltou ao carro, pegou uma coberta no porta malas que havia comprado para dar de presente a sua mãe no final do ano e conseguiu apagar parte das chamas com o pedaço de pano. Atravessou a porta, correu até o corpo e verificou que era uma mulher e estava desacordada. Por sorte ele era forte. Pegou a garota no colo e correu com ela em seus braços até o lado de fora. Colocou a garota no chão. Olhou para seu rosto e a identificou. Era sua cliente. Aproximou os dedos do nariz da professora. Felizmente respirava. Deu uns tapinhas de leve em seu rosto para tentar despertá-la.

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