Capítulo 07

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As explosões que estouravam na tela do cinema não chegavam nem perto da ação que ocorria nos corpos de Rafa e Carol. Os clichês românticos comparavam que um beijo apaixonado trazia as mesmas consequências de levar um choque elétrico. O que ocorria no organismo e na cabeça das garotas era quase um curto circuito. Uma espécie de revolução.


O beijo, inicialmente reservado, tomou ares intensos. Finalmente elas davam vazão ao desejo de meses que estava disfarçado de amizade. Ao sentir que a amiga não queria fugir dela, Rafa capturou os lábios de Carol e lentamente começou a explorá-la com sua boca. As línguas pareciam se derreter a cada encontro, sua mão se fechou sobre a cintura da menina fazendo com que Carol deixasse escapar um abafado alarido de prazer. O sabor adocicado, a temperatura morna, a umidade e principalmente o vigor inserido por Rafa no beijo a tiravam do sério. Ao ouvir a garota lamuriar, Rafa sentiu-se estímulada para continuar e em pouco tempo Carol a beijava de volta com a mesma intensidade. As bocas não queriam se desgrudar, mas o fôlego começou a fazer falta e entre estalinhos se separaram.


Ao se afastar de Rafa, Carol percebeu o "estrago" que havia feito. O cabelo da mais velha estava todo revirado por conta de seus dedos que tentavam amortizar a energia nos fios escuros. Na boca da garota havia resquícios de seu batom. A mais velha, por sua vez, sentia seu coração bater descompassado e acreditava que sua respiração poderia ser ouvida pelas fileiras mais próximas. Rafa deu graças a Deus de ter operado da miopia e agora não precisava tanto dos óculos. Eles estariam tortos em seu rosto naquele momento. Carol era querosene e ela estava puro fogo depois daquele beijo. Sua vontade era esquecer do filme, das pessoas e voltar a provar do sabor da garota, perguntar a Carol onde ela tinha aprendido a beijar tão bem e elogiar sua boca macia e gostosa, mas o medo da rejeição e a timidez a segurava.


Os olhos de Carol não desgrudavam do filme. Primeiro Rafa acreditou que ela não havia gostado do beijo, mas descartou aquela hipótese quando percebeu um leve tremor nos dedos da garota branca que estavam pousados sobre sua própria perna. Carol estava nervosa assim como ela. Deixando suas inseguranças de lado, Rafa, sem tirar os olhos da tela, levou sua mão até a menor e cobriu a mão dela com a sua. Sentiu a mão de Carol tencionar e acreditou que ela não queria aquele contato, mas logo relaxou pois quando tentou se afastar, Carol acolheu sua mão e deixou sobre sua perna.


A tensão apenas se desfez quando Rafa fez um carinho em sua coxa como se quisesse lhe tranquilizar. Foi então que a menor teve coragem de lhe encarar e percebeu sua insegurança. Em um gesto decidido, Carol se inclinou pra frente e carimbou os lábios da outra em um beijo suave e doce que lhe trouxe uma paz que nunca havia experimentado. Rafa ainda estava de olhos fechados quando Carol afastou sua boca e ao abrir os olhos deparou com um sorriso terno da garota. Sorriu de volta, Carol deitou a cabeça em seu ombro e voltaram a assistir o filme de mãos entrelaçadas.



- CAROLINA!



Rafa teve que gritar para ser ouvida. Por um instante emergiu em seus pensamentos e esqueceu onde estava e fazendo o que. Se não fosse Rafa lhe chamar ficaria parada sobre a moto. Sem graça, saltou e Rafa também desmontou da moto. Pararam alguns metros adiante do parque. Rafa não achava seguro pararem em frente ao local que iriam entrar. Se alguém reconhecesse a moto? Carol, que reclamava muito quando tinha que andar, permaneceu quieta, para estranhamento de Rafa.

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