Capítulo 03

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- Você é irresponsável! Maluca! – Carol acusava a ex-esposa. – E eu mais ainda... Isso tem tudo para dar errado. Uma coisa que envolve Edu, Siri e você...


- Que parte você não entendeu do "eu vou sozinha, não precisa ir comigo...", Carolina? – Rafa rebateu. – Que saco!
- E eu deixo você sozinha pra todo mundo sair falando mal de mim? Nem morta!



Após se despedirem de Siri e Diana que ficariam escondidos no apartamento vazio de uma amiga da cabeleireira, Rafa e Carol seguiram pela estação da Sé. Antes de começarem a peregrinação atrás das antigas namoradas de Edu, o ex-casal tinha uma missão importante. Siri lembrou que no mesmo dia que Edu lhe deixou a agenda, ele também deixou outro objeto que estava dentro da agenda. Tratava-se da chave de uma garagem que ficava na Zona Leste de São Paulo. Ele tinha alugado o local por alguns meses e tinha dito a Siri que em caso de emergência era pra ele ir até o local e retirar suas coisas de lá. O surfista perguntou ao irmão o que ele havia guardado.



- Relaxa... Não é droga e nem nada ilegal...


Mais aliviado, Siri concordou em guardar a chave. A emergência que Edu previu parecia ter chegado e Siri orientou a irmã e a ex-cunhada sobre as ordens de Edu. Inicialmente elas pensaram em não ir para ganhar tempo, mas Diana levantou uma questão importante.


- E se vocês chegarem lá e tiverem alguma coisa sobre a policial que estava fechada com ele? – A cabeleireira observou. – Pelo pouco que eu sei do Edu, ele não é burro... Ele não iria esconder drogas pra emergência... Pode ser uma pista.


As mulheres acabaram dando razão a Diana e resolveram ir até o local que Siri havia indicado. De metrô, para irritação de Carol. Ela insistiu, mas não conseguiu convencer Rafa a usarem o carro. A professora de História acreditava que poderiam ser seguidas e localizadas facilmente se usassem um veículo pessoal.


- Só quero ver como a gente vai fazer para rodar essa cidade toda sem carro... – Carol disse enquanto entrava na fila para passar pelas roletas do metrô...

Rafa retirou sua carteira de documentos do bolso e fez as devidas apresentações.



- Carolina, bilhete único... – Abriu a roleta para a outra. - Bilhete único, Carolina... – Fez um gesto exagerado dando passagem a ex-esposa. – As privilegiadas primeiro...



Aborrecida e com um bico na cara, Carol passou com raiva pela roleta. Rafa, com um sorriso torto, seguiu logo atrás. Sabia que tinha cutucado a ferida de Carol. A garota era de uma família endinheirada sim, mas Carol estava bem distante de ser uma patricinha fútil que nunca andou de transporte coletivo e não conhecia outras realidades que não fosse a sua. Muito contrário disso. Empatia era praticamente o sobrenome de Carol e era um dos motivos que fez Rafa se apaixonar por ela. Apenas quando queria irritá-la insinuava que ela era patricinha. E pela cara de Carol, Rafa atingiu seu objetivo. Estava irritada.


Enquanto esperavam a chegada do metrô, as duas permaneceram mudas. Rafa pensou em se desculpar com Carol por chamá-la de privilegiada, mas desistiu ao perceber o quanto ela estava emergida em seus pensamentos. Com certeza ela estava preocupada com Edu. Carol podia dizer que não se importava com o irmão, que não estava nem aí, mas Rafa sabia que tudo que ela falava era da boca para fora. Deixava a revolta por Edu ter escolhido um caminho cheio de falhas falar mais alto para se sentir aliviada, mas tudo que ela queria era que o irmão saísse daquela encrenca vivo.


Carol também devia estar preocupada com a segurança de Diana e Siri. As divagações de Rafa foram interrompidas pelo metrô se aproximando. Lotado. Embarcaram no vagão e ficaram espremidas por duas estações. No Brás, o vagão esvaziou um pouco e até surgiu um lugar próximo das duas. Carol estendeu a mão oferecendo a Rafa que educadamente rejeitou e ofereceu de volta a ela. A jornalista insistiu que Rafa ficasse com o lugar até que alguém impaciente acotovelou Carol e ocupou o lugar. Carol se virou para ver quem era, o metrô deu partida e a deslocou de lugar. Se agarrou na primeira coisa na sua frente e após segundos viu que a primeira coisa na sua frente era Rafa. Rafa era alguns centímetros maior que Carol. Para não deixá-la cair, a professora a abraçou pela cintura. Ao se darem conta do acontecido, as duas ficaram sem saber onde enfiar a cara, Rafa afrouxou o braço permitindo que Carol se desvencilhasse dela.

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