Capítulo 13 - O último favor
Sábado finalmente havia chegado. Eli veio de manhã, bem cedo, acompanhado da rainha Solange. Ambos estavam vestidos de verde, a cor favorita de Aurora. Trouxeram mais livros, frutas e o pássaro prometido. Cinderela ficou entusiasmada com as laranjas. Sua mãe adorava o cheiro e o gosto cítrico. Ao comer da fruta, lembrava-se de doces momentos com sua família, sua antiga família.
- Muito obrigada pelas laranjas, Vossa Majestade.
- Eu fico feliz em vê-la sorrindo.
A menina corou. Tiveram aulas de cálculos, filosofia, música, etiqueta, e o favorito de Aurora: arco e flecha. Durante a aula de piano Eli se sentou no banco junto a Estela. Suas mãos estavam inchadas do trabalho, as unhas quebradiças e a pele, seca, áspera. Cochichou em seu ouvido:
- O que acha de receber um par de luvas brancas e outro, de cor preta? Poderá usar nos eventos. Você e suas irmãs vão gostar. Estou certo?
- Sempre! - Estela sorriu, alegre por suas irmãs de criação poderem cobrir os cortes e queimaduras, principalmente Aurora. A princesa se sentia um tanto culpada por suas feridas passarem para a prima, e fazê-la sentir uma dor que deveria ser só sua.
- E onde está Aurora? - A rainha Solange interrompeu.
- Não sei.
- Ela não tem muito tempo para aprender, só hoje, precisa estar aqui. Vou buscá-la.
***
- Sabe que só posso te ver às quintas-feiras. - Aurora repreendeu seu melhor amigo.
- Não acredito que vim de tão longe para você me expulsar.
- Tão longe? O Reino dos Conversadores é logo ao lado.
- Mas foi tão difícil de chegar aqui!
- Vai me arranjar problemas, Felipe.
- Você sempre me arranjou problemas e eu continuamente dei um jeito.
- Seu pai não é um bruxo. Está tudo pior do que antes, mas ao menos tenho a Estela. Também conto com a Cinderela, eu acho.
- E comigo.
Aurora sorriu. Num impulso, deu um abraço em Felipe. Sentia muita saudade do tempo em que ficavam juntos. Poucas pessoas demonstravam afeto por ela e ele era uma delas. O coração do menino disparou num ritmo frenético. Reparou nos cabelos de Aurora que dançavam com o vento, e no seu olhar meigo e agradecido. Sentiu-se perdido em detalhes que nunca antes havia notado. Essa distância entre eles o deixava de mau humor,o fato de não poder vê-la todos os dias o irritava.
- Aurora! - a rainha gritava, chamando pela neta.
- Corre, Felipe.
- Eu vou, mas volto.
- Vai, rápido!
- Aurora, onde você está?
A mestiça caminhou a passos largos em direção ao castelo, atuando com inocência e destreza.
- Mas onde é que você estava?
- No bosque.
- Fazendo o que com quem? - Solange já desconfiava.
- Estava apenas sonhando com a minha vida antiga.
- Por favor, me acompanhe, sabe que não temos muito tempo.
- Sim, Vossa Alteza.
- Quero transmitir meus cumprimentos, pois está se tornando uma excelente arqueira.
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O Conto dos Contos - A origem dos contos de fadas
FantasyAurora é temida pelas fadas, odiada pelos conversadores, vigiada pelas bruxas e um mito entre os humanos. Seu mundo é dividido entre ambição e inocência. A guardiã do Reino Encantado precisa escolher entre ser uma bruxa como sua avó Malévola, ou seg...