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Ela espiava, escondida, aguardando o momento certo para se manifestar. Suas botas pretas afundavam na terra macia, e com as mãos de unhas vermelhas como o sangue, espantava borboletas inconvenientes, enquanto respirava o forte cheiro de rosas. Sem ser convidada, e por bons motivos, sentia-se triunfante por saber como terminaria aquela festa tediosa. O grande dia que tanto esperava finalmente havia chegado – ao menos um deles. Era um indício de que seus planos malignos não iriam falhar.
Todos no Reino Encantado comemoravam. A música era um misto de sons de flautas e do elegante piano de madrepérola dado pelo rei Lúcio - do Reino dos Humanos - à sogra, a rainha Solange, dirigente dos fadens. Ele parecia sereno ao depositar Branca de Neve no segundo berço exposto ao povo, enquanto a esposa, Sofia, acariciava o irmão gêmeo da menina, Henrique.
Havia um verdadeiro banquete sobre as três longas mesas de madeira com toalhas de seda, que mais pareciam uma cerca em forma de "u" devido a seu comprimento exagerado. A abundância de comida, a decoração cintilante e a grande agitação eram resultado da celebração do nascimento dos netos da rainha Solange: Branca, Henrique, Aurora e Estela. Claro que não nasceram todos no mesmo dia, mas em datas próximas. Contudo, não era apenas a vida deles que era festejada. O cetro da rainha havia indicado que era chegada a hora de selecionar seu herdeiro, e como os fadens costumam viver por muito tempo, seus reis passam a coroa para a terceira geração. Em um dos quatro berços estava o futuro líder dos fadens.
Todos pareciam contentes, menos a rainha Solange. Assim como a bruxa escondida, sabia que o destino de todos seria traçado naquele momento, com a escolha de seu sucessor. Temia pelo pior, pois desde a gravidez de suas filhas, Sofia, Anabel, e Marisol, os bruxos estavam à espreita. Isso porque tanto o dia da sucessão da coroa quanto o aniversário de um fadem da nobreza se tornavam um dia de passagem, permitindo a livre entrada de qualquer pessoa ligada à criança. Dentre os netos da rainha dos fadens havia a filha de um bruxo e isso rompia as barreiras entre bruxas e fadas, permitindo que as forças inimigas fossem além das fronteiras.
– Peço a atenção de todos, por favor, a rainha Solange vai falar – disse Eli, braço direito da rainha, logo antes dela se pronunciar.
A majestosa senhora sorriu discretamente em forma de agradecimento e começou a falar:
– Nesse momento eu saúdo a todas as fadas e todos os fadens do Reino Encantado. Quero agradecer a presença de cada um de vocês. Hoje é um dia muito especial, no qual celebro a vida do meu único neto e das minhas três queridas netas. Como já é conhecido da nossa tradição, o trono irá para um descendente da terceira geração. Será escolhido aquele que usará a coroa em meu lugar, quando eu não puder mais servi-los. Cada criança, como de costume, receberá de sua madrinha dois dons, um, por sua escolha, e outro, revelado pela semente ou flor-casulo que brotou junto ao bebê. Aquele cujo cetro acender sobre sua cabeça me substituirá.
As madrinhas eram sorteadas no dia do nascimento das crianças e tinham a importante função de desvendar o dom de nascimento e conceder um dom não mágico.
A rainha chegou bem perto de Henrique, um bebê tão lindo quanto sua irmã, com tufos de cabelo preto como o ébano e olhos azuis turquesa travessos. Ela passou o cetro por cima dele e nada aconteceu. Prosseguiu com o rito, chamando a fada indicada para ser madrinha do pequenino.
– Que se aproxime a madrinha.
Uma senhora vestida de azul se aproximou e disse:
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O Conto dos Contos - A origem dos contos de fadas
FantasyAurora é temida pelas fadas, odiada pelos conversadores, vigiada pelas bruxas e um mito entre os humanos. Seu mundo é dividido entre ambição e inocência. A guardiã do Reino Encantado precisa escolher entre ser uma bruxa como sua avó Malévola, ou seg...