Capítulo 42 - Arte da sedução

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Capítulo 42 - Arte da sedução

          Malévola aproximou-se silenciosamente de Anco e com um simples "olá" pregou-lhe um susto não intencional. O ogro acabou ficando todo sujo de grãos, da cabeça às garras, e a bruxa divertiu-se com a situação. Ele tratou de se recompor e cumprimentar devidamente sua rainha querida.

- Vossa Majestade impecavilhosa! – Ele a reverenciou de forma que alguns grãos que estavam em sua testa caíram.

- Alimentando meu pássaro?

- Sim, sim, Majestade.

          A bruxa admirou o lindo animal enjaulado numa gaiola de ouro. Não havia nenhum outro propósito para a gaiola ser de ouro a não ser a ostentação. Malévola gostava de demonstrar o quanto era poderosa e rica.

- Jamais abra a grade, eu sou a única que pode abrir, entendeu?

- Não, senhorita. Quer dizer, sim senhorita, eu não vou abrir.

          O ogro deu uns tapas no ouvido para ver se tirava a semente de girassol que estava incomodando-o. Já a tenebrosa mulher, a mais terrível dentre as terríveis, encarava a ave como mais uma de suas conquistas. Apagar a mente de Vigia e de Trovão havia sido fácil, tanto quanto a do pássaro de Aurora, mas desfazer-se de um animal tão inteligente, treinado para ser um mensageiro, seria tolice. Poderia ser útil futuramente em suas negociações e acordos. Afinal, a ave voava para qualquer reino, sem restrições, e não se desviava, obedecendo a quem a enviava. E Malévola nunca matava, tampouco deixava para trás aquilo que lhe era útil.

- Vossa Majestade, quase me esqueci!

- O que houve, Anco? – ela perguntou sem muito interesse.

- Um rapaz imponente deixou esses papeis para a senhorita. Ele não quis entrar, nem se identificar, estava encapuzado, mas deu para notar que era jovem e de boa aparência.

          Anco tratou de andar morosamente e abaixou-se com dificuldade, segurando as folhas com suas garras. Malévola tomou bruscamente os papéis e ao verificar que era um contrato, sorriu um sorriso vitorioso.

- Ele aceitou.

***

          Uma criada muito simpática e sorridente foi até a sala privativa onde a rainha Joana e a condessa Cinderela conversavam. O assunto continuava sendo o casamento e o vestido estava na confecção. Cindia havia escolhido um tecido branco de algodão com detalhes bordados em azul. Pedras preciosas em tons esverdeados, azulados e furta-cor completariam a beleza da peça. Quando elas estavam por definir o cardápio por completo, ouviram as batinas na porta, e após o devido consentimento, a mesma abriu-se.

- Vossa Majestade, perdão por interromper, mas há uma visita para a senhorita Cinderela.

- Para mim? Mas quem poderia ser? A Branca?

- Oh, não é a princesa Branca de Neve. Mas é uma moça, disse que se chama Estela e que... – a criada não conseguiu concluir devido ao rompante de Cinderela.

- Estela?! Preciso vê-la!

       Tanto a rainha quanto a moça à porta ficaram espantadas com o desespero e a ansiedade da condessa.

- É a sua irmã boa? – a rainha quis saber.

       Cindia encarou a rainha com pesar. Não havia irmãs malvadas, detestava a imagem que os alternadores tinham de Aurora. E tudo por sua culpa, graças a suas mentiras.

- Ela é muito boa, sim – Cindia respondeu.

        A noiva aflita tratou de acelerar os passos e ao chegar ao salão principal sentiu o coração disparar. Posicionou a mão sobre o peito como se pudesse conter o nervosismo e acalmar-se. Queria ver suas duas irmãs, mas precisava contentar-se com apenas uma. Cinderela, assim que avistou Estela, tratou de analisar o rosto da princesa a fim de verificar se havia raiva, decepção ou algum outro tipo de insatisfação em evidência. Só que Estela era Estela, e em seus olhos havia apenas bondade e compaixão. Não era à toa que havia sido a escolhida para reinar sobre os fadens.

O Conto dos Contos - A origem dos contos de fadasOnde histórias criam vida. Descubra agora