Capítulo 32

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Quando você se torna mãe inesperadamente, você começa a viver uma nova realidade. Isto assusta porque apesar do filho trazer muitas alegrias com a sua chegada, as responsabilidades são enormes e as preocupações então, nem se fala. Você é responsável por tudo. Por cuidar da educação, da alimentação, da saúde do filho, do dinheiro. Você tem que trabalhar para trazer o sustento para a casa, tem que se organizar para ter uma rotina entre casa, trabalho, creche e cuidado com o filho. Além disso tudo, você soma muitas vezes o julgamento da sociedade por ser uma mãe solteira.

A jornada de mãe solteira não é uma tarefa fácil, no início fiquei com muito medo porque não saberia se daria conta sozinha. Mas com o tempo fui me adaptando a situação. Ser mãe aos 18 não foi fácil, mas hoje com 24 anos de idade, vejo o quanto eu amadureci. Morei no abrigo até o primeiro ano do Vitor. Depois disso, conquistei o meu próprio cantinho. Na verdade, aluguei um apartamento, em uma pequena comunidade de apartamentos pequenos aqui mesmo em Mangaratiba. É um apartamento bem simples e temos o essencial que pudemos comprar, mas o que não falta é amor.

Para mim aqui é ótimo! É um lugar bem tranquilo de se morar. É bom porque consigo equilibrar o meu trabalho, com a escola do Vitor. Falando no Vitor, hoje ele já tem 6 anos. Está tão lindo e tão levado. Parece que a bateria dele não descarrega nunca. Nós somos muito próximos! Somos só nós dois... Ele é meu príncipe, meu tudo, minha vida. Faço tudo por ele e para ele.

Nossa rotina é bem corrida. Acordo todos os dias às 5 da manhã, dou banho no Vitor e arrumo ele para ir para escola. Depois vou para o trabalho, onde eu trabalho como camareira em um hotel. Entro às 7 da manhã no trabalho e saio às 4 da tarde. Depois volto a escola, pego o Vitor por volta das 5 da tarde, vou para casa e enquanto coloco ele para fazer os exercícios da escola, eu faço janta, lavo roupa e limpo a casa.

As vezes quando aperta um pouquinho no trabalho, deixo o Vitor com a minha amiga-irmã que conheci no abrigo, a Andreia. Além de sermos vizinhas, trabalhamos no mesmo lugar. Ela que me ajudou conseguindo um emprego lá. É uma verdadeira irmã para mim.

Ela e o marido dela, são uns amores

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Ela e o marido dela, são uns amores. Poxa fiquei muito feliz por ela, ter seguido em frente e ter se casado de novo. Agora eles estavam tentando ter um bebê. Creio que logo eles vão conseguir. Ela sempre insiste para eu tocar a minha vida também mas a minha prioridade é o Vitor. Eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse ele.

 Enfim...voltando a rotina do meu dia a dia, não é uma tarefa fácil. É uma rotina muito cansativa, mas no final é muito recompensador. Ver o sorriso no rosto do meu filho, foi o que me deu forças para seguir adiante. Todos os dias oro a Deus para que nunca me falte forças para cuidar do meu pequeno. Sei que não é fácil dar conta de tudo, sou uma mãe com muitos defeitos, mas tenho certeza que todos os dias tento fazer o meu melhor.

O que me deixa um pouco angustiada é que como ele está crescendo e entendendo as coisas, agora ele começou a me questionar sobre o pai dele.  Um dia desses,  antes de dormir percebi que ele estava um pouco triste.

- Filho o que você tem? Está triste?

- Tô sim mamãe.

- O que houve? Fala para a mamãe.

- Os meninos da escola, ficaram implicando comigo, porque eu não tenho pai. E amanhã como vai ter fertinha na escola.

- Fertinha, não! Festinha

- Isso, isso... festinha eu não tenho ninguém para levar.

- Ah filho, quer saber, então amanhã se você quiser não vai para escola. Você quer ficar em casa?

- Quelo mamãe.

-Vou deixar você na casa da tia Andreia. Você quer?

- Eba! Quelo. Mas mamãe eu tenho pai?

- Mocinho já está ficando tarde, é hora de dormir. Fecha os olhos.

Isso é uma situação que tento contornar. De um tempo para cá ele sempre me pergunta quem é o pai dele. Eu sempre tento desconversar, mudo de assunto para não conversar isso com ele. Acho que ele é muito novo para saber a verdade. E tem anos que eu não sei nada sobre o pai dele. Na verdade, sei o que escuto na televisão. Sobre os jogos de futebol, das festas e das namoradas, ou sobre alguma confusão que ele estava envolvido. O típico jogador de futebol. Mas enfim, não me interesso mais pela vida dele, quando vejo algo eu sempre troco de canal ou desligo a tv. No início foi muito difícil esquecer, porque sempre via alguma notícia dele na televisão e aquilo me machucava e me dava muita raiva, de tudo que ele fez comigo. Mas com o tempo foi minimizando. Eu não esquecei e acho que nunca vou esquecer a dor e a humilhação que ele me fez passar. Mas tentei concentrar a minha vida só no meu filho e não mais nele.

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