Capítulo 2

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A segunda dificuldade veio, quando a minha mãe morreu e eu fui levada para morar em um abrigo no centro da cidade do Rio de Janeiro. Os primeiros dias foram péssimos, pois além da dor de ter perdido a minha mãe, tinham muitas meninas mais velhas do que eu, que me batiam e puxavam o meu cabelo. Sempre vivia triste pelo canto e tinha dificuldades de me relacionar com as outras crianças. Quase não falava e vivia no meu mundo para aliviar a minha tristeza, solidão e saudades da minha mãe. Eu imaginava uma vida perfeita, onde eu teria uma casa, com família, cachorro e muito amor.

Morar em um abrigo para crianças não é fácil além de você não ter seus pais por perto, geralmente era bem cheio. Eu acho que tinha por volta de umas 80 crianças morando lá. Conforme a gente ia crescendo, erámos obrigados a trabalhar. As crianças mais velhas, sempre cuidavam das mais novas. Aos 12 anos eu já limpava, cozinhava e cuidava das crianças menores. A gente trabalhava de manhã e estudava a tarde em uma escola pública próxima ao abrigo. Sofríamos muito preconceito na escola, por parte dos alunos, pais e professores. Eles diziam que as crianças que eram criadas em orfanato, eram todas marginais e que nunca iam ser ninguém na vida.

Eu odiava a escola, odiava o abrigo, odiava a vida, odiava a mim mesma. Eu sempre quis ir embora e fugir, desde que eu cheguei naquele lugar. Mas para onde eu ia? Eu nem sabia onde estava. Eu era muito nova para fugir e então aceitei o meu destino e acabei ficando por ali. O tempo foi passando e os dias menos tristes eram os dias da Criança e do Natal pois sempre tínhamos festas e ganhávamos presentes... os demais dias eram bem normais.

Quando fiz 15 anos de idade, o melhor presente que ganhei da tia do abrigo foi uma caixa rosa que tinha um cadeado. Dentro da caixa tinha 3 pequenos cadernos da mesma cor da caixa e que na capa estava escrito "Diário das Emoções". A tia me explicou que eu podia escrever, desenhar e colar o que eu quisesse. Ela me disse - Ana, estes cadernos vão até ajudar a expressar o que você está sentindo, guarde ele a sete chaves, pois o que você escrever vai te ajudar a conhecer as suas emoções diante das situações da vida.

A partir deste dia comecei a escrever tudo o que se passava comigo, as situações de tristeza de alegria de ansiedade e de preocupação, pois via outras crianças do abrigo indo embora e eu ficando. Geralmente as pessoas gostam de adotar bebês e crianças brancas.

Como era mais velha e morena, cada vez mais se tornava mais distante o sonho de ser adotada e de ter um verdadeiro lar e me dava uma angústia quando lembrava que precisaria sair. Não era o melhor lugar do mundo, mas ali já estava acostumada com a rotina e me sentia de certa forma protegida.

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