Capítulo 18

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Acordei na manhã do dia 28 de dezembro, com a Olívia observando a chuva, sentada em frente ao teclado e a enorme janela de vidro. Eu poderia pintar essa cena.

- Bom dia meu amor. - Disse me levantando preguiçosamente da cama, indo até ela que ainda se mantinha em silêncio, observando a chuva. - Olívia?

Ela piscou algumas vezes, como se estivesse sendo arrancada dos seus devaneios e me olhou.

- Bom dia amor.

Sua voz está mais baixa do que de costume, ela não me parece bem.

- Aconteceu alguma coisa?

Preocupada, perguntei a ela.

- Aconteceu, com o meu pai.

Ela respondeu sem me olhar nos olhos, apenas encarando o próprio teclado.

- Vocês se viram? Ou brigaram?

- Não. Ele morreu essa madrugada, os médicos disseram que foi uma parada cardiorrespiratória.

Eu estava em estado de choque por ela, não imaginei que havia sido algo tão grave. Não consigo imaginar o que ela deve estar sentindo agora.

- Eu sinto muito.

Lamentei, o que fez ela dar de ombros

- O problema é esse, eu não sinto muito.

Ela havia saído da postura reflexiva e agora parece irritada. As mudanças de humor dela às vezes me preocupam.

- Como assim?

Questionei, um pouco apreensiva, não sei até onde posso tocar nesse assunto, já que nós nunca tocamos nesse assunto. Não é como se tivéssemos criado uma regra sobre isso, mas acho que por ambas terem se machucado de alguma forma, por causa dos nossos pais, fizemos um acordo silencioso de manter isso em silêncio. Entretanto, considerando o último acontecimento, não acho que o silêncio seja suficiente para que minha garota fique bem.

- Eu não quero falar disso ainda, não aqui.

Ela me olhou, com os olhos marejados, o que quebrou meu coração em mil pedaços.

- Está tudo bem, a gente não precisa falar disso agora. Vem cá.

A consolei, puxando sua mão para que ela se levantasse da cadeira e encontrasse conforto no meu abraço. Quando a envolvi em meus braços, ela chorou. Um choro silencioso, como a chuva lá fora, mas que eu sei que doeu.

- Eu quero que você vá comigo.

Ela pediu baixinho, quase inaudível.

- Eu não vou sair do seu lado, não se preocupa com isso agora.

Respondi acariciando seus cabelos curtos.

- É em outra cidade, não muito longe daqui. Jennifer já está arrumando as coisas dela, disse que ficaríamos apenas dois dias lá, antes da véspera de ano novo já estaremos em casa.

Ela explicou se recompondo, secando as próprias lágrimas com a ponta dos dedos.

- Você quer mesmo ir? Isso não vai te fazer mal?

Impliquei, pensando no bem estar dela, que olhou com os olhos vermelhos, cansados e magoados, dizendo:

- A morte dele é a única coisa vinda dele que não me magoou. Meu choro é por culpa daquele desgraçado, mas por causa do que ele fez em vida e não pela morte. Eu vou ficar bem e preciso ir, a Jennifer precisa de mim agora.

Eu não sei o que o pai dela fez a ela, mas considerando as outras informações que tenho, imagino que seja algo parecido com o que o meu pai me fez. Eu também não consegui esquecer isso ainda, às vezes, durante a madrugada, eu perco o sono fico horas pensando em todo o ódio que ele destinou a mim, apenas porque eu queria amar. Não faz sentido o amor, logo o amor, despertar tanta raiva, apenas porque é não convencional, apenas porque um bando de idiotas decidiriam que é errado.

Arte, Café e Menta | ⚢︎ [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora