Capítulo 20

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Após o jantar preparado pelo Samuel e a Gabriela, Olívia e eu subimos para "descansar", pois havíamos viajado duas vezes no mesmo dia. Todos sabiam que isso foi uma desculpa esfarrapada para ficarmos sozinhas no quarto, tanto que Gabriela havia me dado um dos seus maços de cigarros e Yara uma garrafa de vinho da adega dos pais, mas ainda sim, fingiram acreditar quando demos boa noite a eles.

Eu havia levado meus materiais de pintura em uma mochila e pretendia usá-los com mais uma pintura protagonizada pela minha mulher.

— Oli.

A chamei carinhosamente, enquanto observava ela sair do banheiro, enrolada na toalha e com o cabelo pingando água pelo chão. Yara surtaria se visse, mas eu, me delicio com a visão.

— Que foi, meu bem?

Ela questionou enquanto vestia uma camiseta, cujo qual ela pegou na minha mala.

— Se eu te pedisse para ser a minha modelo essa noite...

— O que você me pede, que eu não faço?

Ironizou ela se aproximando e me roubando um beijo antes de se sentar ao meu lado, no chão da sacada.

— Bom, eu pensei em pintar você, com uma taça de vinho na mão em frente a essa paisagem, que diga-se de passagem, é de tirar o fôlego.

Expliquei minha idéia para ela enquanto servia duas taças de vinho para nós e apanhava um cigarro de menta que Gabi me deu.

— E será que eu sirvo para ser sua modelo?

Ela perguntou bebendo um gole do vinho e voltando seu olhar para o céu, ignorando a minha perplexidade diante dessa pergunta.

— Olívia Madero, não tem nada na minha vida que você não seja mais que o suficiente. Aliás, se quer saber, eu escrevi alguns poemas sobre você, porque você é a minha musa inspiradora.

Disse antes de tragar o cigarro, sentindo cada célula do meu corpo relaxar.

— E eu posso ler? Já que eles são sobre mim, acho que tenho direito de ler todos eles.

— Só depois que a tela estiver pronta.

Respondi sorrindo, antes de passar para ela o cigarro.

A noite está tão linda que me perco no brilho das estrelas, que graças a pouca poluição visual, estão muito mais brilhantes e visíveis. O frescor da noite, esse que carrega o cheiro das flores da noite, também nos enchia os pulmões.

— Sua tatuagem cicatrizou muito bem.

Olívia comentou encarando meu braço, enquanto eu organizava minhas tintas. Nessa pintura pretendo usar cores puras e intensas, portanto, devo deixá-las muito bem organizadas no godê.

— Ainda bem. Nem quero imaginar o que aconteceria caso minha pele rejeitasse a tattoo. — Respondo com uma risada abafada — Aliás, você nunca me disse se as suas tatuagens tem algum significado.

Disse tentando soar despretensiosa, mas a sombrancelha erguida me garantiu que ela havia entendido o que quis dizer.

— Se quer saber mesmo, preciso que me dê mais uma taça de vinho. — Ela estendeu a taça vazia na minha direção e eu atendi seu pedido, em nome da minha curiosidade. — Bom, você conhece a história da Medusa?

— Sei apenas que ela transformava pessoas em pedra, graças ao olhar dela, e sei que ela tinha cobras no lugar de cabelo.

Respondi sincera, terminando o cigarro e começando a pintar. Primeiro com a cor azul.

Arte, Café e Menta | ⚢︎ [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora