Capítulo 23

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Na escola, as coisas estão uma loucura. Não tem um aluno que não fale da formatura, quer dizer, exceto por mim. Eu não sei se quero participar dessa formatura, por mim, só acabar o ano letivo já seria ótimo. Eu ainda terei que gastar muito dinheiro com a faculdade, já que, por mais que eu queira entrar em uma faculdade pública, eu tenho os gastos com o meu material.

- Sarah. - A professora Bruna chamou pelo meu nome, continuando logo que direcionei meu olhar para ela - Me diga, você já sabe qual para qual faculdade irá prestar vestibular? E qual curso pretende fazer?

Os olhares curiosos dos outros alunos caíram sobre mim, o que me deixou extremamente desconfortável, não gosto de olhos sobre mim.

- Eu vou tentar entrar na faculdade federal, do nosso estado mesmo, embora ainda tenha dúvidas sobre o curso de Engenharia da computação ou artes visuais.

Respondi um pouco sem jeito, e fiquei ainda mais desconfortável quando percebi que alguns alunos sussurravam sobre mim.

- Devo admitir que são cursos bem diferentes, entretanto, eu como sua professora, reconheço que você se sairia muito bem em ambos. Suas notas em matemática são excelentes, e nos conselhos de classe nunca tivemos reclamações sobre o seu desempenho em matemática e muito menos em artes. Agora, se me permitir, eu quero te fazer algumas perguntas. - Eu apenas assenti com um gesto, e ela sorriu gentilmente para mim - Por quê você quer fazer Engenharia da computação?

Previsível, mas ainda sim, me senti insegura ao responder.

- Bom, como a senhora mesmo disse, eu me dou muito bem com matemática, e, além disso, o mercado da tecnologia nunca irá parar, não com o nosso consumismo e sede por inovações.

- Então, podemos dizer que a sua motivação para esse curso, é apenas o dinheiro?

- Não vou negar que esteja certa. O dinheiro move o mundo capitalista em que vivemos, e eu faço parte do sistema. Então, sim, a minha motivação é o dinheiro.

Ela me fitou com os olhos semicerrados. Tenho certeza de que está me julgando mentalmente.

- Ok, é um motivo válido. Eu também estou aqui agora, porque essa é a minha profissão e o que garante que eu consiga pagar minhas contas no fim do mês. Porém, não só por isso. Eu dou aula, porque eu realmente gosto de dar aulas. Eu amo o meu trabalho, e amo estar com vocês. Até porque, todos sabemos que, infelizmente, o professor não é valorizado como deveria no Brasil, então, se minha única motivação fosse o dinheiro, eu estaria agora formada em administração e trabalhando na distribuidora do meu pai. Por isso, agora vou te fazer uma nova pergunta. Qual a sua motivação para o curso de artes visuais?

- A arte, por si só, a arte. Eu amo artes plásticas mais do que posso descrever. Pintar é o que me tira da realidade quando parece que o mundo está todo sobre as minhas costas, e quando eu pinto, parece que tenho a liberdade de ser e fazer o que quiser, ninguém pode julgar um artista, porque a arte, é a arte. Você não julga a arte, porque ela tem várias formas, e todas elas são válidas como arte. Quando Duchamp, pegou um mictório e o transformou em arte, nenhum artista pode olhar para ele e dizer que aquilo não era uma forma de arte, por mais que alguns tenham feito isso.

Respondi à pergunta, rindo sobre a minha última afirmação. Ninguém pode julgar a arte, mas Duchamp realmente foi um revolucionário, louco, mas revolucionário.

A professora estava me olhando, com um sorriso travesso nos lábios, isso enquanto balançava a cabeça em negação. Acredito que sem querer, acabei dando a resposta que ela queria.

- Yara. - A professora chamou pela minha amiga, que rapidamente desviou sua atenção para ela - Você é a melhor amiga da Sarah, correto?

- Suponho que sim, pelo menos, eu espero que sim.

Arte, Café e Menta | ⚢︎ [Em Andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora