02. R de rádio

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— Entra ai, Shouyou, a gente vai visitar o Tobio — disse Kenma, sentado no banco do motorista. Com óculos escuros, grandes demais para seu rosto e o cotovelo para fora da janela. Shouyou inclinou a cabeça, confuso.

— Você sabe dirigir?

— Eu vi meu pai fazendo isso, não parece ser tão difícil.

— A gente tem idade pra isso? — Shouyou fez uma careta. Alguma coisa na sua cabecinha o estava avisando que se ele entrasse ali, teria seu pai furioso com ele mais tarde. E isso significava ficar sem sorvete depois do almoço. Shouyou não queria aquilo, ele adorava sorvete.

— Vamos, só estou brincando. Meu pai já está vindo, ele disse que vai nos levar até o Tobio. Sobe aí. — Kenma abriu a porta para que Shouyou entrasse também. Ficando os dois no banco do motorista.

Os olhinhos de Shouyou brilhavam diante de tantos botões coloridos. Ele colocou as mãos atrás das costas, temendo que elas apertassem algo contra sua vontade. Ele precisava lembrar a si mesmo o quanto amava sorvete.

Kenma estava se divertindo como nunca, nenhum dos seus joysticks eram tão realistas quanto segurar um volante de verdade. Seus pés ainda não alcançavam o acelerador, então suas pernas apenas ficavam penduradas para fora do banco, chutando o ar. Enquanto se imaginava pisando fundo.

— Isso ficaria bem melhor com música — disse ele, ao que Shouyou concordou, balançando a cabeça freneticamente.

— Coloca a fazendinha do Zenão!

— Não tem isso aqui, Shou. Só tem o rádio.

— Ah, então não quero.

— Vamos, não é tão ruim. Tem músicas pra gente dançar.

— Eu adoro dançar!

— Sei que adora.

— Então liga logo!

— Calma, eu preciso descobrir onde é — Kenma largou o volante, se encostando no banco, para que a visão a sua frente ficasse mais ampla. Ele não fazia ideia de onde ficava o rádio. O carro sempre estava tocando música antes mesmo dele descobrir de onde vinha.

— Ah, achei — disse ele, encontrando uma alavanca perto do volante, com a letra R. Só poderia ser de R de rádio. — Estava bem na minha cara e eu não vi.

— Se fosse uma cobra, teria te picado. — Shouyou riu, falando o que seu pai sempre dizia para Oikawa quando ele não encontrava as próprias roupas. — Liga logo! — exclamou, praticamente pulando no assento.

Kenma então puxou a alavanca. Mas não saiu som algum, em vez disso, o carro começou a se movimentar. Para trás.

Kenma e Shouyou se olharam, os olhos arregalados. Antes de começarem a gritar.

O carro foi deslizando em marcha à ré até atingir uma parede. Fazendo um barulho que ecoou em todo o estacionamento. Assustados, Kenma e Shouyou se abraçaram. O coração acelerado, a respiração arfante. Eles se encaram, temendo olhar para trás.

— Não olhe, Shouyou, isso é demais pra gente suportar — disse Kenma, segurando o rosto do irmão, para que não olhasse o estrago que acabaram que fazer.

— Estamos fritos?

— Mais que batata frita.

Shouyou começou a chorar. Kenma também sentiu as próprias lágrimas vindo, mesmo assim, precisava consolar seu irmão.

— Não chore, Shouyou. A culpa foi minha, sim? Eu vou dizer que você não teve nada a ver com isso.

Shouyou balançou a cabeça, chorando ainda mais alto. Kenma se exasperou, era questão de tempo até uma multidão curiosa aparecer ao redor deles.

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