1 - Le Début

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Meados de 30 de Dezembro de 1930, um dia antes do último dia do ano. O pequeno Seokjin se esgueirava pelas ruas de pedra daquela pequena cidade no sul da França, passando por altas mulheres com seus casacos de pelo em tons pastéis e seus cabelos cacheados com bobs, carregando cestas com garrafas de vinho, pães e frutas, homens dirigiam seus carros luxuosos, sempre vestindo ternos e tendo a mesma cara amarrada de um empresário importante, talvez nem tivessem cargos tão grandes, mas aparentavam estresse constante, assim como infelicidade.

O garoto bem agasalhado com seu suéter corria em direção a biblioteca da cidade, crianças brincando na neve o chamavam para se juntar a eles, mas para Seokjin aquilo tudo não passava de uma grande perca de tempo, tudo que ele queria agora era um bom livro para ler, algo com suspense, não era uma criança normal, não sabia o que era sonhar ou brincar, era filho de um dos melhores generais das forças armadas, um homem frio e carrancudo, estava sempre de mal humor, não o deixava ser criança, desde pequeno treinava-o para ser o melhor em tudo. Com somente 7 anos, já fazia aulas de esgrima, arco e flecha, hipismo, montagem, luta e dominação, mas sempre que conseguia, pulava o muro da grande mansão para ir a biblioteca, ali ele não sentia medo de seu pai, pois ali era seu forte, seu esconderijo mais secreto, onde ele ninguém jamais o acharia.

Kim Chin-Hwa, seu avô, havia se mudado para França quando ainda jovem, devido a uma paixão de verão, nas cartas deixadas por ele antes de falecer no piso frouxo do quarto principal, ele relatava sua grande paixão por vinhedos e por uma linda jovem francesa de cabelos loiros e olhos apaixonantes, mesmo prometido a outra mulher, abrira mão de tudo, para ficar com seu grande amor, Louise. No mesmo verão eles se casaram, Kim Chin-Hwa com seus 22 anos e Louise Fontainelles com apenas 17 anos, naquela época era natural que uma moça procurasse se casar depois de seus 14 anos. Fora o inicio da árvore da família Kim. Anos depois Louise engravidou de gêmeos, Myung-Dae e Young-Jae, dois meninos, de nomes coreanos para honrar o sobrenome.

Kim Myung-Dae, era um garoto travesso, que gostava de pregar peças em seu irmão, cujo o mesmo havia nascido com uma deficiência nas pernas, Young-Jae não conseguia movimenta-las por uma lesão na coluna espinhal na hora do parto, mas ainda sim era um garoto sonhador e amável, queria se tornar um jovem soldado. Os dois irmãos eram melhores amigos, mesmo que brigassem muito, não viviam sem um ao outro. O sonho do mais novo era poder um dia andar a cavalo como seu irmão fazia, e em mais uma de suas aventuras com suas muletas axilares feitas de madeira maciça, resolveu que o faria virar realidade, sozinho ele foi até o estabulo, abriu o portão e se distanciou para pegar uma cela, fora quando os cavalos enlouqueceram tentando fugir, derrubaram o portão e desvairadamente começaram a correr por todos os lados, seu irmão estava perto demais de muitos deles e desprotegido, mal conseguia se locomover sozinho, e antes mesmo que Myung-Dae pudesse chegar a tempo para tira-lo de lá, o jovem rapaz de 16 anos fora morto pisoteado por seu maior sonho. Desde então Myung-Dae se tornara um garoto frio, pois se culpava de tê-lo deixado sozinho naquele dia, conhecendo o irmão que tinha, ele não poderia ter o deixado ou deveria ter sido mais rápido, assim quem sabe ele estaria vivo agora... Crescendo amargurado e traumatizado, ele passou a odiar sonhos, se casou com a garota prometida ao seu irmão, Yung Ha-Yun, mesmo nunca tendo conseguido ama-la como seu irmão a amava e assim se tornou um soldado, frio, pestilento, hostil, árduo e infeliz. Fazendo de tal jura, a honra de seu sobrenome, se sentindo no dever de continuar a história que seu irmão deixara para trás tão novo.

Kim Ha-Yun anos depois engravidou do primeiro filho, chamado Kim Seokjin, nascido no dia 5 de Dezembro de 1923. Filho único, não parecia em nada com as outras crianças e isso o tornava alvo de apelidos brincalhões. O garoto era apaixonado por livros de todos os tipos, de todos os gêneros, grafias, tamanhos e grossuras. Todo dia arrumava um jeito de sair escondido para ler algo diferente e só voltava quando anoitecia, antes que as luzes se apagassem, era quando o céu ficava mais bonito, todas aquelas estrelas no céu o cativava, mesmo não sendo um sonhador, o garoto tinha uma forma diferente de olhar o mundo, não sabia dizer o porquê, mas era algo que o tornava autêntico, mesmo com todas as regras a serem seguidas, ele era feliz e via o melhor em tudo, conseguia ver coisas boas até na pior pessoa do mundo.

A biblioteca velha, não era muito frequentada por crianças ou adultos, o que mais se via eram jovens estudando. O silêncio se instaurava no local assim que a porta se fechava, um lugar de paz absoluta, só se dava para ouvir o som do virar das páginas dos velhos livros amarelados. Uma estrutura antiga, de toque clássico e intelectual, o teto branco era todo decorado com esculturas em gesso, o piso de madeira abrigava imensos tapetes que remetiam a Idade Média, estantes de madeira altas e cumpridas recheadas de livros, todos separados por gênero e autor, com três globos terrestres de chão, mesas de estudo, vidraças, quadros e estatuas, ali era um verdadeiro santuário da arte.

Seokjin amava correr por entre aqueles corredores, procurando um livro interessante naquele labirinto de palavras, enquanto ria de Margot a senhorita responsável pela biblioteca que o advertia para que tomasse cuidado com seus manuscritos. Fora nesse dia que o pequeno Kim, achara um livro um tanto peculiar em meio aos outros, de capa dourada, mas muito velha, as letras tinham um relevo bonito na capa, formando "A Lenda de Gaia", ainda na capa, havia uma árvore bonita, de flores ao invés de folhas, era deveras lindo, suas folhas não eram amareladas como as dos demais livros, mas sim em tom amarronzado, com letras desenhadas de forma delicada, sem dúvidas era um livro antigo, entretanto ainda sim o mais bem cuidado dentre todos os outros, parecia ter sido publicado a pouco. O tal livro estava escondido em uma estantes no canto esquecido da biblioteca, em meio a muitos outros livros de lendas nativas, sem pensar muito, o menino tirou-o de lá, se sentando no chão para descobrir sobre o que se tratava o exemplar tão magnífico.

"[...] Um reino mágico escondido atrás da queda de uma cachoeira, onde os animais viviam em paz e só os puros de coração conseguiam encontrar. Este reino era governado pelas três filhas do Sol e da Lua, três fadas muito poderosas[...]".

Interessado, um sorriso reinou em seus lábios, permitindo seus olhinhos curiosos imergirem em tal universo. Talvez fosse loucura, mas a sensação de conforto e positividade que a obra emanava, cativava o pequeno Seokjin e o fazia se apaixonar pela gramatica nobre de fácil leitura.

Mal ele sabia que aquilo não era apenas uma lenda nativa, e que no segundo em que ele achou aquele livro uma profecia já começara a acontecer.

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