Capítulo 5

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O traje de núpcias era um pouco diferente do croqui, Celine avaliava. Aprovou o desenho esperando por algo menos vaporoso e mais parecido com uma roupa de dormir. Nem prestara atenção no estorvo que seria aquela longa carreira de minúsculos botões na hora de se despir. Duvidava que Antonio tivesse paciência para aquilo. O vestido de noiva estava pendurado no armário de Valentina, devido a uma superstição de que o noivo não podia vê-lo antes do casamento. Celine levantou a camisola vaporosa e a pôs rente ao corpo. O desenho do modelo saiu segundo as instruções de Valentina, e ela não teve coragem de fazer caso com nada daquilo. Tinha plena consciência que já fazia muitos anos que vinha tentando substituir a mãe por todas as mulheres que atravessavam o seu caminho. Valentina seria pior ainda que Bianca, aquela mulher de olhar forte teria um extremo poder sobre ela. Se Celine não tomasse cuidado, o relacionamento das duas seria um tormento.

Um barulho de carro tirou Celine daquelas divagações, ela largou a camisola na cama e foi até a janela. Faltavam dois dias para o Natal e os parentes dos Navarro chegavam. Lá fora, dois carros acabavam de estacionar, e Theodoro havia saído. Ele parecia muito feliz enquanto abraçava todo mundo.

— Chegaram? — Antonio perguntava por sobre seus ombros.

— Sim.

Andiamo, quero apresenta-la a meus primos.

— Desça na frente, tenho que arrumar umas coisas aqui.

Antonio saiu e ela ficou lá, espiando através da janela. Mais um carro acabava de chegar, os parentes já eram muitos, dava para contar umas quinze pessoas. Margo entrou no quarto carregando uma pilha de roupa passadas. Perguntou se ela ia querer que lavasse a camisola nova. Celine fez que sim, raramente usava uma roupa saída da loja.

Margo, percebendo sua aflição, disse:

— Coragem. Não deixe que eles a assustem. Como a maior parte das famílias italianas, os Navarro são barulhentos e excessivamente intrometidos. Até mesmo Valentina não consegue sustentar essa fachada de finuras quando se mistura aos parentes. Desça e vai ver sobre o que estou falando.

Celine saiu do quarto quando as vozes já invadiam o alto da escada. A algazarra de parentes fez um minuto solene assim que ela se fez presente. Antonio correu para escolta-la até o último degrau.

Mia sposa. — A apresentou com um misto de orgulho.

A primeira a se aproximar foi uma senhora, escorada por Valentina. A frágil velhinha parecia ter mais de oitenta anos. Afagou o rosto de Celine, disse a palavra bella um par de vezes, depois desceu a mão enrugada e a acomodou em seu ventre côncavo. Riu deliciada com o intumescimento, depois se abaixou e tascou um beijo bem onde sua mão estava.

Celine ficou mortificada com a extravagante demonstração de afeto. Os demais parentes explodiram em um italiano cacofônico. As tias e as primas vieram cumprimenta-la ao mesmo tempo. Antonio tinha sido suspenso em um abraço por um de seus primos.

"Allacciare, infine!"

Ninguém, absolutamente ninguém, se preocupou com o fato de que ela não podia entender quase nada do que estava sendo dito. Até que uma jovem, com idade aproximada a sua, se aproximou e pronunciou algo que ela conseguiu entender.

Piacere, Amedea. Sou prima de Antonio.

Celine a abraçou.

— Que bom que tem alguém aqui disposto a falar a minha língua.

O Casamento de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora