Capítulo 14

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         Já fazia muito tempo que Antonio se pegava imaginando em como reagiria caso seu pior pesadelo invadisse o mundo real.

E foi assim:

Primeiro, recebeu a ligação da delegacia de polícia perguntando se era ele o marido de Celine dos Santos Navarro, quando afirmou que sim, seu coração já não batia em um ritmo normal. Depois, ele ouviu, quase como um sonâmbulo, que devia se encaminhar para delegacia com urgência. O telefone escorregou de sua mão indo cair diretamente no tampo de sua mesa de trabalho. Um torpor agudo se formou em sua cabeça. A partir daí todos os seus membros paralisaram, mas seu coração vigilante continuou a bater, bombeando o sangue necessário para não causar nenhum dano permanente nos tecidos. Ele não entendeu muito bem porque isso acontecia, pois, a impressão que tinha era que havia se livrado da mortalha da carne e vagava pelo mundo como uma alma penada. Com exceção do torpor e do baque seco do coração, ele não sentia mais nada.

Felizmente, essa sensação parece ter durado pouco tempo, talvez apenas poucos segundos, apesar de ter dado a impressão de uma vida inteira. Mas o fato é que quando passou, ele deu um pulo da cadeira, gritou para Juliette que avisasse Juan para espera-lo com as chaves na ignição. Correu até o estacionamento com pernas feitas de chumbo, ao menos, se moviam ao comando de seu cérebro alucinado. E ele agradeceu a Deus por isso, agradeceu por ainda estar de pé, apesar do medo e conseguir fazer o que tinha de ser feito.

— Para delegacia de polícia na W Preston. — Gritou para Juan assim que entrou no carro.

Juan, logo que soube do acontecido, acionou o detector do radar do carro de Celine. Ele se movia rápido pelos arredores da cidade. Mas decidiu não tomar nenhuma atitude antes de saber detalhes do que aconteceu na delegacia de polícia.

Antonio, quando entrou no prédio, seguiu imediatamente para o local indicado, ignorando a sensação de dormência em suas pernas. De longe, viu a esposa enrolada em um cobertor, trêmula e soluçante, teve uma epifania de felicidade antes de ver que tudo desmoronar novamente. Ele não conseguiu alcançar Celine de imediato, foi detido por um policial, que tentava explicar o que tinha acontecido. Antonio não conseguia se concentrar no que o homem dizia. Tudo o que pensava era que precisava estar com Celine, abraça-la e dizer que estava tudo bem. Mas o nome de sua filha surge na conversa.

— Pietra. O que tem a Pietra?

O policial continuou com o olhar preocupado:

— Sua garotinha estava no carro, Sr. Navarro. Sua esposa não teve tempo de tirar a bebê antes que eles levassem o veículo.

— Mas quem levou o carro?

Neste ponto, o policial entendeu que ele não havia escutado uma palavra sequer.

— Sr. Navarro, precisamos que mantenha a calma. Temos todos os indícios para acreditar que se trata de um furto apenas. Sua filha vai ficar bem.

Antonio continuava com o olhar desvairado.

— Minha filha? Padre mio...

As mãos dele foram levadas para o topo da cabeça, que passou a girar freneticamente. Estava sendo difícil imaginar sua mulher refém de bandidos, como tia Cora, que sofreu todo tipo de humilhação e flagelo até ela ser solta duas semanas depois. Não, sua pequena e indefesa Pietra, não...

Antonio levantou a cabeça e seus olhos angustiados encontraram com os de Celine, ela desviou o olhar e abaixou a cabeça. Devia estar envergonhada, ele pensou. Celine, depois de toda aquela teimosia e imprudência, conseguiu colocar em risco a vida da filha deles. Ele teve vontade de gritar isso, de gritar que aquilo tudo era culpa dela. Mas não o fez, virou para o lado à procura de Juan. Ele conversava com um dos policiais que tinha encontrado Celine, histérica, no meio da rua enquanto tentava explicar que haviam roubado seu carro com a filha dentro. Juan fez sinal para ele e saiu acompanhado do policial. Agora, era esperar e rezar para que o maldito GPS funcionasse.

O Casamento de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora