Capítulo 16

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Antonio observava a esposa, em frente à porta de vidro, fechada. A tensão de Celine era tão palpável que ele podia ver o suor frio escorrer das mãos crispadas. Pietra brincava lá fora com a babá. Havia um guarda costa por perto e o dia estava perfeitamente tranquilo.

— Está com medo de ir lá fora?

Celine se afastou da porta num espasmo de susto. Antonio lamentou por isso também.

— Não, eu estou bem. Só estava aqui pensando... em Diana. Será que podemos confiar nela, Antonio?

— Celine, nós já conversamos sobre isso.

— Mas eu não me convenci. É muito comodo para policia encerrar as investigações desse jeito. Uma peça de carro não é o suficiente para determinar que o sequestro da Pietra foi só um equivoco.

Antonio esfregou o alto da cabeça, perguntando-se se valia apena discutir com a esposa mais uma vez. Mas estava sendo difícil assistir Celine se deteriorar dia após dia.

— Voce pensou na possibilidade de fazer terapia?

— Não, na verdade, não. Não acho que eu preciso de terapia. Só um pouco mais de tempo.

— O quanto mais? Voce não percebe que não há mais tempo. Sua empresa vai ser inaugurada na próxima semana, Celine.

— Eu adiei.

— Adiou. Como assim?

— Eu adiei Antonio, não estou com cabeça para uma coisa dessas. As pessoas vão entender.

— Celine, isso não é justo, você trabalhou duro por sua empresa. Voce está sendo injusta com você mesma.

— E o que voce sugere? Que eu finja que nada aconteceu e enfrete toda aquela gente, a maldita imprensa, com um sorriso na cara? Eu não sou essa fortaleza Antonio.

— Quem sabe, com o auxilio de um terapeuta, talvez com medicamentos. Celine, vai ser mais rápido.

— Medicamento? Voce realmente acha que eu preciso de medicamentos?

— Precisa, urgentemente. Tenho conversado com o Dr.Clarck...

— Dr. Clarck!— Celine escarneceu. — Você e esse terapeuta de merda tem que parar com isso. Minha filha foi sequestrada, merda! E bem debaixo do meu nariz. Voce e o Dr. Clarck não vão me sentir uma aberração.

Celine saiu de lado, Antonio, do outro lado da sala, olhava para ela como se estudasse um objeto estranho.

— Eu entendo amore, não pense que eu não entendo. Eu só quero vê-la superar isso o mais rápido possível. Com a ajuda de um profissional...

— Chega, não vou ficar aqui ouvindo essa merda!

Antonio a seguiu, não permitiu ser ignorado mais uma vez.

— Não é só o sequestro, Celine. É isso, é essa maldita pirraça de adolescente que faz toda vez que tem que enfrentar um problema, isso só pode ser fruto da infância roubada no meio do caos que foi sua vida com Melinda. É como se algo tivesse ficado para trás, para germinar. Voce precisa superar isso de uma vez, para poder enfrentar os problemas com mais resiliência.

— É isso mesmo que você pensa?

— Sim, eu te amo. Eu quero que tenha uma vida plena e feliz. Comigo, com a Pietra, realizando o trabalho que tanto ama. Algumas pessoas precisam chegar ao fundo do posso para que possam emergir mais fortalecidas. Aproveite essa oportunidade para encarar os demônios coloca-los para dormir de uma vez.

— Não acredito que pensa uma coisa dessas. Eu nunca vou encarar o que aconteceu com a Pietra como uma oportunidade.

— Ou voce faz isso ou vai passar a vida se remoendo esse epsódio.

Antonio saiu para não prolongar aninda mais aquela discussão, estava sendo conversar com a esposa. Não foi capaz de escutar o sussurro:

— Sabe o que realmente me ajudaria? Sair de Baltimore...

O Casamento de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora