Quando Antonio chegou em casa, sentiu cheiro de queimado e correu em direção à cozinha. Ele ficou uns segundos parado, apoplético com a cena que se desenrolava na sua frente. Numa ponta estava Pietra, sentada do cadeirão, brincando com algumas rodelas de tomate. Noutra, estava Celine lidando com as panelas com o olhar aparvalhado.
— Ma que é questo? — Ele pergunta, se aproximando. De perto, tudo estava mais caótico.
Celine gritou.
— Não sei como é que ela faz tudo parecer tão fácil?
— Mas o que estava planejando fazer? — Ele pergunta investigando o interior das panelas. Numa havia uma bola esbranquiçada entrando em erupção a cada dois segundos. Na menor, um molho vermelho transbordava, inundando o fogão e causando o cheiro nauseante de queimado.
— Era para ser uma massa à pomodoro. Eu não sei o que deu errado.
— Você errou na proporção de água ou no tamanho das panelas. Ou nas duas coisas.
— Mas eu segui a receita passo a passo. — Ela disse pegando o pedaço de papel em cima do balcão da cozinha. Leu em volta alta: — Deixe o macarrão cozinhar em água e sal até ficar macio, cerca de doze minutos.
— Mas que tipo de massa está usando. Olhou na embalagem para verificar o tempo de cozimento?
— Não, achei que fosse tudo igual. — Confessou ela, desorientada — Você fala como se entendesse.
— Eu sou italiano, esqueceu?
— Antonio, isso não significa muita coisa. Duvido que já teve que preparar sua própria comida.
— Celine, eu sei fazer macarrão. — Ele disse transferindo a catástrofe pegajosa para dentro da pia. — Devia ter ligado para algum restaurante e pedido o jantar.
Celine cruzou os braços, aborrecida.
— Você não entende, não é? Eu queria cozinhar para minha filha, uma vez que fosse.
— Mas você já fez isso antes?
— Não desse jeito. Costumava comer comida congelada ou pedir no restaurante da esquina. — Detestou a cara condescendente do marido. — Antonio, eu conheço pouca gente que sabe cozinhar.
Antonio entornou o conteúdo gosmento da panela no lixo e passou a vascular os armários da cozinha. Tirou duas panelas limpas de lá.
— Mas, o que é que está fazendo?
— Andiamo, se quer nostra figlia coma seu macarrão, vamos ter de recomeçar do zero. Tem outro pacote de macarrão?
— Tem, na geladeira. Comprei dois, caso decidisse repetir a dose. E o que vamos fazer com o molho?
— Verta tudo na outra panela, e vamos tentar apurara-lo. Mas, se o fundo estiver queimado, jogue tudo fora.
Celine obedeceu, por sorte, o molho não estava completamente arruinado. A outra panela era maior e o molho de tomate passou a ferver de forma menos dramática. Ela se recriminou mais uma vez por ter deixado a cozinha para buscar Pietra no quarto sem antes desligar o fogo das panelas. Se tivesse feito isso, aquele desastre não tinha acontecido e ela não passaria essa vergonha na frente do marido. Que tipo de pessoa chegava aos vinte e três anos sem saber como cozinhar um maldito macarrão? Alguém que nunca havia se interessado, na verdade. Não recebera muito incentivo por parte de Melinda. Rose tampouco teve paciência com Bianca. Durante os quatro anos que moraram juntas, em Boston, as duas haviam sobrevivido com a comida do refeitório ou de restaurante. No apartamento do Marco, em Nova York, ela cozinhava pouco, se não comia no restaurante da esquina, que servia uma comida bastante saudável, preparava um filé de salmão ou de frango grelhado, acompanhado de salada e legumes no vapor. Também aprendera a fazer uma boa fritada de ovos, mas era só.
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O Casamento de Celine
RomanceGrávida, vivendo escondida na cidade de Nova York, Celine apenas queria seguir com sua carreira. Criar o filho sozinha não parecia tão mal quanto apostar seu coração em Antonio Navarro, o italiano pervertido que a engravidara. Navegar pela costa it...