Depois de uma semana fora de casa, no Texas, Celine havia estabelecido uma rotina que andava gostando muito. Trabalhava de manhã, enquanto Pietra brincava, e nessas horas contava com a ajuda da madrasta, pois esse era o único jeito desde que a filha se cansou dos brinquedos. E também porque aprendera a confiar em Melinda e aceitá-la como parte de seu tratamento de redenção.
Depois do almoço, continuava trabalhando até o meio da tarde, quando Pietra acordava cheia de energia, daí em diante seu tempo era dedicado a pequenos passeios, ficavam no quintal ou iam até o lago. Numa dessas tardes, arriscaram uma saída um pouco mais longe, foram até Austin assistir a um treino do time de futebol de seu pai. Ela já se sentia mais confiante em espaços aberto, até considerava suas crises de pânico curadas. Aprendera a gostar muito daquela vida, se sentia completamente segura no anonimato, era como se o sequestro nunca tivesse acontecido, nem o julgamento malicioso das pessoas. Finalmente estava livre. Também porque gostava de ser a única responsável pelos cuidados da filha, sentia que a tinha por completo, um resgate da vida que planejou para as duas antes de Antonio ir busca-la em Nova York. As vezes se sentia culpada quando pensava nessas coisas, ciente daquela parte de si que ousava almejar um destino longe do pai da menina, outras vezes não. Pensava muito no futuro que Pietra teria se voltassem, na vidinha tolhida pelo medo de Antonio e dos avós, não seria nada fácil para ela, a vigilância constante, todos os percalços que seriam postos em seu caminho. Pietra tinha o gênio forte, assim como Antonio era dona de sua vontade. Esse tipo de existência seria penoso para ela, por isso Celine ia se dando ao direito de pequenos furtos como esse. Sonhava, fazia planos secretos que foram se tornando quase reais conforme as palavras escapuliam de sua boca.
— Antonio deve estar sentindo muito a sua falta. Melinda comentou certa vez, preocupada com a briga que ouviu quando Celine esteve falando ao telefone com o marido.
— De mim não, talvez da filha.
— De você também, Celine. Dá para perceber que aquele homem a ama muito.
— Não sei, não. Às vezes eu penso que Antonio só está apegado a ideia do casamento, em ser um pai de família responsável, e tudo isso para impressionar meu sogro, a diretoria da empresa.
— Não, você está enganada. No casamento...
— Melinda, com todo o respeito, conheço meu marido melhor do que qualquer um. Antonio me esqueceria em menos de um mês se, por acaso, eu decidir não voltar para casa.
Em outra situação ela foi até mais ríspida com Melinda.
— E o que você sabe sobre o amor? Desculpe. Pediu virando as costas, estremecendo de vergonha.
O pai, no meio da segunda semana, começou a ficar aflito:
— Seu marido tem me mandado diversos e-mails, Celine. Ele está preocupado, disse que você não tem ligado para ele e que tem ignorado suas mensagens.
Celine meneou a cabeça, aborrecida. Andava mesmo evitando Antonio, pois já não suportava mais as brigas e reclamações dele, principalmente depois que avisou que não planejava voltar antes de primeiro de maio, então era melhor que ele avisasse a mãe que cancelasse a festa de aniversário da Pietra.
— Valentina já pôs muita energia nisso, Celine. Não vamos comprar uma briga com ela, va bene?
— Você não acha que está crescidinho demais para ter medo da mamãezinha? Diga para ela que eu quero ficar mais tempo na casa do meu pai e pronto.
— Celine, você só está fazendo isso para puni-la, isso porque ainda está com raiva das merdas que ela te disse. Se tem alguém aqui que precisa crescer, mia cara, esse alguém é você.
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O Casamento de Celine
RomansaGrávida, vivendo escondida na cidade de Nova York, Celine apenas queria seguir com sua carreira. Criar o filho sozinha não parecia tão mal quanto apostar seu coração em Antonio Navarro, o italiano pervertido que a engravidara. Navegar pela costa it...