Capítulo 9

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Antonio adentrou a sala de sua casa, onde quase tudo tinha sido consumido pelo mais completo silêncio e escuridão. Com exceção de um cômodo, o estúdio onde sua esposa normalmente trabalhava. Já era muito tarde, ele adiou a volta para casa o máximo que conseguiu, ainda estava muito magoado com Celine. No caminho de volta, já arrependido da afronta, fez Juan parar em uma banca de flores e comprou um ramalhete. Esperava obter o perdão de Celine com rosas vermelhas.

Antonio caminha em direção à luz e encontra Celine compenetrada no computador. Ele, em silêncio, ficou observando-a, foi quando sentiu que a amava demais para manter aquela briga. Era capaz de qualquer coisa para fazê-la feliz. Até mesmo de abrir mão da situação confortável na qual se encontravam. Nem que a ausência dela o consumisse de saudade e preocupação dia após dia. Quem sabe, com o tempo, acabava se acostumando. Desde a faculdade que Celine trabalhava com afinco nesse programa, merecia a carreira que tanto sonhara. Ele daria os meios para que tudo acontecesse conforme os desejos dela. Enquanto pensava em tudo isso, não fez barulho, mas foi percebido assim mesmo. Ele próprio sentia a presença dela no silêncio. Celine se anunciava com um formigamento na base da espinha, era só se virar para ver que ela estava lá.

— Então, você é esse tipo de homem? — Ela disse, assim que viu o que ele trazia nas mãos.

— Do que se refere?

— O tipo de homem que dá flores quando se comporta como um cretino.

— Celine, amore, não vamos continuar brigando por causa de outro homem. Estou muito arrependido das coisas que disse hoje à tarde. Não vou mentir dizendo que estou contente com seu envolvimento com esse tal de John Smith, mas gostaria que conversássemos antes que se comprometesse nesse projeto.

— É tarde para isso. Já aceite.

Ma como è questo? Celine!

— Sim, eu já aceitei. Liguei para John hoje à tarde e fechei o acordo. Será um capítulo inteiro, e meu nome será mencionado na lisa de colaboradores.

— Como pôde decidir uma coisa dessas sem antes conversar comigo? Mesmo sabendo o quanto eu me sinto desconfortável com essa associação...

Celine foi categórica ao rechaça-lo:

— Porque a vida é minha, e eu decido.

— Você decide? E como vai ser quando esse cara abrir a braguilha das calças e força-la a ser grata?

— Antonio, não seja grosso. Jhon não é um troglodita como está dizendo.

— John, John! – Ele quase gritou. Não acreditava que Celine já o tratava pelo primeiro nome. — Está na cara que esse farabutto pretende assediá-la, não sei como não enxerga isso?

— Não importa. Eu aceitaria mesmo assim...

Antonio, sem esperar que ela terminasse de se explicar, estraçalha o ramalhete na quina de uma poltrona. Antes de sair esbraveja, enfurecido:

— Aceitaria, non è vero? Eu sei que aceitaria!

Celine lamentou a destruição das rosas, o buquê até que era bem bonito. Mas isso não significava que sentia pena de Antonio, tampouco medo. Desde Dionísio que ela vinha sendo vitima de seus ataques de raiva, já estava se acostumando a eles. Além do mais, cedo ou tarde, a primeira briga entre os dois depois de casados ia acabar acontecendo. E já que o clima de romance tinha se estragado, não ia perder a oportunidade de delimitar limites concisos na relação dos dois, porque ela não estava disposta a viver nas sombras de um marido rico. Antonio acabaria superando, ou melhor, ele teria que superar, se quisesse continuar com ela!

O Casamento de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora