Capítulo 17

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Celine segurou a maçaneta da porta e tentou girá-la, o pequeno globo de metal escorregou por entre seus dedos suados, teve que enxugar a mão na roupa antes de tentar novamente. Alçou a filha mais para o alto e apertou seu corpinho frágil com ambos os braços antes de sair para a garagem. Quando a luz do dia bateu contra seus olhos, seus joelhos tremeram e ela passou a rezar baixinho, pedindo forças, repetindo para si mesma que era capaz de cuidar da filha, que não ia congelar uma segunda vez. Acomodou Pietra dentro do carro e deu partida no motor. Manobrou com cuidado e saiu pelo portão da casa. Olhou pelo espelho retrovisor e não viu sinal dos guardas costas. Sentiu-se mais confiante depois disso. Apertou o pé no acelerador e seguiu seu caminho. Quando Diana ligou naquela manhã, Celine soube que o dia havia chegado, era uma coincidência infalível que nem a babá e nem a governanta estariam na casa num mesmo dia. Um dos seguranças, ela mandou investigar uma falsa denúncia de arrombamento em seu escritório na Building Holding Entrerprize, os outros dois foram engrupidos numa mentira de que ela havia visto dois homens saltarem para dentro do barco de Antonio. Enquanto seu plano ia funcionando maravilhosamente bem, ela foi tomada por uma determinação ainda maior. Precisava escapar daquela prisão. Não era o assalto ou o sequestro de Pietra que fizeram aquilo com ela, era sua própria vida que tinha se tornado um escafandro claustrofóbico. Precisava de uma pausa para resolver algumas questões que já a atormentavam há semanas, e só conseguiria isso se afastando daquilo tudo. Precisava sentir-se segura mais uma vez. Ela não estava fugindo, não estava...

O carro fora deixado na garagem de uma pista de pouso particular em Pinkesville, apesar de detestar aeronaves de pequeno porte, esse era o modo mais seguro de chegar até seu destino sem ser rastreada. O voo já havia sido contratado pelo telefone e foi pago em dinheiro. Sua pequena bagagem consistia em uma mala grande e uma bolsa com as coisas de Pietra. Ainda no jato, digitou uma breve mensagem para Antonio, garantindo que elas estavam bem, faria isso mais algumas vezes antes de chegar. Essa era parte que menos gostava de toda aquela loucura, deixar seu marido morto de preocupação uma segunda vez, mas não tinha outro jeito. Não tinha, quando ele soubesse o que ela estava planejando fazer, entenderia.

Como sua cabeça fervilhava com a turbulência de tudo o que estava acontecendo a decolagem foi só uma coisa a mais. Apertou Pietra bem forte de encontro a seu peito e cantarolou uma canção de ninar. Depois deu um pouco mais de três horas, o jato pousou no pequeno aeroporto de San Marco, no Texas. Foi quando ela aproveitou para enviar uma última mensagem para Antonio. Dessa vez, ele respondeu, implorando para que ela voltasse para casa. Ler aquilo foi como levar um soco no estômago, Celine sentiu, pela primeira vez desde que tomou aquela decisão, o quão insensível estava sendo. Digitou a mensagem prometendo que ligaria assim que conseguisse um número novo. Desligou o celular depois disso, retirando a bateria para ter certeza de que não seria rastreada em hipótese alguma.

Pegou um taxi para Cedar Park. Enquanto o carro seguia pela via ensolarada e poeirenta, e acima de tudo completamente desconhecida, ela voltou a sentir-se mais segura de sua decisão. Ali no Texas, ela e Pietra eram completamente anônimas, apenas uma mãe e sua filha indo visitar o avô e sua esposa. A nova casa de seu pai ficava numa região muito bonita, uma rua sem saída, arborizada, com duas fileiras de casas contornadas por sebes e canteiros de flores. A propriedade era bastante simpática, uma casa térrea de tijolos brancos e telhado ocre, com um jardinzinho muito bem cuidado, o que era uma novidade comparada a antiga residência deles. Nem Melinda nem o pai eram afeitos a jardinagem. Então, o mais provável era que aquilo não fosse durar muito tempo.

Quando apertou a campainha, Celine sentiu um calafrio desagradável percorrer seu corpo ao longo da espinha, não queria pensar naquilo como mau presságio. Só estava nervosa em voltar para casa. Antes do sequestro, ela nem pensava que pudesse fazer isso de novo. A porta se abriu e Melinda apareceu no vão. O sorriso dela se alargou de um jeito meio estranho, trêmulo, como se fosse romper em pranto a qualquer momento.

O Casamento de CelineOnde histórias criam vida. Descubra agora