A Justiça não é para todos

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  Alura estava entusiasmada, havia finamente concluído seu bolo, após ter feito a pequena demonstração de que ela não havia perdido a batalha, e sim apenas observado tudo, arrastou suas filhas de volta pra cabana onde implorou para que Jane se juntasse e se tornasse sua pupila, já que Anáhla se negava covardemente a se unir a magia das trevas. Jane estava passando por mudanças e seu corpo suava frio e seu olho mudava de cor constantemente de roxo para olhos claros, ela se coçava como que se estivesse dependente de drogas, almejando sempre mais.

— Ela está me irritando. — Disse Serena encarando a felicidade de Alura escancarada no rosto, ela gargalhou como se fosse louca logo em seguida e Serena tentou avançar nela novamente sendo barrada pelas duas.

— Anáhla! — Disse Jane se levantando inquieta com picos de ansiedade. — por favor... Não pode me entregar! Não fui que matei as fadinhas eu juro!

— Querida, você é a nova bruxa da noite. — Disse Alura. — Se é você que matou ou não o conselho não quer saber. Ele quer a nova bruxa, seja eu ou você, e eu é que não vou! — Disse Alura gargalhando. — Querem bolo? — Perguntou e Vic foi a única ali que pareceu interessada, mas não comeu por não poder comer outros tipos de coisas além de carne. — Vocês que perdem. — Ela respondeu.

  — Anáhla... Eles vão me matar!

— Ah... — Anáhla encarou Jane. — O que quer que eu faça?!

— Eu voto pra prendermos sua mãe e levá-la nem que seja morta! Mortos não contam histórias! — Disse Serena e Alura rosnou pra ela e logo sorriu.

— Ela matou nossos pais Anáhla...

— Eu ainda estou aqui, sabia? — Disse Alura.

  Vic encarou Anáhla, ela inquieta sem saber o que fazer, encarou Alura que parecia não ligar, ela sabia se cuidar e sabia fugir quando quisesse, mas queria saber o que Anáhla iria fazer. Já Vic respirou fundo.

— Temos que descobrir quem matou essas fadas, enquanto isso não acontecer não podemos voltar...

— É uma pena, por que aqui nenhuma de você irão ficar. — Respondeu Alura. — Tentaram me levar a força, e isso eu não perdoo. — Ela fez sinal de não com a cabeça negando várias vezes, e rindo logo depois.

— Posso conversar com você? — Perguntou Serena extremamente séria e Anáhla fez que sim com a cabeça, ambas saindo da casa. Jane ficou andando de um lado para o outro murmurando algo.

— Sabe o que eu acho? — perguntou Alura para Vic.

— O que? 

— Que você viu em Anáhla, o que não encontrou dentro de si. Ela é como o seu anjo da guarda mental e você o anjo da guarda físico dela. Se eu fosse você eu correria pra longe, tudo o que Anáhla toca apodrece, e tudo o que você toca também. Tem que sumir de Arghalon Victórika. Aqui não é o seu lugar, a coroa de cinzas não merece quem a protege, e muito menos quem em breve governará a terra.

— Você odeia Anáhla tanto assim? 

— Não... Claro que não, eu estou protegendo ela de você, e você dela. 

— Quer que eu me afaste dela, sabendo que é minha irmã.

  Alura suspirou,  e se sentou perto de Victórika. Ela encarou os olhos roxos da vampira e tocou o seu rosto.

— Anáhla Clawsdorne... Não é a sua irmã. — Disse ela e Vic franziu o cenho da testa. — Ela apareceu na minha porta quando era um bebê abandonada por ser um ser amaldiçoado. Ou eu a criava, ou ela morreria sozinha.

— Que? — Ela perguntou como se não tivesse escutado, como se tivesse ouvido algo errado.

— Esconder a verdade dela, é a melhor opção, Anáhla precisa acreditar que sou a mãe dela. Pelo bem dela, e de Arghalon.

— Por que? Ela pensa que sou a irmã dela!

— Por que saber quem foram os pais dela, irá destruir ela por completo e ela nunca será a mesma. — A bruxa abaixou a mão.

— E desde quando se importa?

— Eu sou rígida, e muito das vezes pareço ser louca, as trevas falam comigo as vezes, e eu dou ouvidos, mas ainda sou Alura Clawsdorne, que era antes... Tenho outro modo de viver para sobreviver, mas ainda amo minhas filhas.

— Eu acho bem difícil isso vindo de você. Por que me contou isso? O que quer de mim em retorno?

— Você sabe exatamente o que eu quero... Quero o que você tirou de mim e aprisionou naquela árvore em Kahsdor! Se acha que eu sou uma péssima mãe... não tenha dúvida de que você supera como o ser mais desprezível de Ohradör, praga dos Azabrast!

***

  Anáhla cruzou os braços.

— Olha, nós duas sabemos como isso vai dar, se chegarmos lá dizendo que não foi sua mãe o conselho nos condena por proteger uma assassina, Jane fez besteira, sim, ela fez, mas ainda é uma de nós, sabe o que vão fazer com ela se ela não matou essas fadinhas Anáhla? Acha justo?! O poder de decisão é seu, se entregarmos sua mãe ao conselho e avisar que fomos incapazes de derrotá-la, eles virão com as guerreiras atrás dela. Sabemos onde ela mora e temos testemunhas a favor!

— Eu sei... Vão matá-la!

— E? Não acha que ela merece depois de tudo o que ela fez? Ela te trata como lixo! Anáhla acorda, ela não ama você, ela não se importa com você! Só está te usando! — Disse serena. — Temos que entregar ela, e finalmente um pingo de justiça será feita.

— Pra quem? Pra Arghalon ou pra uma vingança?

— pare de ser infantil! Mas que droga eu estou tentando ser compreensiva aqui!

— Sério? Está jogando na minha cara que a ÚNICA família que me resta me trata como lixo e que sabendo que desta vez ela é inocente eu devo reportá-la ao conselho pra que eles a matem? — Perguntou olhando nos olhos da fada que pareceu inapta a devolver uma resposta coerente. — Eu entendo. Sério. Fiquei de joelhos pra todo mundo que me tratou mal, você, o conselho... o meu povo me trata pior do que Alura me tratou aqui, e eu vivi com isso, eu superei isso! Você só está vendo as coisas pela sua visão... E a minha?

— E qual é a sua visão?

— Eu perdi meu pai! Por uma magia que EU surtei na minha mãe e ela ficou assim! Eu perdi amigos por que minha mãe matou os pais deles! Perdi tudo em Arghalon, perdi o respeito, perdi TUDO, a única coisa que me manteve viva foi saber que de certa forma eu sou especial por ser uma das herdeiras. A mãe natureza não condenou minha mãe a morte por respeito a uma criança perdida sem saber o que fazer! Por causa disso ela foi banida e não morta, por que você tem suas amigas, seus primos e familiares, e o que eu tenho? Eu tenho Alura. Você reclama da Mãe natureza me dar atenção, mas na verdade ela é a única que teve piedade de conversar comigo... Eu estou sozinha! E aí? E se fosse o contrário? — Perguntou.

  Serena a encarou como se pensasse nisso como jamais pensou, era verdade, ninguém olhava para ela, só olhava pelo erro dela, que ocorreu quando ela era apenas uma mera criança.

— Todos carregamos fardos, mas somente os fortes se adéqua para superar o peso deles, quando você vai superar o seu Serena? — Perguntou Anáhla entrando na casa.

Tronos da noite - Coroa de Cinzas - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora