Vic encarava a árvore onde estava aprisionado seu pai. Ela não o via desde quando trouxe ele até lá. A verdade era bruta, mas necessária, ela acreditava que tinha feito isso pelo bem dos quatro reinos, ou talvez fosse apenas vingança mesmo. Anáhla provavelmente iria tentar soltar Dante afinal ela o escutou e ele deve ter se vitimado, Vic não podia permitir isso acontecer, entretanto o ódio de que sua fada nunca mais falaria com ela novamente é o que corroeu ainda mais a vampira.
Vic estalou os dedos e a árvore abriu passagem para que ela entrasse.
Lá dentro estava aceso graças à magia de Anáhla, ainda fornecendo luz para que enxergassem o toco oco da árvore que servia de prisão para Dante.
Ela caminhou vagamente com seu casaco de couro se arrastando pelo chão. seus olhos arroxeados brilhavam de ódio enquanto via o homem de cabelos e barbas enormes com sua face pálida e fraca ali, acorrentado como se não fosse nada.
— Faz quantos anos? — ele perguntou comida voz rouca e maciça.
— Muito anos...
— O que a trás aqui... Victórika?
Ele a encarou com firmeza de um homem que entende a traição da filha, o problema é que Vic não suportava encará-lo.
— Deveria me agradecer por estar vivo, mas em compensação tentou persuadir a fada para me odiar.
— Anáhla? — Perguntou tendo a certeza que havia conseguido fazer a fada odiar a vampira e então ele sorriu. — Ela é uma garota encantadora. Diga-me, o que aconteceu para que seu destino e o dela se traçassem de forma tão... Específica? Afinal vocês possuem a mesma criadora.
— Anáhla não é filha de Alura, não biológica...
— Não deixa de ter sido criada como uma. Você recusa a aceitar que são irmãs... Teria um motivo para isso? — Rapidamente Vic se lembrou das palavras de Hector novamente " Você está apaixonada por ela" e logo removeu esse pensamento.
— Você não sabe de nada. E nunca vai saber.
— Seu ódio por mim, foi o que fez os reinos se separarem. Por sua causa todas as raças estão separadas e eu estou aqui.
— Preso. E vidas foram poupadas.
— Disse a maior assassina de Ohrador.
— VOCÊ ME FEZ ASSIM! — Ela gritou. — Elias sempre foi o maior assassino! E você sempre passava a mão na cabeça dele, e quando foi comigo você me julgou. Afinal eu sou a filha bastarda não é?! VOCÊ NUNCA ME AMOU, NUNCA ME ASSUMIU COMO FILHA! Ninguém sabe da minha linhagem pai! Por que você nunca quis.
— Você tem razão. Elias é meu primogênito, era pra ele assumir meu trono, e vocês os expulsaram.
— Elias é um psicopata.
— Assim como você.
— EU FIZ O QUE ERA NECESSÁRIO. Vampiros são uma raça nojenta, vocês destroem tudo que tocam se acham superiores a todas as raças!
— Eu entendo que pense assim, afinal você é uma mestiça!
— Por isso não me ama?
— Você foi um erro. Entenda, mestiços eram lendas, até você nascer. Era impossível eu engravidar sua mãe e acreditei fielmente nisso. O problema foi que você nasceu e isso foi um erro.
— Por que?
— POR QUE EU ERA UM REI! — Seu grito ouço ecoou sobra as paredes de madeira com uma mistura de ódio e indignação — Meu povo me via como um ser perfeito! FUI ADORADO! FUI PODEROSO! UM REI! Não alguém que iria gerar uma aberração! Então sim! Eu escondi você por que eu não tive escolha. Mas você não era inútil! Você tinha poderes poderia lutar por mim poderia ser uma grande guerreira! Mas tive que lhe corrigir, por isso a tranquei e a repudiei, POR QUE VOCÊ É UMA ABERRAÇÃO VICTÓRIKA! VOCÊ É UM ERRO! UM FRUTO DE UMA BRUXA, UMA ABERRAÇÃO NOJENTA QUE NUNCA E JAMAIS ASSUMIRIA MEU TRONO!! — Ele terminou o desabafo e logo depois abaixou a cabeça. — Eu nunca te amei, não sou capaz de amar você nunca.
As palavras de Dante ainda ecoavam na cabeça dela, e ela ainda absorvia cada sílaba enquanto refletia sobre, Victórika não chorou, ela imaginava que as palavras duras do pai eram algo normal. Ela se preparou a vida toda por esse momento e por isso evitou de ir vê-lo, sabia que ele ainda não se arrependeu do que fez com ela.
De todas as vezes que a prendeu em um local escuro, de todas as vezes que a xingou e a chamou de aberração, de inútil.
Essa era só mais uma vez.
— E esse foi o meu maior erro. Quer saber o por que você ainda está vivo? — Dante não respondeu. — É por que mesmo assim eu ainda sou uma fada. E mesmo que tenha o coração de uma assassina, eu ainda não consigo matar você. Por que você é a única família que eu tenho, já que minha mãe não me ama.... E saber que você também não me ama não é novidade. Então me espelhei em Hector, achei que havia achado um pai, até ele ter tentado me matar hoje e eu quase o matei também. Você está certo. Eu sou uma aberração. E aberrações não merecem ser amados.
Concluiu sua fala deixando Dante sozinho e saindo da arvore. Ao fechar a arvore atrás dela, Vic finalmente permitiu a lágrima escorrer, mas a secou imediatamente, ela não podia chorar, tinha missões a fazer, e uma coroa para buscar.
Mas tantas memórias e tanta dor de uma só vez fez com que as lágrimas saíssem sem sua permissão, o que a deixou cada vez mais nervosa e então... Vic cedeu se ajoelhando e gritando sem se importar com quem ouvisse. Se agachou no chão sem saber como fazer aquilo para e quando olhou para frente viu a fada verde encarando a pose da garota ainda em choro.
— O que está olhando? Hã? — Perguntou irritada.
A fada se aproximou e se agachou junto com a vampira acariciando o rosto dela e sorriu.
— Você não está sozinha...
— E quem mais eu tenho?
— Uma família que você se recusa a deixar entrar.
— Anáhla me odeia. Ela nunca iria me perdoar.
— Nunca é uma palavra forte demais para ser usada. — Vic abaixou a cabeça. — Escute, todos nós somos uma abominação. E todos nós temos nossos pecados para lidar com isso, existem pessoas que acreditam que trair seu parceiro seja pior do que matá-lo. Se ficar irritada por todas as vezes que pessoas que deveriam nos amar trair-nos pelas costas isso irá corroer seu coração e é daí que nasce uma Medusa. Palavras nos machucam e deveria nos deixar mais fortes, não fracas.
— Acha que eu deveria ignorá-lo?
— É impossível ignorar as palavras de um pai. Mas com elas você pode provar que esteja enganado. Não se entregue ao seu lado vampiro, a mãe natureza acredita em você. Não é atoa que esteja aqui com a herdeira dela.
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Tronos da noite - Coroa de Cinzas - Vol 1
FantasyA coroa do falecido rei dos quatro reinos foi roubada. Após 88 anos presa em Kahrsdor, a vampira Victórika recebe uma visita desconhecia alegando o roubo da coroa de cinzas, com a falta do rei, e para proteger a mãe natureza Victórika acaba escapand...