Chapter 18

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Alguns respingos atiravam-se contra a janela, tomando toda a sua extensão, dividindo-se em caminhos que jamais se cruzariam.

Através do tecido fino da pequena sala, era possível enxergar uma breve sombra que oscilava conforme o vento soprava por toda Otawa.

Nunca se esquece de verdade, e já se passou tanto tempo. Talvez nem isso tenha sido o suficiente para reconstruir por inteiro.

Não posso reconstruir quando sei que falta algo.

Meus pensamentos me levam à muito tempo atrás, onde eu me perdi. Onde perdi as coisas mais importantes, as mais verdadeiras.

Algumas lágrimas me forçam a ceder, e eu me rendo. Sob o clamor da chuva, ninguém pode ouvir a minha angústia.

A imagem dele, o toque, o cheiro. Tudo continua tão uniforme quanto quando o vi pela última vez. O mesmo sentimento.

Aperto os pulsos tentando rebuscar as velhas lembranças, faço dos lençóis a pele que desejo.

Os soluções vêm de súbito, impedindo que eu amaldiçoe a mim mesma por sentir tão forte, e, ao mesmo tempo, não querer.

Já faz algum tempo depois da chegada da comissão de Suna em Otawa. Não me esconderei mais, não posso. Já é tarde demais, e agora já não há mais motivos.

Só há um motivo em Comum.

Noah recolhe o desenho apanhado por Yukata no antigo orfanato em Suna. Ela o toma em mãos com cuidado exagerado, como a mais delicada seda, areia que se desfaz entre os dedos e se vai com a brisa.

O mesmo desenho todas as noites, antes de deitar-se. As mesmas marcas e dobras limitadas no papel antigo, que agora estava se desfazendo aos poucos no conto superior.

O garotinho franzino de olhos confusos, que não conseguiam decidir-se entre o glauco e o castanho, e a jovem mediana que o segurava pela mão.

Um sorriso ingênuo ergue-se sobre os lábios da mulher, refletindo a esperança que ainda cativa dentro de si, deixando uma última lágrima molhar as raízes antigas dessa planta.

-...onde você está, Shinki...

A maçaneta faz um pequeno barulho durante o giro, despertando a mulher de suas recordações. Ela se apressa em limpar o rosto e guardar a folha amassada, levantando-se e fingindo contemplar o céu pela janela, deixando que o vento cuide de secar as últimas lágrimas o mais rápido possível.

-Hã...eu não queria ter interrompido- uma voz feminina se manifesta entre a porta, já percebendo a inquietude de Noah.

-Não, eu só...estava olhando o céu mais uma vez. Entre.- ela responde de antemão, aspirando algumas lágrimas que tentam se esconder dentre as narinas.

A figura feminina parece um tanto incomodada com a cena. Ela já havia presenciado a mesma coisa nas noites que visitara Noah.

-É sobre ele.- a moça começa, com um pouco de receio sobre como tratar do assunto.

-Como andam as investigações em Suna? Você conseguiu localizar algum paradeiro?- o tom de Noah sofre uma ele alteração, a pergunta dos como uma súplica pelo sim.

Os olhos da figura escondida entre as sombras da sala parecem sem resposta, desprovidas de qualquer expectativa. Mas uma afagada a entrega, em sinal de talvez.

-Estive procurando dentre alguns documentos do Registro Geral de Suna, depois analisei alguns documentos que a Tenten me enviou, mas ainda estou muito confusa...-a moça escorrega as costas sobre a parede, encostando-se no canto.

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