Chapter 19

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"Don't forget about me. Even when I doubt you, i'm no good without you"

—TØP, Doubt.

[...]


—Eu não esperava ver você aqui.–uma pontada ríspida ecoa entre os quatro cantos da sala.

O Kazekage parecia não se importar com aquela presença familiar, mas ao mesmo tempo seus ombros tombavam de cansaço, a envergadura que entregava a chegada da casa dos 37 se jogava sobre a poltrona, tentando ignorar e não dar continuidade à aquela conversa.

Seus neurônios estavam esbaforidos, frustrados demais para ter de lidar com mais esse fardo.

Imagine, à aquela altura do campeonato, seu único momento de paz era longe da sua própria Aldeia e de Ino. As coisas pareciam não fazer mais sentido, ou mesmo vazias para quem um dia esteve tão preenchido.

—Eu estava um pouco preocupada. Soube da suposta invasão em Konoha e confesso que senti medo por nós. Natural, não? –o timbre agudo finamente se manifesta, para o azar do Kage, que já não o suporta.

Os olhos do ruivo arquejavam de impaciência, e sua postura continuava ereta, pousando o queixo sobre os dedos, observando cada gota da pouca resignação indo embora.

Agora levava os dedos entre o maxilar, manobrando os termos ainda não ditos, ou perguntando a si mesmo onde diabos Kankürou havia se metido, deixando que a sátira se exteriorizasse através de uma risada incoerente.

—Imagino o quão preocupada você deve estar. Sob o risco de uma crise, a ameaça de perder a soberania, todos os luxos e influências. A vida têm sido injusta com você, convenhamos.

Ele ri abertamente, deixando escancarado todo o seu desdém e desprezo para com a inquietude da loira.

Durante todos esses anos, ambos suportando o peso do matrimônio em razão de interesses que divergiam entre a obrigação e a ambição desmedida, demonstravam o que as tramas de cinema insistiam em romantizar; o estorvo de não amar.

Porque não importava quanto tempo iria passar, o fator da convivência com Ino nunca fora o suficiente, sequer os seus esforços para com ele. O único sentimento alimentado diariamente era a paciência por ambas as partes, para suster mais um dia, e assim por diante até os seus dias finais, onde, talvez, conseguissem enfim ser livres e seguirem os próprios caminhos para além da morte.

Embora fosse uma alternativa conveniente para ambos, o ruivo se mostrava avesso e resistente, e a prova disso eram suas inúmeras tentativas de evitar estar em casa com Ino, mostrar qualquer atitude que evidenciasse o demérito do casamento.

—Tome mais cuidado com o seu sarcasmo, Gaara. Eu estive ao seu lado todos esses anos, é normal que eu me importe com você também, é claro. É bom que isso fique bem claro. –a loira ergue-se em direção a ele, dedilhando os ombros do ruivo, de forma que não perceba a presunção que circunda a sua língua.

"Depois que todos se foram, você não tem mais ninguém a não ser eu" –sussurra.

O discorrer sobre aquilo o fez querer reconhecer que Ino estava mesmo certa. Ao longo do tempo, Kankürou e Temari tomaram suas respectivas rédeas da vida, e mesmo que ainda estivessem presentes, Gaara não se sentia mais parte do seus círculos particulares. Cada um havia feito suas próprias escolhas, cada um tinha para si suas próprias consequências, e o Kage soube que não era mais responsabilidade deles, o que havia de fato era Ino: produto a própria covardia, mais inclinada à uma cria tirana que infernizava seus dias ao longo dos anos, do que de fato sua única companhia.

— Então eu não tenho nada. Eu sinto dizer que toda essa ladainha é uma falha. O que nós dois arranjamos, o que nós inventamos para toda a vila é uma fachada, Ino. Por que será que isso sequer entra na sua cabeça?

A mulher estava calma o suficiente para manter a postura e insistir no que estava fazendo, mas a frieza do ruivo a atacou de forma que até seu estômago reprovou. Quase que automaticamente, a loira se viu em estado de surto e histeria, estapeando, dando socos contra o peito do Kage, e, ao mesmo tempo, sendo impedida pelo mesmo.

— Deveria ter dito isso antes. Bem antes. Ou melhor, deveria ter deixado bem claro no dia da maldita cerimônia: "Olhem, eu sou um covarde, deixo que todos decidam por mim, sou o meu próprio incompetent...–

—Não se esqueça que você quis isso até a morte. Aliás, não vejo o porquê dessa revolta toda. Você tem o que sempre quis; poder, grana, muitos idiotas para paparicar você e um amante eficiente. E claro, um idiota que a atura pacientemente.

O silêncio tomou conta de ambos, e o coração da loira parecia querer saltar fora dentre os seios, levando consigo toda a circulação de vida e consciência de si mesma. Para ela, Gaara não tinha noção de qualquer tipo de aproximação com Say. Ledo engano. Mas, depois de tudo, deixou passar e fez-se de surda, afinal, Gaara já deixava claro o seu descaso com relação a isso, para sua ira.

Ino sabia que, mesmo que dividisse um quarto com o Kage, suas vidas ainda eram independentes, avulsas como grãos de areias que voam, oscilando em direções distintas.

—Faça apenas o seu dever. Não há mais tempo para birras, Kazekage. Seja do seu gosto ou não. Você tinha total noção de que teria de abrir mão. Talvez eu seja egoísta, mas e você? Eu estou aqui, sempre estive, e eu sou a sua esposa, conviva com isso.

Os lábios tentavam cruzar o pequeno espaço que a separava do longo pescoço do ruivo, enquanto Ino recitava o seu ultimato que selava o ciclo infernal para ambos.

—Com licença, Gaara. Eu vi as suas ligações, aconteceu alg–...

A voz do irmão do meio surgiu entre a brechas que dividiam seu inferno da liberdade fora dali, adentrando a sala e aliviando os neurônios do Kage.

Kankürou pôde notar o descarregamento da tensão dos dedos do Kage percorrendo os ombros, os inclinando em tom de cansaço e subindo aos lábios em forma de exaustão.

— Leve-a daqui. –e virou-se para abrir alguns documentos, ignorando por completo a existência dos dois, sem mesmo apresentar a sua tese à Kankürou.

SEMPRE [EM ANDAMENTO/ REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora