Capítulo 18 - Traído

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Os encontros dos amantes aconteciam uma ou duas vezes por semana. Eles sempre eram cautelosos. Se entregavam de corpo e alma um para o outro.

Nos outros dias que não se encontravam, eles trocavam e-mail por meio de contas não oficiais, nunca por mensagens sms, raramente por telefonemas. Mas isso não era o bastante para Elaine. A paixão dela por Lucas havia chegado ao grau de fanatismo, onde nos dias que não se viam, ela ficava louca para vê-lo, ansiosa para saber onde ele estava, com quem estava, o que estava fazendo. Tudo isso era demonstrado por meio das mensagens trocadas no e-mail. Ela sempre queria saber bem mais de como havia sido o dia dele. Ele não se incomodava, contava tudo, mas não tinha a mesma fissura que ela tinha.

Essa obsessão pelo amante acabava fazendo ela deixar seu marido de lado. Ela não dava mais carinho, não conversava direito com o mesmo, não lhe dava mais amor. Aos poucos ela passou a não dar mais atenção a ele, deixava o seu bilhete premiado escapulir. Nem ela percebia suas atitudes frias, nem Raul percebia. Elaine também limitou o sexo com o seu marido para uma vez por semana e nem mesmo quando fazia sexo com ele, ela dava o melhor de si, apenas fingia orgasmo, ficava quieta na cama, e em menos de dez minutos aquilo se acabava. Ela não sentia prazer por ele, talvez ela nunca sentiu, mas se comportava como uma verdadeira puta na cama. Agora ela só era puta na cama quando estava com Lucas, com ela o dominando ou deixando ser dominada.

Fazia cerca de seis meses que Lucas e Elaine havia retornado a serem amantes. A sua mente pertencia apenas a Lucas, seu corpo, seu amor, tudo, e a mesma não tinha medo de deixar isso claro para ele que também falava o mesmo, porém a intensidade dela sempre era maior.

Também ela passou a descansar mais a sua imagem. Já não queria mais comparecer em festas e eventos, e nem queria sair de casa, a não ser para encontrar com o seu amante. Passou também a não querer mais sair com Raul para os jantares ao qual o casal era convidado, fazendo Raul muitas vezes ir sozinho ou apenas não ir, a perdoando quando a mesma dizia que estava com enxaqueca ou com cólicas, ou outra doença que surgia de repente em sua cabeça, mas que na verdade ela não queria mais sair com seu marido, pois não conseguia mais esconder o nojo que sentia por ele. Sim, ela sentia nojo do corpo gorduroso e flácido dele, sentia nojo do rosto enrugado, do nariz e ouvido cheio de pêlos pulando para fora. Sentia nojo dos beijos, da forma como ele comia, do jeito que ele andava, do jeito que ele falava. Ela sentia nojo em tudo dele. E desabafava quando estava com Lucas, desabafava do nojo que sentia do marido. Mas Raul não percebia a repulsa da esposa, ele a amava mais do que qualquer outra pessoa, até mesmo mais do que seus filhos. Talvez por conta do excesso de trabalho, ele não notou nada, nenhuma mudança de comportamento dela.

Tinha coisas que incomodava Elaine. Uma dessas coisas era o motorista, que era para ser dela, mas que há muito tempo a mesma não usava.

Ela sempre desconfiou que o seu motorista, a vigiava e relatava para o seu marido as coisas que a mesma fazia. Mesmo que ela não usasse ele, preferisse pegar um táxi, o mesmo a seguia. Mas o motorista nunca conseguiu flagrá-la junto de seu amante.

Porém, a medida em que ela deixava cada vez mais de sair para os lugares, muitas vezes saindo do seu apartamento apenas para encontrar com Lucas, ela percebeu que a situação estava ficando complicada e que só queria liberdade.

Então arquitetou um plano para que aquele motorista, que era querido por Raul, saísse de sua vida. A bela loira de olhos verdes sabia que não adiantava pedir para que seu marido demitisse o motorista, ele não faria. Mas pensou em uma maneira do mesmo ser demitido. É claro que a inspiração veio das novelas que assistia vez em quando.

Raul tinha uma enorme paixão por relógios. Ele tinha uma coleção pessoal onde todo dia o mesmo abria a gaveta, pegava um e fechava a gaveta, guardando aquele relógio no mesmo lugar, com o mesmo cuidado que havia pegado, assim que chegava a noite em casa. Seus relógios eram caros, acima de R$:1.000 reais. Alguns tinham sido em dólares. Ele nunca emprestava e nem se desfazia, pois para ele um belo relógio de pulso tinha um símbolo de status social que indicava que aquela pessoa tinha muito dinheiro. Se algum relógio desaparecesse, ele ficaria louco, além de vasculhar, junto com a polícia, os quatro canto do mundo em busca do mesmo, em busca de punir o ladrão.

Anjo FalsoOnde histórias criam vida. Descubra agora