20. Enquanto ainda podemos

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O dia mal havia amanhecido e Lisa já estava de pé, ou melhor, sentada na traseira do carro de Kwan junto de sua avó para buscar seu pai e sua mãe no aeroporto já que haviam chegado há pouco tempo em Sokcho-si. As chances de Lalisa não conseguir encarar sua mãe pela dor que estava sentindo era grande, 3 dias era tão pouco, ela já perdeu um deles, perder mais três ou dois não era sua intenção.
Desceram do carro deixando Kwan arrumando espaço para colocar a cadeira de rodas no porta malas enquanto buscavam por ambos Manobans, que as esperavam em frente a uma loja que Lisa ao menos fez questão de reparar o nome sentindo as lágrimas se formarem por ver sua mãe daquele jeito, sem ao menos conseguir se mover direito, uma facada no peito doeria muito menos. E por mais que seu choro estivesse entalado, as lágrimas não desciam, talvez o fato de ter estado em prantos no dia anterior com Chaeyoung ao seu lado tenha sugado toda água que havia em seu corpo, pelo menos isso em sua cabeça.

Sem dizerem ao menos uma única palavra, se dirigiram de volta até o casarão Manoban, onde foram bem recebidos por Jennie e Jisoo preocupadas. Após ficarem sabendo de tudo apenas um dia antes as deixava aflitas, sem saberem o que fazer ou dizer, como apoiar Lisa e Marco, Kanya e Kwan, nada parecia fazer sentido quando viram Pitchit com o rosto - que era totalmente alegre - apagado. Jisoo, quem mais passou tempo com a senhora, se ajoelhou perto dela a vendo sorrir, foi o suficiente para seus olhos encherem de lágrimas.

- Olá tia Pit. - sussurrou inconscientemente lembrando do apelido carinhoso que a chamava desde que se entendia por gente. - Você não se lembra de mim, não é?

Pitchit apenas negou fraco com o mesmo sorriso no rosto. Nada fazia sentido em sua memória, mas em seu coração, era como se tudo estivesse claro o suficiente, todas as memórias, tudo. Marco lembrou-se da vez em que Lisa e Jisoo estavam correndo pelo jardim da casa de seus avós, lembra-se claramente de como sua filha ralou o joelho e sua mulher a ajudou com alguns cuidados e um abraço dizendo que ia ficar tudo bem. Ele nunca imaginou que memórias doessem tanto.
Foi a vez de Jennie se aproximar, com seu lindo sorriso gengival, talvez nem tão sincero, mas o suficiente para deixar Pitchit confortável.

- Estava com saudades da mulher que Lisa copiou a aparência inteira. - Lalisa se permitiu sorrir pela primeira vez desde que acordou, Jennie a fazia sorrir nos piores momentos, por isso a amava tanto. - Mesmo que você não se lembre de nós aqui, - apontou para a cabeça da mais velha. - você se lembra bem aqui, não é?

Pitchit fez menção de colocar a mão no coração, sorrindo largamente, por um motivo extremamente bobo. Seu coração lhe dizia tanta coisa, mas sua cabeça não era capaz de processar tudo de uma única vez, talvez esse fosse seu maior problema e angústia. A ajudaram a entrar para dentro da casa deixando-a na sala assistindo um programa aleatório de televisão, que a cada minuto se esquecia da cena anterior, questionando seu marido que permanecia ao seu lado, segurando sua mão. Já Lisa, permanecia com a cabeça baixa na mesa se sentindo perdida com seus fones em ligação com Chaeyoung, a insistindo para ir até ela, jurando não conseguir aguentar tudo sozinha.
Infelizmente não conseguiria o apoio de Jisoo a àquela altura, já que a Kim se encontrava no banheiro, enjoada, o maior baque de sua vida foi saber que uma das mulheres da sua vida iria morrer, não existe coisa pior, existe?

Lisa desligou o telefone após a Park dizer que chegaria em minutos, respirando fundo, buscando o ar que tanto lhe faltava. O2 era o mais tinha, mas ao mesmo tempo, o que mais a abandonava quando realmente estava precisando. Levantou calmamente evitando arrastar a cadeira pedindo um minuto a seu pai, que logo foi cedido, já que Marco teria de conversar com os pais de sua mulher uma hora ou outra.
Pitchit olhou para o lado assustada vendo Lisa se sentar ao seu lado e encara-la, de forma carinhosa e dolorosa, ela sentia tudo isso, afinal, era sua mãe.

- Você se parece comigo. - sussurrou para Lalisa após tanto tempo separadas, foi o suficiente para fazê-la sorrir.

- Posso lhe contar um pequeno segredo? - a mais velha acenou frenética deixando Lisa risonha. - Eu sou sua filha, e sempre serei.

O queixo da mulher caiu apontando para si mesma, se sentia como se tivesse acabado de descobrir um continente que logo deixaria para trás.

- Você é minha filha? - deu ênfase no "minha" passando a mão no rosto de Lisa.

- Sim, eu sou!

Riu fraco observando Pitchit deitar a cabeça para o lado.

- O que você é?

Foi uma pergunta inocente, ela já havia se esquecido, aquilo estava matando Lisa por dentro, mas ela não desistiria. Repetiria todos os dias a sua mãe quem ela era, um dia ela se lembraria, mesmo que não estivesse mais aqui para contar como isso aconteceu.
Negou beijando sua testa indo abrir a porta que havia acabado de ter tido a campainha tocada, então claramente sabia quem era, tocando a maçaneta e a abrindo vendo a loira com as mãos nos joelhos buscando oxigênio. Ela tinha corrido até ali, ela correu somente porque Lisa a chamou.

Ah, droga, eu estou completamente apaixonada por essa mulher. ~ Pensou Lalisa a abraçando no mesmo instante que Chaeyoung fez menção de falar algo.
Reclamou sobre estar transpirando, mas a morena pouco se importava, só de estar ali com a Park era o suficiente para sentir todo o peso que lhe mantinha presa desaparecer em um piscar de olhos. Como se fosse as badaladas da meia-noite para Cinderela, tudo sumia, mas em seu caso, era apenas os problemas que lhe consumiam durante noites e noites em que esteve sozinha em seu quarto.

- Você correu até aqui, não foi? - perguntou no pé de seu ouvido, causando arrepios na mais velha.

- Um pouco. - comprimiu os lábios olhando para o céu, ele estava um pouco mais cinza que o normal.

- Obrigada. - beijou sua têmpora adentrando o local junto dela, que correu os olhos diretamente para Pitchit, que já estava a encarando.

- Ei, Lalisa, estou nervosa. - murmurou na orelha de Lisa, que a assegurou de que estava tudo bem se aproximando de sua mãe aos poucos.

Chaeyoung ajoelhou-se ficando de frente para a senhora Manoban que sorriu ao encarar os castanhos intensos da Park. Lisa sabia que se aquelas não fossem as condições em que estivessem se encontrando, sua mãe metralharia sua garota de perguntas retóricas ou não, apenas para ver como a loira reagiria.
Mentiu dizendo que iria organizar seu quarto somente para deixar ambas sozinhas. Na sua cabeça, seria melhor assim de qualquer forma.
Observaram-a subir os degraus fazendo Chaeyoung suspirar alto segurando as mãos de Pitchit sem querer a assustando, contudo, cedendo minutos depois.

- Eu não sei como iniciar uma conversa, me desculpe. - apoio a testa nos joelhos dobrados da mulher a sua frente.

- Não peça desculpas, você não me fez mal algum. - ela sorriu.

- Eu sei que você irá esquecer de mim em alguns minutos, nós mal nos conhecemos e eu já sinto como se a senhora fosse parte de mim. - encarou Pitchit mais uma vez. - Mas eu poderia lhe fazer uma pergunta?

Afirmou lentamente. Surpreendentemente, Pitchit ainda não havia se esquecido tão rapidamente de Chaeyoung, se sentindo até mesmo confortável ao seu lado.

- Eu poderei, um dia, ter Lalisa Manoban para mim? - questionou inocentemente.

- Se você a ama, tem o direito de tudo, não acha?

- Eu a amo. - suspirou. - Mas ainda tenho esse direito?

- Todos temos, não tenha medo.

Sorriram mutualmente e Chaeyoung a agradeceu várias vezes lhe dando um abraço, no entanto, logo foi questionada pela mulher de cabelos escuros a sua frente pelo o que estava agradecendo e quem era, podendo se apresentar algumas vezes, já que a memória da Manoban estava extremamente fraca e desgastada, contudo, não foi motivo para desanimar. Observou Lisa chegar com a sua tão amada polaroid nas mãos pedindo para que sua amada fizesse uma pose, considerando registrar aquele momento que seria inesquecível para ela, tinha certeza disso.

Se deram conta que a sala estava começando a ter mais pessoas que costumava, todos reunidos para somente uma única coisa: trazer felicidade a Pitchit Manoban enquanto ainda podiam.

Em Meio à Flores  『CHAELISA』Onde histórias criam vida. Descubra agora