Por trás das paredes do hospital

8 - Nova rotina

Helena narrando ———

Bem, preciso começar dizendo aqui que foram os três meses mais intensos da minha vida. Desde o primeiro dia de residência eu estava acostumada a apenas observar e auxiliar em cirurgias, cuidar de alguns exames, preparar pacientes para cirurgia e examinar bebês. Mas como enfermeira nesses três meses eu fiz de tudo. Em apenas um dia eu estabilizava de 10 a 15 pacientes, media pressão, dava injeções, dava pontos em ferimentos, fiz diversas suturas, vi mais partos que em toda a minha residência, aprendi tanta coisa.. Sai daquela rotina que tinha a três anos. Não foi ruim como achei que seria, ao contrário foi bom.

Resumindo, nesses três meses eu aprendi muito. Tive muito contato com pessoas que só vinham tomar uma injeção ou fazer um exame. Foi uma experiência que vou levar pra vida.
Eu fiquei na casa do Alex esse tempo todo, e ainda estou aqui. Ontem foi meu último dia na emergência do Hospital. Hoje é o meu dia de descansar para voltar a residência.
O Alex foi tão, tão paciente comigo. Me ajudou o tempo todo, trazia comida pra mim quando eu chegava mais tarde, às vezes eu chegava aqui e até a cama já estava pronta. Foi um anjo na minha vida. A gente se reaproximou de novo, e eu to tão feliz por isso. Se não fosse ele certamente eu estaria na pior. Eu preciso dizer que ele até me ajudou a esquecer o Bruno, oque foi difícil, principalmente nos primeiros dias. Eu preciso dizer também que talvez, só talvez, eu esteja tendo uma paixão pelo Alex. Mas ser tratada dessa forma, qualquer pessoa se apaixonaria.

Não vi o Bruno nenhum dia nesses três meses, e sinceramente ainda não sei como vou agir quando ver ele e todo mundo que ficou sabendo do ocorrido. Eu tava feliz na enfermagem da emergência por isso, ninguém sabia do que tinha rolado nos andares a cima e as pessoas que sabiam nem me conhecem direito. Eu precisava desse tempo.

Eu espero que agora tudo fique bem, que eu não apronte mais nenhuma e volte pra residência bem. Hoje vou ir ao Shopping com o Alex, pra comprar algumas coisinhas que acabei esquecendo no hospital e provavelmente não estão mais lá.

Esperei o Alex chegar e logo saímos. Andamos o shopping inteiro, faziam anos que não sabia oque era ter um dia inteiro de paz, sem estudar, sem pensar no trabalho. Na verdade eu pensava como agiria, mas não em cirurgias e coisas que antes eu pensava o tempo todo. Após comprarmos algumas roupas e livros, eu e o Alex fomos pra Lanchonete comer algo. Eu pedi um Milk shake de blue ice e ele pediu um açaí.

Alex: Faz tempo que eu não sabia oque era vir ao shopping e tirar o dia pra mim.

Helena: Eu não sei oque é isso desde o internato. Tava com saudades do meu tempo de estudante, quando eu ainda tinha tempo pra isso.

Alex: Logo logo vai ter, assim que acabar a residência.

Helena: Mas você já acabou e não tem. Não acha que as vezes exagera nos plantões? Enquanto os outros cirurgiões realizam de 15 a 20 cirurgias por quinzena você realiza 30.

Alex: Eu sou um neurocirurgião Helena, um dos poucos nessa cidade. E além do mais, eu não tenho ninguém pra sair e curtir o tempo fora do trabalho.

Helena: Deveria descansar mais. E você tem pessoas pra saírem com você sim. Tem seus amigos, tem eu, o Bruno.

Alex: Mas eu não tenho alguém além disso, entende?

Helena: É, eu sei bem como é.

Alex: Chora não neném. Se acha que o Bruno não vai querer te esperar? Quer dizer, fora do hospital vocês podem ter algo.

Helena: Eu não sei... Ele nem me procurou nesses três meses. Ele perguntou algo pra você?

Alex: Não.. Mas não fica assim. Você vai achar a pessoa certa. Só tem que ter paciência. Vamos indo?