11. Floricultura parte I

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À mesa, Eda encarava sua tia e boa irmã Fifi. Suas mãos tremiam de felicidade e alívio ao empurrar o cheque pelo surrado tampo da mesa da cozinha, coberto de sóis amarelos e felizes na toalha de plástico.

– Serkan e eu queremos que você aceite isso para pagar a hipoteca da casa e saldar as dívidas da floricultura. – anunciou ela. – Não aceito discussões ou protestos. Ele e eu conversamos muito sobre isso e temos sorte de ter tanto dinheiro. Queremos compartilhar com você. Significa muito para nós, por isso aceite o nosso presente, por favor.

A expressão desnorteada no rosto de sua tia fez lágrimas brotarem nos olhos dela. Quantas noites mal-dormidas já não passara, sentindo-se culpada por não poder ajudar sua tia a sair de sua péssimasituação financeira?

Eda odiava a impotência que a sufocava por não poder ajudar sua tia  e decidiu que se livrar desse problema compensava ter que lidar com Serkan e com seus próprios sentimentos, que cresciam a cada dia. Fornecer segurança e estabilidade para sua família aliviava uma dor profunda com a qual ela convivia desde a perda de seus pais.

– Mas como é possível? – perguntou Ayfer, pressionando as mãos trêmulas sobre seus lábios enquanto Fifi a abraçava de lado. – Serkan não deveria pensar em nós como um fardo. Vocês são um casal jovem, cheio de sonhos: o café que você quer construir, uma família com muitos filhos. Não deveriam estar se preocupando comigo, Eda.

Fifi concordou.

– Já decidi que vou me mudar para ficar com a Tia Ayfer.

Ela suspirou, impaciente com a teimosia inata de sua tia.

– Escutem, está bem? Serkan e eu temos bastante dinheiro e isso é importante para nós. Fifi, mesmo que você venha para cá isso não quer dizer que a hipoteca vai desaparecer. - Eda se inclinou para frente. - Logo vou assumir a floricultura, então não seria melhor se você pudesse se aposentar com tranquilidade, tia, realizando o tratamento que o médico indicou?

As duas se entreolharam. A esperança brilhou nos olhos de sua tia ao pegar o cheque. Eda deu o empurrãozinho final ao dizer:

– Serkan não quis vir comigo hoje. O dinheiro vem com uma única condição: Serkan não quer ouvirfalar dele nunca mais.

Tia Ayfer hesitou, dizendo:

– Mas eu preciso agradecer-lhe. Ele precisa saber o quanto sou grata, o quanto ele mudou nossas vidas.

Eda engoliu o nó que se formava em sua garganta.

– Serkan não gosta de demonstrar emoções. Quando conversamos sobre isso, ele insistiu para que nenhum de nós falasse sobre esse dinheiro de novo.

Fifi franziu o cenho.

– Ele não pode aceitar nem um simples agradecimento?

Eda sinalizou que não com a cabeça.

Tia Ayfer se empertigou na cadeira.

- Aceitaremos o cheque, Eda. Não falaremos com Serkan sobre isso, desde que você prometa que lhe dirá que ele é um anjo em nossas vidas. – a voz dela falhou. – Tenho muito orgulho de você, minha querida.

Eda a abraçou. Conversaram mais um pouco, até que ela se despediu de ambas e foi embora.

Girou a ignição de seu Fusca, que já vira dias melhores, e dirigiu até a floricultura com um turbilhão de pensamentos passando por sua cabeça.

Mentir a tia sobre o dinheiro era desagradável, mas necessário. Ela jamais diria para Serkan o quanto a situação financeira delas tinha ficado ruim. Tinha espasmos só de pensar em Serkan atirando um monte de dinheiro na direção dela como se qualquer problema pudesse ser resolvido assim.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora