20. Surpresa parte II

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Serkan encarou a esposa e disse:

– Não quero esse bebê.

A muralha de gelo que vinha ruindo dentro dele nas últimas semanas se refez de repente, e logo estava mais alta do que nunca. As únicas emoções que conseguiam atravessar a barreira eram mágoa e ressentimento. Ah, ela era boa. Era muito boa. Ele havia caído em seu ardil e agora pagaria o preço.

Atônita, Eda piscou e balançou a cabeça devagar.

– Certo. Você diz que não quer o bebê. Sei que você está com medo, mas talvez seus sentimentos mudem com o tempo.

As palavras que Selin dissera meses atrás o torturaram. A promessa de seu pai ecoava em sua cabeça. Ele fora advertido de que Eda usaria todas as armas em seu alcance para prendê-lo, mas não acreditara. Confiara em sua inocência e acabou se apaixonando por ela.

Ele havia deixado tudo bem claro desde o início e foi bastante burro para acreditar que ela o respeitava o suficiente para não tentar prendê-lo àquele casamento.

E agora ela o amava.

Serkan quase sufocou com sua risada amarga. Desde o dia em que descobrira os papéis do banco e que conversara com seu pai, havia uma guerra dentro dele entre a dúvida e sua necessidade de acreditar nela. Assim, decidira deixar o assunto de lado e confiar nela. Confiar que ela um dia contaria a ele como realmente gastara o dinheiro.

Mas agora ela revelava a sua trama com o rosto radiante e os olhos cheios de triunfo. Um bebê.

Ela estava esperando um bebê de Serkan.

O ódio cresceu e envolveu ele em uma nuvem negra, e ele disse:

– Qual o problema, Eda? Não ficou satisfeita com apenas duzentos e cinquenta mil? Ou o tempo deixou você gananciosa?

A dor transfigurou o rosto dela, mas agora ele sabia que era tudo uma farsa, e sabia bem. A voz dela falhou quando disse:

– Do que você está falando?

– Pode abrir o jogo, Eda. Você é uma garota esperta. O fim do contrato está se aproximando, já estamos no quinto maldito mês. Você não sabia o que ia acontecer, então planejou esse pequeno acidente para selar de vez o nosso contrato. O problema é que eu não quero esse bebê. Então você está de volta à estaca zero.

Ela se inclinou para a frente, abraçando a barriga com as mãos.

– Você acredita mesmo nisso? – ela inspirou com dificuldade e seu corpo todo tremeu. – Realmente acredita que fiz tudo isso de propósito, para prender você?

– Por que outro motivo você me diria que estava tomando a pílula para me fazer parar de usar camisinha? Você admitiu que queria dinheiro desde o começo e então me enganou, fazendo-me acreditar que era uma mulher independente. Eu realmente fiquei confuso. – deu uma risada seca. – Foi uma jogada muito esperta recusar o carro novo. Eu acreditei de verdade na sua historinha. Você estava só se preparando para o ato final, não é mesmo?

– Oh, meu Deus. – ela dobrou na cintura, inclinando o corpo como se estivesse sentindo dor, mas ele ficou onde estava e não sentiu nada.

Muito lentamente, Eda se levantou da cadeira. O brilho em seu rosto desapareceu. Sua face refletia tanta mágoa que ele hesitou por um instante, mas se endureceu por dentro e se forçou a encarar a verdade sobre sua esposa.

Ela era uma mentirosa. Usou uma criança inocente para conseguir o que queria e a maior vítima daquela situação seria o pobre bebê. Ele conteve um espasmo de nojo ao ver que ela ainda representava fazendo-se de vítima.

Eda se agarrou à parede e o olhou do outro lado da cozinha, horrorizada.

– Eu nunca soube... – disse, com a voz rouca. – Nunca soube que era isso o que você realmente pensava de mim. Eu pensei... – Eda respirou fundo e ergueu o queixo, orgulhosa. – Acho que não importa o que eu pensei, não é mesmo?

Ela se virou, fazendo menção de sair da cozinha, e ele atirou suas últimas palavras contra ela.

– Você cometeu um grande erro, Eda.

– Você está certo – sussurrou ela. – Cometi mesmo.

E então ela se foi.

A porta se fechou. Parado na cozinha por um longo tempo, Serkan ouviu o barulho de patas se aproximando.

Sirius sentou-se ao lado dele, seus olhos dourados cheios da certeza de que Eda fora embora para sempre. O cão ganiu baixinho e a casa vibrou com um silêncio sinistro. Ambos estavam sozinhos de novo, mas Serkan não tinha emoções e, portanto, não iria chorar.

Pelo menos o cachorro sofreria pelos dois.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora