15. Beijo roubado

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Serkan estava no deque, observando a fileira de barcos balançar ao sabor da correnteza. Ondas temperamentais fustigavam as margens como um prenúncio do inverno. Os raios do sol poente, cor de laranja queimado, brilhavam através da escuridão que assomava, iluminando a estrutura da ponte Newburgh-Beacon. Enfiou as mãos por dentro de seu terno Marani e respirou o ar limpo e fresco. Senti uma calma penetrar seu corpo ao admirar as montanhas que tanto amava e, mais uma vez, soube que pertencia àquele lugar.

Dez anos atrás, toda aquela área vivia infestada de traficantes de drogas e viciados em crack, as belas linhas do rio estavam sempre cheias de lixo e os elegantes edifícios de tijolos aparentes viviam vazios, as janelas quebradas emitindo um silencioso pedido de socorro. Por fim, investidores perceberam o potencial da área e começaram o projeto de restauração.

Cautelosos, Serkan e seu tio acompanharam o projeto de longe e esperaram sua chance. De alguma forma, ambos suspeitavam que a oportunidade da Art Life estava por vir. O primeiro empresário corajoso a abrir um bar naquela área começou a atrair um grupo novo de pessoas que queriam tomar uma cerveja e comer uns petiscos vendo as gaivotas. A polícia intensificou o trabalho no local e surgiram ONGs com projetos de limpeza. Os últimos cinco anos provaram que o projeto era digno da atenção que tinha recebido dos investidores. Os restaurantes e o spa que Serkan queria construir mudariam para sempre a cara do vale do rio Hudson. E ele sabia que esse projeto estava em seu destino.

Sua mente se perdeu, lembrando-se de sua reunião com Hyoshi Komo. Serkan conseguira fechar o negócio, finalmente. Agora havia apenas um homem entre ele e seu grande sonho. Miran Conte.

Serkan praguejou baixinho, observando o sol se por no horizonte. Hyoshi concordara em dar o contrato a ele, desde que Conte o apoiasse. Se Serkan não conseguisse convencer Conte de que era o homem certo para o trabalho, Hyoshi escolheria outro arquiteto e a Art Life não teria chance. Ele não podia deixar isso acontecer.

Viajara o mundo todo em busca da melhor educação arquitetônica. Já observara os domos dourados de Florença e as elegantes torres altas de Paris. Já vira ilhas exóticas intocadas, a majestade dos Alpes suíços, as pedras brutas do Grand Canyon.

Nada se equiparava àquelas montanhas em seus olhos, sua mente e seu coração. Um sorriso zombeteiro surgiu em seus lábios, provocado por aquele pensamento sentimental que surgira em sua cabeça e se recusava a deixá-lo.

Passou um bom tempo analisando a paisagem enquanto sua mente tentava resolver os problemas com sua esposa, o contrato e Conte, sem sucesso. Seu celular tocou, interrompendo sua cadeia de pensamentos.

Ele atendeu sem nem checar o identificador de chamadas.

– Alô.

– Serkan?

Conseguiu reprimir um palavrão.

– Selin. O que você quer?

Houve uma pausa, e ela respondeu:

– Preciso ver você. Tenho um assunto importante para discutir e não pode ser pelo telefone. 

– Estou perto do rio. Por que não dá uma passada no escritório amanhã?

– Na marina?

– Sim, mas...

– Ok, estou saindo. Te encontro aí em dez minutos?

E desligou.

– Droga. – murmurou ele. 

Fez uma rápida avaliação de suas opções e lembrou a si mesmo de que tinha todo o direito de não aparecer, mas a culpa o incomodou. Selin ainda podia estar chateada com o fim abrupto do relacionamento. Talvez estivesse precisando gritar um pouco mais com ele. Sabia que as mulheres acreditavam em encerrar as coisas e eram muito competitivas. Selin devia estar ficando louca com a ideia de ter "perdido" Serkan para Eda.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora