14. Visitantes parte II

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Havia alguém na casa.

Serkan se sentou na cama e escutou. Um leve som de algo arranhando ecoava no ar. Como alguém arranhando uma chave na fechadura, tentando abrir a porta. Com movimentos rápidos e econômicos, ele foi até a porta na ponta dos pés descalços e abriu alguns centímetros. Foi recebido pelo silêncio. E então ouviu um som.

Um murmúrio baixo. Quase um ganido.

Um arrepio percorreu sua espinha e ele considerou suas opções. Quem diabos estaria em sua casa? O alarme não disparou, o que significa que o invasor o havia desarmado. Ele não tinha arma ou spray de pimenta. O que mais eles usavam no jogo Detetive? Revólver, castiçal, faca, corda ou cano. Melhor ligar para a polícia.

Passou pela porta, pé ante pé, e se deteve na frente do quarto de Eda. Decidiu que acordá-la seria a coisa errada a fazer – ela poderia entrar em pânico ou dar ao intruso um novo alvo, e Serkan não queria isso. Seu objetivo maior era mantê-la a salvo. Pegou um taco de beisebol no armário do corredor, pegou o telefone sem fio e ligou para a polícia para reportar uma invasão.

Começou a descer as escadas para acabar com o filho da puta.

Parou ao chegar ao fim dos degraus e se escondeu nas sombras. O ar continuava parado exceto pelo som constante da geladeira. Ficou imóvel, sozinho, estudando o ambiente às escuras. A porta da frente estava trancada – alarme ativado, corrente no lugar. Estranho. Se o alarme tivesse sido desarmado, a luz vermelha estaria apagada. Talvez a porta dos fundos, mas nesse caso teria ouvido barulho de vidro quebrado, a não ser que...

Ouviu um ruído na porta do quarto de hóspedes. Avançou com cuidado, colado à parede, taco de beisebol a postos, contando os segundos para a chegada da polícia. Ele não era nenhum Clint Eastwood, mas, se conseguisse acertar um golpe bem dado com o taco, poderia se considerar um macho.

Respiração pesada. Quase arfante. Arranhões.

Mas que diabos?

Parou e estendeu a mão para a maçaneta. Seu pulso se acelerou com a dose extra de adrenalina. Combateu o medo e se controlou. Ergueu o taco, virou a maçaneta e abriu a porta com toda a força. 

– Aaaaagh!

Um bando de cães passou correndo por ele. Dois, quatro, seis, oito – um exército peludo cercou suas pernas. Cachorros pintados, cachorros grandes, cachorros pequenos – todos latindo, abanando o rabo e com a língua de fora. O taco de beisebol estava em riste, mas eles não sentiram ameaça alguma. Animados por ver um humano no meio da madrugada, todos ficaram muito alertas, querendo brincar.

Por alguns segundos, Serkan convenceu-se de que estaria sonhando e acordaria em sua cama a qualquer momento.

Então percebeu que a cena era real.

E que logo um crime aconteceria naquela casa.

Porque ele iria matar sua esposa.

O quarto estava arruinado. Papéis rasgados voavam em todas as direções. O tapete elegante estava manchado com círculos de um líquido que não parecia ser água. Uma das almofadas do sofá tinha um grande pedaço de enchimento para fora. O vaso de planta estava virado e um cachorrinho estava metendo as patas na terra. Uma edição da Architectural Digest fora mastigada e depois cuspida.

Serkan fechou os olhos. Contou até três. Abriu os olhos.

E berrou o nome da esposa a plenos pulmões.

E assim, logo ela estava correndo escada abaixo, em pânico. Ao ver o problema à sua frente, tentou diminuir a velocidade, mas vinha rápido demais. Seus pés descalços deslizaram no chão e ela trombou nele com toda a força. O ar escapou de seus pulmões, ela se apoiou nos ombros dele para recobrar o equilíbrio e o olhou.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora