13. Visitas parte I

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Serkan fechou a porta e se largou na cadeira de couro. Ficou algum tempo encarando a prancheta de desenho, enterrando as unhas nas palmas das mãos para conter o desejo que sentia. Queria criar. Imaginava projetos em calcário e tijolos aparentes, imagens fluidas de vidro e linhas elegantes. As visões dançavam por trás de suas pálpebras fechadas à noite, e aqui estava ele, dono da Art Life, preso durante a maior parte do dia em reuniões corporativas.

Ele xingou baixo. Ficava exasperado com os membros do conselho, com sua burocracia e sua mentalidade conservadora. A maioria se opunha ao projeto para a margem do rio por acreditar que a companhia iria à falência se aceitasse o trabalho e não conseguisse entregar. O conselho estava certo, mas Serkan tinha uma solução simples para isso.

Não falhar.

O jantar de Conte era no sábado seguinte e ele ainda não havia marcado uma reunião para discutir os negócios. Hyoshi Komo também não havia ligado. Preso na estaca zero, sabia que só o que podia fazer era esperar que o homem fizesse a sua jogada e contar as horas até o jantar. Talvez Conte quisesse ver como o evento social transcorria antes de marcar uma reunião, mesmo que tivesse dito o contrário a Eda.

Eda.

Só de dizer o nome dela, Serkan já sentia um soco no estômago. Lembrou-se da forma com que ela balançara a cabeça e saíra pulando pela sala numa dança da vitória após vencer a partida de xadrez na noite anterior. Uma mulher feita agindo como criança. E mais uma vez ele gargalhou de perder o ar. As companhias costumeiras de Serkan podiam até ser belas, mas sua falta de personalidade e espírito fazia com que ele não sentisse nada por elas além de uma ligação superficial. Eda, por outro lado, levava-o a se conectar com a gargalhada que vivia dentro dele como se fosse um jovem.

A linha direta dele tocou. Ele atendeu.

– Sim?

– Você deu comida pro peixe?

Serkan fechou os olhos.

– Eda, estou trabalhando.

Ela deu uma risada impaciente.

– É, eu também. Só que eu, pelo menos, me preocupo com o pobre Otto. Você deu comida pra ele? 

– Otto?

– Você ficava chamando ele de Peixe. Magoava o pobrezinho.

– Peixes não têm sentimentos. E sim, eu dei comida para ele.

– Mas é claro que peixes têm sentimentos. E falando em Otto, queria te dizer que estou preocupada com ele. Ele fica no escritório e ninguém nunca vai lá. Por que não o levamos para a sala de estar? Assim ele pode ver a gente com mais frequência.

Serkan correu a mão pelo rosto, pedindo aos céus paciência.

– Porque eu não quero um aquário arruinando o visual dos cômodos principais da casa. Foi Ceren quem me deu esse bicho semanas atrás, era pra ser uma piada, e eu o odiei logo de cara.

A frieza de Eda emanou pelo telefone.

– Fazem muita bagunça, os peixes, não é mesmo? Parece que, além de não gostar de humanos, você também não é chegado a animais. Sinto informar, mas até peixes se sentem sozinhos. Por que não arrumamos um amiguinho para fazer companhia ao Otto?

Ele se empertigou na cadeira e resolveu pôr um fim àquela conversa ridícula.

– Não, eu não quero outro peixe, e ele vai ficar onde está. Está claro?

– Como água.

E ela desligou.

Serkan xingou, agarrou a pilha mais próxima de papéis da última reunião do conselho e se pôs a trabalhar. A mulher tivera a audácia de incomodá-lo durante seu horário de trabalho para falar do peixe.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora