18. Golpe

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No dia seguinte, Serkan olhou para a esposa muito doente e balançou a cabeça em reprovação, dizendo:

- Eu avisei.

Ela grunhiu e se virou, enterrando a cabeça no travesseiro. Tossiu com um som congestionado e disse:

- Não venha me dizer isso. E eu preciso demais daquele remédio milagroso.

Ele pôs uma bandeja no criado-mudo com canja, água e suco, e disse:

- Não mesmo. O médico me advertiu para não misturar com o antibiótico e o xarope para a garganta. E nada de spray nasal também. Li um artigo sobre o assunto.

- Eu quero a minha tia.

Ele riu e plantou um beijo em seus cabelos emaranhados.

- Vou deixar você com a TV e o controle remoto, uma caixa de lenços, um livro e o telefone. Descanse bastante, eu volto logo.

- Preciso ir para a floricultura. A Fifi é péssima com os clientes.

- Ela vai se virar, não se preocupe. Agora tome a sua canja.

Ela murmurou algo enquanto ele fechava a porta.

Serkan dirigia o Fusca com um ar satisfeito. Já que Eda estava de cama, aquela era a oportunidade perfeita de trocar o óleo e os pneus do carro. Mais cedo, ele a levara ao médico, comprara os remédios e a acomodara sob os lençóis.

Uma parte dele olhava tudo do alto, observando que ele estava agindo como um marido. Um marido de verdade, não de mentira. O pior era a profunda satisfação que sentia com seu papel.

Deixou o carro na oficina, tirou os papéis do porta-luvas e se sentou para esperar o serviço ficar pronto. Na esperança de encontrar registros de outras idas à oficina, Serkan examinou os papéis bagunçados. Estacou ao ver a carta do banco rejeitando o pedido de empréstimo de Eda.

Leu a carta e observou a data. Mais de um mês atrás. Bastante tempo após o casamento. Depois de receber o dinheiro dele. O que diabos significava aquilo?

Seu celular vibrou e, distraído, atendeu sem ver quem era.

- Alô.

- Já era hora de atender minhas ligações.

Lembranças o arrastaram de volta ao passado. Acostumado, seu coração ficou frio, assim como seu tom de voz.

- Alptekin. O que você quer?

Seu pai riu.

- É assim que meu próprio filho me recebe? Como vai?

Serkan deixou a carta no colo e repassou a rotina de sempre.

- Estou bem. Já voltou do México?

- É, eu me casei. Esposa número quatro.

A mãe dele sairia de seu esconderijo para causar confusão - esse era opadrão usual. Ele era  apenas um peão que tornava o jogo mais interessante. Nauseado, ele interrompeu:

- Parabéns. Escuta, estou sem tempo para bater papo, preciso ir.

- Tem algo que eu preciso conversar com você, filho. Me encontre para o almoço.

- Desculpe, estou ocupado.

- Só preciso de uma hora, no máximo. Arranje um tempo.

O alerta pulsava através do telefone. Serkan fechou os olhos, contraindo as pálpebras com força ao lutar contra seus instintos. Era melhor encontrá-lo, para o caso de Alptekin estar planejando contestar o testamento de seu irmão e exigir alguma coisa em relação à Art Life. Mas que merda.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora