22. Perdão parte II

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Ceren pôs uma caneca de chá na frente de Eda, levando embora o cappuccino que vinha testando sua força de vontade pelos últimos minutos.

– Nada de cafeína. Tome o chá. Tem antioxidantes.

Eda deu uma risada fraca e disse:

– Tá bom, mamãe. Mas não acho que tomar um café mocha me faria tão mal assim, considerando o meu estado de exaustão.

- Cafeína prejudica o crescimento do bebê.

– É, e estresse também. E eu não estou ganhando o suficiente para ter um bebê.

– Hummm, devem ser os hormônios, mas você está mesmo muito rabugenta.

– Cen!

– Você sabe que eu gosto de te encher o saco um pouquinho. Só pra me certificar de que você não virou uma daquelas heroínas trágicas e choronas desses livros que você vive lendo.

– Vai se ferrar.

– Viu? Bem melhor assim.

Eda olhou para a amiga com carinho verdadeiro. Ia ficar tudo bem. Após um mês longe de Serkan, cada dia era um teste de vontade e força e ela era teimosa demais para se permitir o fracasso.

Não havia dito nada à família ainda, mas planejava contar tudo no próximo fim de semana. Ceren a ajudaria. E mesmo que ela ainda não houvesse conseguido o empréstimo para a expansão da floricultura e seu tão sonhado cafe, o faturamento da Sen Çal Kapimi crescia de maneira estável. Ela ia sobreviver.

Ela repetia esse mantra a cada hora de cada dia que passava longe do homem que amava, seu bebê crescendo na barriga. Ele havia feito a escolha dele, e ela precisava se conformar com a realidade.

– O conde me levou para jantar uma noite dessas.

Distraída pela perspectiva de uma boa fofoca, Eda sorriu e disse:

– E você não me disse nada?

A loira deu de ombros.

– Nós discutimos. Ele só falou de você a noite inteira. Ele está apaixonado por você, Dada.

Eda riu e disse:

– Pode acreditar em mim, não sinto nada por ele e jamais sentirei. – pôs a língua para fora com interesse. – Então vocês brigaram, foi? Acho que você finalmente conheceu alguém que é páreo para você.

Ceren riu com desdém.

– Que absurdo, Dada.

Eda contraiu os lábios com interesse, dizendo:

– Talvez ele seja o único homem capaz de bater de frente com você, amiga.

– É, realmente, a gravidez está mexendo com o seu cérebro.

Por um momento, Eda pensou ter visto um leve lampejo de mágoa nos olhos da amiga. Fez menção de dizer algo, mas nessa hora os poetas chegaram e assumiram seus lugares. Música ambiente tocava dos alto-falantes para ajudar a criar o clima. A iluminação era suave e a noite caía lá fora. A energia criativa vibrava na sala, e os poetas se alternavam para recitar seus pensamentos e sonhos ao microfone. Segurando o caderno junto ao peito, Eda estava um pouco afastada do palco e se deixou levar pelo conforto das sucessivas imagens mentais evocadas pela poesia. Fechou os olhos e deixou que seus outros sentidos a dominassem, aguçados e intensos, e se entregou às imagens que fluíam como óleo em sua mente e se fundiam como tintas em uma tela.

Houve uma pequena pausa entre um poeta e outro.

Foi quando ela ouviu aquela voz.

A princípio, sua mente estava aberta e neutra em relação à voz grave e profunda do homem que falava ao microfone. Quando seu coração fez a conexão, um medo inominável preencheu seu ser. Sua respiração falhou. Devagar, Eda se forçou a olhar o poeta no palco.

Um acordo irresistível [Edser] ✅Onde histórias criam vida. Descubra agora