Capítulo vinte e oito - Nicholas

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       Estou sem apetite. Quando chego na mansão, eu me fecho no quarto e fico pensando em como devo resolver esse problema, mas não consigo me concentrar porque Jade não sai da minha cabeça. Não dá para parar de pensar em como ela estava quando foi embora. Eu não fui muito convincente, tenho a certeza que ela virá atrás de mim. Ou talvez não, ela é muito orgulhosa e vai esperar que eu peça perdão.
     Olho para o teto, tentando achar alguma resposta, mas a cabeça dói de tanto pensar. Não sei o que fazer. Pela primeira vez, eu não sei o que fazer, talvez porque estou com medo de perder todos, porque eu não estou vendo uma saída. Talvez Maria tenha vencido a guerra.
     Fecho os olhos e apago a luz para tentar dormir, mas oiço a porta. Primeiro, Harris entra, depois Peter. Eles cruzam os braços e ficam olhando para mim no escuro. Reviro os olhos e acendo as luzes novamente.
     — Algum problema? — Pergunto.
     — Engraçado. É a mesma pergunta para você. — Peter se aproxima.
     — Eu estou bem.
     — Não está. Você terminou com a Jade.
     — E você gosta dela. — Harris continua. — Gosta mesmo!
     — Ela disse que me ama. Estou confuso.
     — Por favor, Nick! — Peter bufa. — Você não é de fugir das coisas.
     — Talvez eu não queira mais nada com ela.
     — Você não consegue mentir para a gente, Nicholas. — Harris senta na beira da cama. — Você é apaixonado pela Jade faz tempo. Todo mundo sabe disso. Agora está dizendo que não quer mais?
     — Eu só quero ficar sozinho. Não espero que vocês entendam o que está acontecendo comigo.
     — Então, nos faça entender. — Peter diz.
     Suspiro. — Acabou. Simples assim.
     — Você criou um monte de estratégias para ficar com ela. Você roubou as chaves da minha esposa para tentar convencer a Jade. Ia no bar que ela trabalha todos os dias. Você comprou coisas para ela, coleções do Bob esponja e sei mais o quê. Você...
     — Eu sei, eu sei. Mas acabou.
     — Vocês estão juntos há uma semana! — Peter olha para mim. — Não pode ter desistido assim. O que aconteceu? E não venha com essa de não querer mais porque a gente te conhece muito bem.
     Parece que não vou conseguir convencer meus irmãos. Eles são meus melhores amigos, eles sabem tudo sobre mim, mas isso não vai me ajudar nesse momento. Tenho que mentir melhor. Tenho que pensar em alguma coisa rápido.
     — Está bem. Eu estou gostando da Maria. A gente está se encontrando escondido.
     Harris ri. — Você é um péssimo mentiroso.
     — Por favor, não insistam. A vida é minha e tomo as decisões que eu quiser. Vocês também têm a vossa vida. As vossas esposas estão grávidas, deviam tratar dos vossos problemas.
     — Você é nosso irmão, Nicholas. Você é nossa família também, a gente tem que ajudar quando algo não está bem. Não podemos nos afastar. — Harris diz.
     — Eu não quero falar.
     Peter suspira. — Está bem. Qualquer coisa, a gente vai estar sempre disponível. Mas pensa muito bem no que está fazendo, Nick. Jade está muito triste. Ela realmente te ama. — Eles saem do quarto.
     Eu sei que ela me ama e isso me deixou surpreso ontem, mas foi bom ouvir e acho que estou sentindo o mesmo por ela. Mas não posso correr o risco de acontecer alguma coisa com ela e com a sua família ou com a minha família.

    A semana passou correndo. No sábado não tive noticias da Jade. Esmeralda e Safira começaram a me dar gelo, meus irmãos continuaram insistindo no assunto, meus pais até tentaram, mas não conseguiram nada. No domingo foi a mesma coisa, tirando que fui me encontrar com aquela psicopata endemoniada.
    No resto da semana foi só trabalho, casa, pensamentos sobre Jade, Esmeralda e Safira ainda estão bravas comigo, meus irmãos continuaram tentando saber o que está acontecendo, fui jogar póquer algumas vezes, bebi algumas vezes, mas não fiquei com ninguém. Não consegui quando meu coração bate por outra pessoa.
     Acabei por dormir no meu apartamento. Ainda estou me sentindo péssimo e com saudades da Jade. Gostaria que ela estivesse falando sobre tudo. Tenho saudades de tudo, até seus ciúmes. Ela também deve estar. Só pensei que em algum desses dias ela iria me procurar. Isso dói um pouco.
     Saio do banho e vou abrir a porta assim que oiço a campainha. Maria entra no apartamento vestida com uma mini saia preta, blusa vermelha, saltos altos e o cabelo em um rabo de cavalo. Ainda não sei como vou acabar com ela, mas estou trabalhando nisso.
     — Oi! Você fica um gato com cabelo molhado. — Ela tenta me tocar, mas não deixo.
     — O que você quer agora?
    — Você terminou com a Jade recentemente. A gente precisa pensar em me apresentar aos seus pais como sua namorada.
     — Ainda é muito cedo, não acha?
     — Claro que não. Eu quero casar com você.
     — Seu plano diabólico vai ter que esperar.
     — Está bem. Mas pode acreditar que eu não vou esperar muito.
     — Senão o quê?
     — Você já sabe. — Ela tira os saltos altos e a sua saia.
     Não consigo fazer ela dizer nada. Ela deve ter pensando que colocaria câmaras ou escutas no meu apartamento. Isso não está ficando fácil.
     — O que você está fazendo? Vai fazer chantagem para transar com você também?
     — Eu...
     A porta se abre nesse momento. Meu coração pára quando vejo Jade entrando no apartamento. Seus olhos encontram os meus, descem pela minha toalha, depois para a mulher quase nua ao meu lado. Doeu quando ela foi embora naquele dia, mas dói ainda mais quando vejo suas lágrimas nesse momento, a dor nos seus olhos, que dá para perceber o quanto quebrei o seu coração.
     — Então é por isso que você terminou comigo! — Ela chora. — Agora tudo está mais claro.
     — Jade... — Endireito a toalha. Mas o que eu vou dizer?
     Ela sai correndo, e quando vou atrás dela, Maria me impede ficando na minha frente. Estou me sentindo péssimo agora. Eu devia ter recebido as chaves, devia ter vestido alguma coisa, não sei, devia ter impedido que isso acontecesse, devia ter impedido tudo isso.
     — Nem pense em ir atrás dela!
     — Só quero que você saiba de algo muito importante. — Olho para ela. — Eu odeio tanto você, que não me importaria com nada de ruim que acontecesse com você. Se morresse, eu ficaria muito feliz.
     Vou para o quarto, um pouco satisfeito por ter visto seu rosto triste por causa das minhas palavras, mas talvez ela não esteja triste porque não me parece que ela sinta alguma coisa por alguém. Apenas disse a verdade.
     Olho pela janela para ver se Jade passa pela rua, mas não a vejo. Talvez ainda esteja aqui. Não sei e também não posso ir atrás dela. Quando é que isso tudo se tornou num inferno?
     Sento na cama e cubro o rosto com as minhas mãos, tentando não chorar, não pensar em como Jade deve estar nesse momento. Tenho a certeza que pensou a pior coisa de mim. Eu estava sem roupas, Maria estava praticamente nua, não tem como ela pensar que eu não queria nada com aquela imunda. E infelizmente, não posso fazer nada.

Jade - Pedras preciosas Onde histórias criam vida. Descubra agora