Capítulo trinta e um - Jade

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      Eu fui chorar num lugar mais calmo, tentando digerir tudo o que está acontecendo, quando de repente, alguém coloca um saco na minha cabeça e me leva. Eu gritei, mas ninguém me ouviu por causa da música alta e agora eu tenho medo. O homem me levou no que eu acho ser o porta-malas de um carro e atou as minhas mãos, me deixando vendada.
     Talvez não tenha sido uma boa ideia sair daquele jeito da festa, mas como eu poderia saber que alguém ia tentar me sequestrar? Eu sei que ainda estamos na mansão Tales porque o carro está parado desde que me colocaram aqui. Será que alguém quer me fazer mal?
      — Por favor, me tira daqui. Eu não tenho dinheiro.
      — Não é pelo dinheiro, querida. — Ele toca o meu ombro. — Também não é nada pessoal. Pelo menos, não para mim.
     — Se me soltar, eu não digo nada a ninguém.
     — Como se eu fosse acreditar.
     — Por favor!
     — Se você ficar quieta, vou pensar no assunto. — Ele fecha o porta-malas me fazendo chorar.
     Minha família deve estar me procurando. Eu deixei a minha bolsa na festa, mas mesmo que estivesse comigo eu não podia fazer nada. Tenho medo que ele faça alguma coisa comigo. Eu quero conhecer os meus sobrinhos, eu quero ver eles crescerem, quero estar no casamento da Rubí, quero me casar também, quero encontrar o amor da minha vida, ter os meus filhos e ser feliz também. Isso não pode terminar assim.
     — Ela está aqui? — Oiço uma vez feminina.
     — Está.
     E o porta-malas se abre. Ela tira a venda dos meus olhos e fico sem palavras quando vejo Maria. Ela sorri e recebe a arma do homem com tatuagem no pescoço. Ela vai me matar.
     — Oi, irmã. Como você está?
     — O que você quer comigo? — Pergunto.
     — Você está no meu caminho. Eu vi você tentando tirar o Nicholas de mim.
     Aceno em negação, chorando. — Não. Eu não quero mais nada com ele.
     — O que me impede de colocar uma bala na sua cabeça?
     — Por favor, não. Eu faço tudo o que você quiser.
     — Se afasta do Nicholas. E não vai contar para ninguém o que aconteceu aqui. Senão, suas irmãs e sua mãe vai dizer adeus a esse mundo, entendeu?
     — S-Sim.
     — Ótimo. Espero que seja esperta e fique em silêncio. Eu tenho homens em todos os lugares.
     — Porquê está fazendo isso? Você é minha irmã?
     — Não me orgulho disso. — Ela olha para o homem de dois metros. — Solta ela quando eu estiver longe daqui. Não quero que ninguém desconfie de nada.
      — Sim, senhora!
      — Ah! Mais uma coisa. Só para que saiba que eu não estou blefando, fui eu que mandei incendiar a sua casinha. Teria matado a Rubí, mas ela teve sorte. Precisa ter cuidado comigo, Jade. Ou devo dizer, Meredith.
     Fico ainda mais assustada depois de ouvir sua confissão. — Foi você?
     — Cuida dela, Snake. Adeus, Meredith.
      Ela devolve a arma e vai embora. Estou em choque por perceber que ela... Ela não presta. E se é realmente minha irmã, não quer saber de mim. Ela só quer saber do Nicholas. Ela quer machucar a minha família. Será que Nicholas sabe disso? Ele sabe que sua querida namorada é uma psicopata? Que tentou machucar a Rubí? Os Tales só atraem psicopatas, deveria saber disso. Ainda bem que não cresci na família dela.
     Não entendo porquê tanto ódio. Será que vale a pena machucar alguém só para ficar com um homem? Ela é assim tão desumana? Com certeza que ela não deve ser minha irmã. Eu não tenho essa frieza toda.
     O homem assustador me deixa livre, e vou correndo para dentro da mansão. Lavo o meu rosto e limpo, tirando toda a maquiagem, nem estou me importando muito com isso. Agora estou mais assustada do que nunca. Eu tenho muito medo dela.
     Alguém entra no banheiro. Fico aliviada por ser a Safira. Ela me abraça, como se soubesse que preciso de um abraço, mas não consigo parar de chorar. O que eu vou fazer? Se eu disser alguma coisa, coloco a minha família em perigo. Mas eu vou explodir se não contar para ninguém.
     — Você está bem? A gente procurou você em todos os lugares.
     — Não.
     — Não fica assim. Vou ajudar você com a maquiagem.
     — Não. Eu não quero mais ficar aqui.
     — Está bem. Vou pedir para o motorista levar você para casa.
     — Obrigada.
     Ela me leva para a sala de estar, onde Peter, Esmeralda e Nicholas estão, mas eu me sinto péssima. Quero contar, quero que eles saibam o que está acontecendo. Não vou conseguir ficar assim depois do que aconteceu.
     Nicholas olha para mim com preocupação, como se soubesse o que aconteceu comigo. Talvez ele nem saiba. Eu não sei. Apenas sento no sofá, me sentindo esgotada e com mais vontade de chorar. Estou com muito medo daquela mulher e saberia que não posso fazer nada, me faz sentir uma inútil.
     — Você está bem? — Ele pergunta.
     — Porquê você quer saber?
     — Eu só... — Mas não diz mais nada. Talvez ele nem saiba, mas será que está se sentindo mal por me fazer sofrer?
     — Não precisa dizer nada, Nicholas. Devia ir atrás da sua namorada. — Safira responde por mim.
     — Jade vai para casa.
     — Deixa que eu levo ela. — Nicholas se oferece.
     — Não. Eu não quero ir com você. Nunca. — Levanto. — Eu vou chamar um táxi.
     — Está bem.
     Safira fica ao meu lado, me olhando preocupada. Ela acha que estou assim por causa do Nicholas, mas estou assustada porque fui fechada num carro, apontada com uma arma e chantagiada. Ah! Também encontrei o culpado pelo incêndio em minha casa, mas não posso dizer nada.
     — Não. O nosso motorista leva você. Eu te acompanho. — Peter se oferece.
     — Você vai ficar sozinha em casa? — Esmeralda levanta do sofá. — Você pode dormir aqui hoje.
     — Sim. Melhor ficar.
     Olho para Nicholas. Ele desvia o olhar e depois volta para a festa como se tivesse uma coisa muito importante para fazer. Talvez tenha lembrado que tem uma namorada, mas é uma que ele não sabe que é louca que me apontou com uma arma a poucos minutos e ameaçou matar a minha família se eu contar para alguém. Estou tremendo de medo até agora.
     — Mas eu...
     — Fica, por favor! A gente liga para mamãe.
     — Não posso deixar ela sozinha. — Principalmente agora que eu sei que tem uma psicopata de olho na minha família.
     — Está bem. — Esmeralda me abraça. — Vai ficar tudo bem.
     — Não vai. — Me afasto delas e sigo Peter até a garagem. Estranhamente, o motorista já está esperando. E ainda bem porque eu não posso ficar perto do Nicholas. Ela pode saber.
    Peter se aproxima de mim. — Ouve, não fica com raiva do Nicholas. — Sussurra.
    — Porquê não? — Pergunto.
    — Eu acho que ele está precisando de ajuda. Por favor, tenha paciência. A gente vai resolver isso.
     — O quê?
     — Apenas confia em mim. — Me abraça e depois vai embora.
    Entro no carro, confusa e ainda aterrorizada demais para conseguir relaxar. Parece que o ar está difícil ou que vou ter um ataque de pânico a qualquer momento.
     Choro o caminho todo para casa, lembrando de tudo o que ela disse, até quando me chamou de Meredith e quando vi os seus pais. Eu vi o suficiente para saber que o pai dela tinha olhos castanhos frios como os dela. Ele parecia árabe, mas a mãe dela parecia europeia. Mesmo que tenham o meu sangue, eles não são meus pais. Também não quero saber porquê me abandonaram. Eles não são nada para mim.

     A noite de ontem foi difícil. Não dormi direito e não consegui dizer nada para a minha mãe. Eu estou com muito medo, e não tem ninguém para me ajudar. Tentei ligar para a polícia, mas não consegui. Tentei ligar para Peter também, mas não consigo. Não consigo porque tenho medo.
     Também está difícil fingir que está tudo bem, mas é o que tenho que fazer. Por isso, vou trabalhar e me fecho no escritório por alguns segundos. Mason vem atrás de mim logo depois e quando vejo ele, tenho vontade de gritar tudo que está entalado na garganta. Só que é muito arriscado. Não tenho a certeza se ele vai guardar esse segredo.
     — Boa noite. Como você está?
     — Melhor. Não precisa se preocupar.
     — Você ainda está péssima.
     — Bem, aconteceu muita coisa ultimamente. Acho que é normal.
     — Está bem. Se precisar de alguma coisa...
     — Obrigada por ser tão bom comigo.
     Ele sorri e me deixa sozinha. Levanto e observo pela janela o céu estrelado, lembrando do dia em que beijei Nicholas pela primeira vez. Talvez se eu soubesse que traria tantos problemas na minha vida eu não teria me envolvido. Eu deveria saber. Se aconteceu com as minhas irmãs, porquê não aconteceria comigo? Os ricos atraem todo tipo de problemas.
     Olho para a minha pulseira que ele me deu e deixo escapar uma lágrima. Fecho os olhos por alguns segundos e vou trabalhar. Não posso ficar lamentando, tenho que pensar em alguma coisa. Peter disse para confiar nele, talvez ele possa ajudar ou sabe de alguma coisa.
     Então, eu me distraio com o trabalho. Ajudo servindo as bebidas, na contabilidade, esqueço dos problemas por alguns segundos. Quando a noite termina, fico com medo de ir para casa e isso nunca aconteceu antes. Lá os pensamentos vão me perseguir.
     — Jade! — Mason segura o meu braço antes que eu saia. Michelle está atenta e não parece feliz.
     — Algum problema?
     — Se puder, pode esperar só alguns minutos, eu levo você.
     — Não precisa. Eu já chamei um táxi.
     — Está bem. Tem cuidado.
     — Vou ter.
     Saio do bar e não vejo nenhum táxi. Talvez eu deva esperar mais um pouco e se não aparecer, vou com Mason, mesmo que Michelle não goste disso porque acho que há alguma coisa entre eles.
     Meu celular começa a vibrar, mas não tenho tempo de atender porque um carro preto pára na minha frente. Dois homens saem e me agarram. Mais uma vez, colocam o saco na minha cabeça e me colocam dentro do carro, amarrando as minhas mãos. Aconteceu tudo tão rápido que quando me apercebo estou nos braços de um dos bandidos.
     Começo a chorar. — Por favor, não faça nada. Eu não fiquei perto do Nicholas. Eu não quero mais nada com ele.
     Mas não tenho resposta. Talvez porque querem realmente me machucar. Com certeza que não estão tentando apenas me dar um susto, como ontem. Vão me levar para um lugar distante e acabar comigo.
     — Podemos acabar com isso de uma vez? — Oiço um sotaque russo.
     O carro começa a se movimentar, depois tiram o saco da minha cabeça. Os homens estão usando máscaras, mas só estou de frente para um deles, porque o outro me segura. E quando o celular vibra, penso que vão fazer alguma coisa, mas não fazem nada.
     — Eu não fiz nada. — Continuo chorando. — Eu faço tudo o que vocês quiserem, me deixem ir. Não conto nada a ninguém. Eu sei ficar de boca fechada.
     Eles parecem não me ouvir. Continuam pela estrada, quando estamos longe o suficiente, talvez o lugar perfeito para cometer um homicídio, eles param o carro. Nem adianta tentar me soltar e tentar fugir. Eles são três, eu sou apenas uma.
     Está muito escuro lá fora. O homem que está dirigindo desce primeiro, depois o outro também desce, me deixando com um deles. Ele me coloca sentada e desamarra as minhas mãos que estão tremendo. Gostaria de poder fazer alguma coisa, mas eles podem ficar irritados. Então, apenas obedeço.
    Devia ter ouvido quando Mason me ofereceu carona. Porquê eu sou tão teimosa e orgulhosa? Agora, não sei o que eles vão fazer comigo. Mas algo me diz que não vou ver mais as pessoas que eu amo.
    — Por favor, me deixa ir! — Tento mais uma vez.
    — Não.
    Ele tranca as portas e se certifica que não tenho nada para me defender, eu acho. Respiro lentamente e tento não chorar para não irritar ele. Será que esses são os últimos suspiros?
    Ele tira a máscara e quando passa a mão pelos cabelos macios e me deixa ver seu rosto, meu queixo cai e quase tenho um ataque. Fecho os olhos rapidamente e volto a abrir para ter a certeza que não estou alucinando.
     — Nick?

Jade - Pedras preciosas Onde histórias criam vida. Descubra agora