Sete

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Amanda

Enviei a última mensagem e joguei meu celular longe, em cima da cama. Eu não me lembrava qual tinha sido a última vez que precisei me desculpar com alguém, muito menos de quando tinha ido tão mal nisso. Mesmo quando errava, todos ao seu redor me perdoavam antes mesmo de sentir algum tipo de arrependimento, as pessoas usavam a cartada de que eu era assim por não ter mãe, ou por meu pai ser muito ausente, no final eu acabava me safando de tudo, o que tinha me feito não criar muitas habilidades quando o assunto era pedir desculpas. 

Mas mesmo estando ciente disso, nada poderia ter me preparado para as mensagens nem um pouco amigáveis da Maria Luiza, como ela mesmo tinha me dito. Meu estômago revirava e eu não fazia ideia de como lidar com aquilo, eu já tinha pedido desculpa, o que mais ela queria de mim? Não gostava de pensar na possibilidade de alguém me odiando, ainda mais alguém que era próxima dos seus amigos, queria resolver isso e seguir a vida, tinha sido apenas um erro pequeno, a raiva que a M a r i a L u i z a sentia não era compatível com o acontecimento.

Fiquei aliviada quando ela recusou o meu convite para sair, pelo menos não teria que lidar com a situação presencialmente, o que deixava as coisas uns cinquenta por cento mais fáceis. Não gostava de ser odiada mas aquela história já tinha passado do ponto, foi só um erro e logo ninguém mais lembraria. Talvez se eu repetisse essa frase vezes o suficiente ela se tornaria real. 

Ouvi duas batidinhas tímidas na porta e pedi para que abrissem. Meu pai colocou a cabeça pela fresta que tinha aberto, abri um sorriso tão sincero que chegava a doer, finalmente algo de bom para salvar minha semana.

— Papai, finalmente! — Disse me levantando para lhe dar um abraço.

— Parece que você cresceu, não?

— Eu espero que não pai, eu já tenho vinte e três, seria no mínimo preocupante... 

Meu pai sempre brincava com o fato da sua única filha ser muito alta, quase maior do que ele. Por algum motivo senti uma lágrima escorrer dos meus olhos, tentei limpar depressa para que ele não percebesse mas não fui rápida o suficiente. 

— O que houve princesa? 

— Nada pai, acho que fiquei com saudade. 

Ele me abraçou ainda mais forte, eu sabia que a culpa o atormentava, mas também sabia que ser piloto era o sonho de infância que ele realizava todas as vezes que subia em um avião, eu não seria a pessoa a destruir isso, nem por um segundo. 

— Eu te trouxe um presente, espero que goste.

Ele me entregou uma caixa preta pequena, revestida de um tecido macio. Abri a mesma com o maior cuidado do mundo, tirando de lá uma linda pulseira de moedas.

— Pai, isso é lindo, já vou colocar. 

— Eles disseram que é pra dar sorte e trazer fortuna, e de bônus você pode lembrar de mim sempre que olhar para ela. O que acha da ideia? 

— Era tudo o que eu precisava! Nunca mais vou tirar.

Senti o clima pesar antes mesmo que ele abrisse a boca pra falar.

— Você tem entrado em contato com a sua mãe?

— Não.

— Você precisa falar com ela Amanda, sabe que ela se preocupa.

— Se ela se preocupasse mesmo teria me mandado mensagem, mas está ocupada demais sendo a esposa perfeita para aquele... aquele...

Eu não conseguia nem terminar a frase, meu padrasto era uma das únicas pessoas que eu realmente odiava, não suportava nem a menção dele. Meu pai me abraçou de novo e eu ouvi o tilintar das moedas, de alguma forma aquele som era quase reconfortante, como se ele fosse mesmo andar sempre comigo. 

— Me promete que vai pelo menos perguntar como ela está?

— Não vou prometer uma coisa que eu obviamente não vou fazer.

— Amanda...

— Pai, eu vou falar só mais uma vez bem devagar pra ver se você entende: dona Sara não gosta de mim, ela me teve só porque sabia que você queria ter filhos, ela nunca foi com a minha cara e não é porque ela é a minha mãe que eu preciso fingir que nós temos uma relação, então se você puder por favor não falar mais sobre ela, eu vou ficar muito grata.

— Isso não é verdade, sua mãe te ama, sempre amou. — Soltei uma risada irônica sem conseguir me controlar. — Eu sei que ela não é a melhor pessoa do mundo, mas eu também não sou e você me ama mesmo assim.

— Esse assunto me deu dor de cabeça, se você já terminou o que veio fazer, eu gostaria de ficar sozinha. 

Meu pai assentiu de leve e deixou o quarto, o vazio logo tomando conta de tudo mais uma vez. 

Amanda e Maria LuizaOnde histórias criam vida. Descubra agora