Amanda
A festa parecia bem mais animada agora, depois do climão na cozinha a Fernanda e a amiga esquisitinha dela não apareceram mais, não que eu estivesse reparando, mas tinha tanta gente por metro quadrado que era difícil encontrar até quem se queria ver. Camila estava radiante outra vez, já tinha abandonado a expressão de descontentamento que carregava antes e agora retomava seu lugar de anfitriã na festa.
A celebração anual acontecia todo final de ano, desde que Camila estava no ensino médio. Toda semana aconteciam duas festas, uma na sexta e uma no sábado, pra comemorar mais um ano de vida, de todo mundo. Era como um aniversário coletivo, mais usado como desculpa para beber e fazer coisas que eles não costumavam fazer no resto do ano do que por qualquer outra motivação. A festa da Camila era a última delas, e provavelmente uma das melhores, até porque os pais dela nem se atreviam a ficar em casa, apenas deixavam instruções muito bem claras sobre o que era permitido ou não fazer, coisa que a Camila seguia a risca. Eu sabia o quanto aquilo tudo era importante pra ela, sentia as vezes que mesmo sendo uma pessoa extrovertida Camila acabava sendo tão sozinha quanto eu, e era por isso que ter tantas pessoas dentro de casa a deixava muito mais feliz do que era possível ver no decorrer do ano.
– Quero todo mundo aqui no jardim! – Camila gritou em meio ao aglomerado de gente, provavelmente em cima de uma cadeira. – Ei! Todo mundo aqui! Seguinte, quero que vocês façam rodas e sentem-se pra gente jogar um jogo, combinado? Quem não quiser não precisa, mas se for ficar de pé vai ter que servir quem tá sentado.
Quase todas as pessoas presentes sentaram em círculos, fazendo o que a garota tinha ordenado, com as pernas cruzadas e segurando seu respectivo copo, Camila me chamou com os dedos para que eu me acomodasse ao seu lado na grama.
– O que você tá aprontando
– Nada demais. – Então ela levantou rapidamente. – Já volto.
Saindo da porta que dava para a cozinha, Camila veio toda sorridente, seguida pela Fernanda que parecia nem um pouco feliz em ter sido incomodada, Fernanda e Malu. Meio a contragosto elas encontraram um espaço na roda e sentaram, Fer murmurava alguma coisa sobre deserdar a irmã e Maria Luiza vez ou outra ria da amiga, e sem entender o por quê, eu também sorri.
– Vamos jogar verdade e desafio!
Camila pegou uma garrafa vazia que estava jogada na grama e colocando a mesma no meio da roda, começou o jogo. As primeiras pessoas ficaram com a verdade, mas logo os participantes já estavam soltos o suficiente para se arriscarem nos desafios. Após muitos beijos, confissões ridículas e algumas coisas mais bizarras, a garrafa finalmente parou em mim, e como se fosse uma piada, na outra ponta estava Maria Luiza.
– Você pergunta Maria! – Camila gritou, extremamente animada com o que ela pensava que estaria por vir.
– Não sei o que perguntar.
– Pergunta a primeira coisa que vier a sua mente. – Eu disse, curiosa por saber o que ela estava pensando.
– Ok. O que você deixou de avaliação no mercado hoje?
– Pensei que as avaliações fossem anônimas.
– São, mas isso aqui é um jogo e eu posso perguntar o que eu quiser.
– Já que você insiste... – Pensei por um instante e constatei que não valia a pena mentir. – Eu disse que o atendimento poderia melhorar.