Quatorze

11 3 0
                                    

Era terça-feira, Maria Luiza estava em seu horário de almoço, comendo quieta em um canto enquanto lia alguns tweets. 

Você tem 3 novas mensagens.

Melhor: Amiga, você lembra que domingo, não nesse, no outro, é o aniversário da Camila? Ela vai fazer uma festinha sábado aqui em casa, ela disse que podia te chamar, estranhei né, mas já que posso então venha! (Eu te chamaria mesmo sem permissão).

Amanda: Maria que ódio olha isso.

Amanda: FOTO 

Maria Luiza soltou uma risada alta ao ver a foto que Amanda tinha mandado, chamando atenção do seu chefe que estava no caixa enquanto ela almoçava.

- Maria? Cuidado quando for sair, acho que vai chover - ele disse segurando uma risadinha.

- Que estranho, quando eu cheguei o Sol estava estralando - disse sem dar muita importância, ainda olhando para o celular.

- É que você deu risada, em horário comercial, e não foi um sorriso, você deu risada de verdade! - disse brincando.

- Haha muito engraçado - Malu respondeu sarcástica depois dando um sorriso de verdade.

- Depois que você começou a falar com essa menina aí - apontou para o celular - Você ficou mais alegre. Eu sei que namoro não deve ser o único motivo para você ficar feliz, mas é bom ver você se dedicando a outra coisa que não seja isso aqui - girou o dedo indicador no ar apontando para o mercado.

Maria Luiza não sabia onde enfiar a cara, não era um namoro, ela não achava que estava mais feliz por causa da Amanda, ela só estava menos tensa. Amanda era mais tranquila, mais positiva, tinha uma energia que a contagiava, mesmo por mensagem. Era isso, elas eram amigas e por serem tão opostas acabavam aprendendo uma com a outra.

- Não é um namoro, nós somos amigas - ela disse baixo - e obrigada por se preocupar.

- Claro que me preocupo! Se você morrer de estresse quem é que vai cuidar do mercado quando eu for? - deu risada.

Maria Luiza franziu as sobrancelhas também sorrindo, fez um gesto de negação com a cabeça, jamais pensaria em um futuro onde ela era dona de um mercadinho, ela não queria ficar presa ali para sempre.

Amanda sorria lendo as mensagens de Maria Luiza que sempre correspondia suas gracinhas á altura. Colocou o celular no bolso e virou-se para a recepcionista do lugar onde estava. Era um prédio enorme, sua entrada era de vidro, dando a quem estava olhando de dentro uma visão ampla da rua, mas quem estava na rua não conseguia ver nada dentro. O chão era claro porém muito bem limpo, havia barulho de celular por toda parte, vozes e mais vozes. Ela olhou para a mulher ali sentada, com um óculos de leitura na frente do nariz, simpática, a mulher perguntou o que ela queria. Sumir, talvez.

- Eu vim para uma entrevista - disse também sendo simpática.

- Você é a Amanda? - fez que sim com a cabeça. 

- Tudo bem, ele está te esperando na sala dele - entregou um papel para ela - É no último andar.

Amanda agradeceu e foi direto até o elevador, entrou com mais três pessoas que a cumprimentaram no automático, apertou o botão que dava até o último andar e esperou. Quando o elevador parou ela teve que respirar mais fundo, essa seria sua primeira vez em uma entrevista, não sabia o que a esperava. Sentou em uma das cadeiras que estavam na sala de espera mas não precisou esperar nem por cinco minutos. Um homem de uns cinquenta e poucos anos saiu da sala, apertando a mão de Amanda e a convidando para entrar.

- Nunca pensei que a veria aqui, eu confesso - disse sendo simpático apontando para a cadeira que estava do lado oposto da dele.

- Eu também nunca pensei - Amanda agradeceu e sentou, tentando parecer confiante - meu pai me falou que vocês precisavam de uma estagiária para a parte de administração, então eu enviei meu currículo por e-mail para tentar uma vaga.

O homem deu uma risada breve e a encarou - Eu vi o seu currículo e posso te dizer que é um dos melhores que já tive o prazer de analisar - disse puxando saco - mas sinceramente, não acho que você tenha um currículo de estagiária, eu te daria uma vaga em um cargo muito mais alto, se pudesse.

Amanda se sentiu aliviada, ela sabia que ser fluente em três línguas, ter estudado nos melhores colégios e se formado sem muitos problemas a ajudaria com o emprego, mas pensou que teria que disputar a vaga com pessoas mais ou tão qualificadas quanto ela.

- Seu pai é um dos meus melhores funcionários, você sabe. Então por isso vou te colocar como estagiária agora, mas apenas porque não tenho mais vagas para outros cargos. Com o tempo nós vamos colocar você em uma posição com mais destaque, e com um salário melhor também - disse com um sorriso que agora estava começando a enjoar Amanda.

Ela agradeceu, eles conversaram por mais alguns minutos, Amanda queria ir embora, não aguentaria mais tanto tempo sem chorar. Finalmente se despediu, agradeceu mais uma vez e saiu, entrando no elevador e rezando para que esse chegasse logo ao chão para que ela pudesse entrar no seu carro e socar alguma coisa. Passou pela recepcionista, disse um "obrigada" rapidamente e saiu do prédio quase correndo. Entrou no carro e o que conseguiu fazer foi encarar a rua. Ela não tinha conseguido o que queria, não conseguiu sentir que estava fazendo algo, só tinha conseguido o emprego porque seu pai era quase dono da empresa. Tinha ido até lá porque não aguentava mais se sentir uma inútil, conhecia pessoas que batalhavam todos os dias para comer, o que ela era? Nada, ela era nada, e continuaria sendo.

Amanda e Maria LuizaOnde histórias criam vida. Descubra agora