Elas se mantiveram ali, sentindo o coração uma da outra. Maria Luiza foi a primeira a abaixar a mão e olhava para Amanda com um olhar diferente de todos os que ela conhecia, um olhar de carinho. Maria Luiza era muito expressiva, por mais que gostasse de fazer uma pose de durona, muitas vezes suas expressões a entregavam. Ela estava com medo, sentia muitas coisas ao mesmo tempo, queria abraçar Amanda e enterrar o rosto no pescoço da outra até esquecer da sua própria existência, ao mesmo tempo que queria correr o mais rápido possível e manter uma distância segura para que Amanda nunca tivesse o poder de machucar seu coração. Era uma escolha difícil.
Elas estavam perto demais, Malu conseguia sentir a respiração de Amanda que era rápida igual a sua, podia sentir o calor e a aflição que tomava conta do corpo da outra. "Perto demais" ela repetia para si, "perto demais".
Amanda desejou ser um neurônio apenas para saber o que passava na mente de Malu, que a olhava de um jeito que a fazia derreter, com os olhos brilhando, vira e mexe balançando a cabeça levemente como se estivesse negando algo para si mesma. Não sabia quanto tempo elas estavam lá na garagem, nem quanto tempo estavam encarando uma a outra de uma maneira que qualquer pessoa que visse de fora acharia bizarro. O silêncio era confortável, ela poderia viver ali, apenas olhando para Maria Luiza, nem sequer sentiria falta das palavras.
- Amanda - Maria Luiza falou sussurrando - acho que precisamos voltar para a festa.
- Eu também acho - Amanda falou, dobrando levemente os joelhos e abaixando os quadris na parede para ficar na altura da outra.
Maria Luiza riu rapidamente vendo que Amanda tinha se abaixado, chegou mais perto, colocando seus braços ao redor da cabeça de Amanda que não tirava os olhos dos seus - Nós precisamos mesmo voltar - sorriu, sussurrando as palavras bem perto da boca da outra que agora já tinha os olhos fechados.
A respiração das duas se completava, Maria Luiza reparava em cada detalhe do rosto da mulher que estava a centímetros de distância de si. Amanda parecia um anjo, bonita e entregue, sem que ela nem a tocasse.
Amanda abriu os olhos, foi quando Maria Luiza sentiu um braço apertar sua cintura, fazendo com que ela tivesse que ir mais para perto e se encaixar no meio das pernas da outra que ainda estava apoiada na parede. Amanda passou o outro braço e a puxou ainda mais, praticamente colando os corpos.
Maria Luiza segurou Amanda pela nuca, enfiando os dedos por baixo do seu cabelo, trazendo seu rosto para mais perto, quebrando qualquer distância que ainda teimava em existir entre as duas. Por mais que parecessem desesperadas pelo contato que queriam, quando Malu colou seus lábios não sentia mais nenhuma pressa, o beijo era lento e carinhoso, como se elas quisessem aproveitar cada segundo.
Amanda ainda apertava Malu contra si e sorria quando percebia que ela tentava colocar para trás o cabelo que insistia em cair em seu rosto. Passava as mãos nas costas da outra e sentia o corpo arrepiar quando ela respirava mais fundo, reagindo ao toque. Sentiu Malu agora segurando seu cabelo com as duas mãos, encostando mais ainda o rosto das duas, aprofundando o beijo mesmo depois de parecer que não havia mais para onde ir.
Maria Luiza já tinha perdido qualquer tipo de filtro que poderia ter, já fazia tanto tempo que não beijava alguém assim, e saber que esse alguém ali era Amanda, só complicava as coisas. Agora estava pressionando Amanda contra a parede, segurando seu cabelo com as mãos e quase implorando para que ela tivesse a ideia de pegar o carro e ir embora. Mas nunca pediria.
Pararam para buscar ar e quando voltaram o beijo parecia ter ainda mais vontade. Agora era um pouco mais rápido, mas ainda em um ritmo que elas podiam sentir o que estavam fazendo. Amanda já não pensava em nada com clareza e cogitou sair dali, levar Malu para a casa e...
- Oi pombinhas! Encontrei vocês! - Fernanda falou gritando antes de chegar perto das duas - O bolo lembram? O parabéns.
As duas se desvencilharam o mais rápido possível, Maria Luiza empurrou Amanda pelos ombros e virou para o lado enquanto limpava a boca com a mão.
Amanda olhou para Fernanda como se nada estivesse acontecendo segundos antes dela entrar, sorriu educadamente - Nós já vamos Fer, só precisamos de um minuto.
Fernanda olhou para a amiga e soltou uma risada quando viu Malu completamente vermelha tentando olhar para todos os lados, apenas para não a encarar nos olhos - Não demorem ok? Malu, fica calma amiga, foi só um beijo, todo mundo faz isso - falou provocando.
Malu mostrou o dedo do meio para Fernanda que saiu dando gargalhadas de contentamento. Maria Luiza poderia cavar um buraco e se enfiar dentro naquele mesmo instante, mas Amanda foi mais rápida e a puxou pelos braços, a trazendo para um abraço caloroso.
- Você está bem? - Amanda falou com o rosto no pescoço da menor.
- Eu não poderia estar melhor - Malu respondeu com os olhos fechados, sentindo seu corpo encaixar confortavelmente no de Amanda.
- É que nós vamos ir para lá e você sabe...
- Eu sei - Malu falou agora saindo do abraço - Mas eu estou com você e... promete que não vai se achar? - Amanda assentiu mesmo não entendendo - Quando eu tô com você eu me sinto mais segura.
- É claro que sim, eu sou incrível - Amanda falou revirando os olhos e dando risada.
Maria Luiza deu um tapinha em seu ombro e sorriu. Sabia que tinha sido vulnerável, por mais que tentasse, não conseguia não ser. Amanda tinha um efeito sobre ela, um que ela ainda estava descobrindo qual era, sentiu que tudo estava mais leve. Sentiu que tudo estava certo.
Amanda não queria dizer, mas também se sentia segura. Quando elas se tocavam era como se tudo estivesse bem, por mais ruim que qualquer situação fosse. Achava engraçado ter se apegado a alguém que nem conhecia tanto assim, não era do seu costume se apegar, muito menos tão rápido. Gostava de ter o controle da situação, mas quando Malu aparecia ela se rendia, não se preocupava em ser perfeita e muito menos em ser alguém que não era, Maria Luiza parecia gostar dela exatamente assim.