Oito

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Maria Luiza 

Era domingo, minha única folga da semana. Eu tinha dormido terrivelmente mal, de novo. Entre dormir e acordar pronta para estudar, eu tinha escolhido ficar remoendo todas as palavras que tinha escrito pra Amanda na noite anterior e me sentir um caco de manhã. 

Eu estava me preparando para uma prova que decidiria se eu iria entrar na faculdade que sempre sonhei. Me sentia culpada por ainda não ter me formado e nem mesmo começado a estudar aos vinte e cinco, queria muito passar, mostrar para todos que eu era capaz, principalmente para os meus próprios pais. O curso escolhido foi psicologia, eu tinha decidido depois de anos fazendo terapia, sabia que queria ajudar outras pessoas da mesma forma que a minha psicóloga havia feito comigo, talvez essa fosse a única coisa que realmente me motivava a continuar me esforçando tanto.

Sentei na cadeira na frente de uma escrivaninha simples que eu tinha comprado em um brechó de igreja, coloquei uma xícara de café fresco em cima e comecei a ler. Eu amava café, não sei se amar era o sentimento, mas eu era dependente dele, isso com certeza. A minha família inteira tinha esse probleminha com a cafeína, cafeína e remédio para dormir, esse era o nosso lance. Por sorte, ou não, eu só havia herdado um dos vícios. Após uma hora de leitura, resolvi dar uma pausa, até porque eu estava conseguindo ler mas era como se o conteúdo não fixasse no meu cérebro, eu lia e tinha que reler pra entender uma simples frase. Levantei para pegar mais café enquanto dava uma rápida checada no celular.

 Levantei para pegar mais café enquanto dava uma rápida checada no celular

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Após um longo dia fracassado de estudos eu finalmente estava sentada no sofá da casa da Fer com a cabeça dela no meu colo, tudo o que eu precisava era fazer cafuné na minha amiga e assistir o meu filme favorito

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Após um longo dia fracassado de estudos eu finalmente estava sentada no sofá da casa da Fer com a cabeça dela no meu colo, tudo o que eu precisava era fazer cafuné na minha amiga e assistir o meu filme favorito. Eu e Fernanda sempre fomos "toque físico" demais, a ponto das pessoas acreditarem que tínhamos alguma paixonite platônica uma pela outra, mas não era assim. Talvez na cabeça delas era impossível que duas lésbicas se amassem e demonstrassem afeto uma pela outra sem ter algum tipo de envolvimento romântico, coisa que acontecia com a gente. Não que eu já não tivesse tido um interesse inicial na Fer, até porque ela sempre foi bonita e aquele jeito de ariana era um bônus, mas logo isso passou e ela se transformou na única família de verdade que eu tinha, e eu amava a relação que havíamos construído até então. Eu não estava prestando muita atenção no filme escolhido, "Summerland" era interessante, mas eu já tinha assistido milhões de vezes e outra coisa rondava minha mente naquele momento.  

— Vai me contar o que aconteceu?

— Oi? Aconteceu o que?

— Nossa, como você tá distraída hoje.— Ela levantou do meu colo de uma vez.— O que aconteceu pra você não conseguir dormir?

— Ah, isso. Então... a Amanda me mandou mensagem ontem, pedindo desculpas.

— Ihhhh. E você?

— Eu não reagi muito bem. — Senti meu rosto corar. — Mas para a minha defesa ela foi bem infeliz nas palavras, era quase como se eu tivesse que desculpar só pra ela se sentir melhor. 

— Típico da Amanda, ela é a segunda pessoa mais mimada que eu conheço, a primeira obviamente é a Camila. 

— Você acha? Porque comecei a me preocupar se eu não fui muito rude com ela. Você sabe, as vezes eu posso ser dura demais.

— Tenho certeza que não, você teve seus motivos. Eu não tenho nada contra a Amanda, o que é um milagre, mas se você ficou pensando sobre isso é um sinal de que tá começando a se importar e eu acho que não tá te fazendo bem. A Amanda não é pra você amiga.

Não sei identificar exatamente por quê, mas aquelas palavras me atingiram de um jeito diferente do que eu imaginei que seria. Senti um desconforto terrível e quase fiquei magoada com o tom que a Fernanda usou pra dizer que a Amanda não era pra mim. Não que eu tivesse pensado sobre isso, eu sabia que a Amanda não era pra mim e eu nem queria que fosse, só era um pouco real demais ouvir aquilo tão diretamente. 

— Eu sei.

— Não. Não. Não. — Fernanda levantou e colocou uma das mãos na testa, eu sabia que vinha bronca por aí.— Malu, você tá apaixonada. 

— Que? Eu conheço ela faz uma semana e desde então nós só brigamos, cala a boca.

— Isso pode ser impeditivo para pessoas que gostam de relações normais mas pra você é um temperinho a mais. 

— Por que eu sou sua amiga mesmo? 

— Porque você ama que alguém te fale umas verdades. — Ela sentou no sofá de novo e ficou muito séria, mas muito séria mesmo. — Então você confessa que tá apaixonada pela Amanda?

— NÃO. 

Ouvimos uma risada irônica na cozinha e logo a Camila entrou na sala, indo em direção a porta. Merda, mil vezes merda. Certeza que ela tinha ouvido tudo e iria contar pra Amanda, o que viraria uma piada interna entre elas, eu seria uma piada interna entre elas e provavelmente entre o grupo todo de amigos. Estava mais do que fodida. 

— Puta que pariu, Fernanda.— Me afundei o máximo possível no sofá, querendo desaparecer.

— Relaxa, ela não tem o que falar, você não confessou.

— Porque não tá acontecendo nada!

— Então por que você tá surtando? Se você não liga tá tudo certo. 

Acho que acabei ficando assustadora quando soltei algum tipo de grunhido indecifrável porque a Fernanda pareceu ficar realmente preocupada de uma hora pra outra. 

— Ei, vou fazer um chá pra gente, tá?

— Você me odeia? — Falei mais alto do que o planejado. 

— Desculpa, vou fazer um café pra gente, mas não sai daí, eu já volto. 



Amanda e Maria LuizaOnde histórias criam vida. Descubra agora