Capítulo 26

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Assim que seguimos viagem, entrei em um momento introspectivo. E o vento gelado batendo contra o meu rosto, está ajudando muito.

Há alguns meses atrás, eu estava no meu apartamento e enlouquecendo com as minhas pesquisas no Google.

Qual faculdade cursar? Vagas de emprego.

Estava preocupada com o rumo da minha vida e me afundava nas lembranças da época em que eu ainda morava com Bob, ou quando namorava com Liam.

A reviravolta que a minha vida deu, e como tudo está acontecendo tão rápido. Sinto medo. Medo do futuro. Medo do que ainda está pôr vir. Medo de quem eu serei no próximo mês ou daqui a três anos.

Ser ansiosa e ter a certeza que o seu futuro só depende de você mesma, não é uma das melhores combinações. Melhor dizendo, é a pior combinação já feita. Mas infelizmente, esse é um dos problemas da vida.

Infelizmente, isso não pode ser mudado.

Eu odeio o fato de ser uma mulher autodepreciativa,  mas com o Harry não consigo me sentir assim. Ele não deixa eu me sentir assim.

Com ele, me sinto amada e desejada, me sinto importante, de alguma forma.

Olho para ele que está concentrado na estrada, com a sua mão aberta sobre minha coxa. Harry não percebe que estou o admirando. Mas eu o admiro.

Admiro a forma como ele faz com que eu me sinta  única.

"Você não é a única." - a voz da Cynthia invade minha mente.

Não quero saber. Elas foram elas. Eu sou eu. O que importa é que comigo ele está mostrando ser diferente, essa viagem e o convite para morar junto com ele, é a prova do que estou falando.

— Que foi? — ele me olha sorrindo, quando percebe que estou a mais de uma hora admirando ele.

— Nada, estou apenas pensando — falei.

— Espero que seja sobre a minha proposta — ele se refere ao convite de mais cedo.

— É, sobre exatamente isso — respondi.

— E qual foi sua decisão final?

— Depois eu falo — respondi.

— Ah, qual é Ayla. Isso é injusto! — ele diz, quase gritando e eu começo a rir.

***

Depois de várias horas de viagem, depois das minhas pernas e o meu bumbum ficarem dormentes, depois de parar três vezes no posto de gasolina para o Harry ir urinar. Depois de todo perrengue, chegamos. Finalmente chegamos.

— Graças a Deus — falei assim que desci do carro e me alonguei.

— Graças a mim, quem veio dirigindo foi eu — Harry disse indo abrir a mala do carro e eu ri.

Só depois que terminei meu alongamento pós-tensão-de-viagem, me dei conta da beleza que estava na minha frente.

Começando pela cabana.

Ela era feita de ripas de madeira escura, com a saída de uma lareira no topo da casa. A porta era verde escuro, tinha janelas grandes e largas. Havia uma varanda que envolvia todos os cantos  externo da casa.

Logo de frente, havia um lago. Isso mesmo. Um lago. Para chegar até o lago, precisávamos passar pela ponte de madeira e voilà. Estávamos no lago.

— Isso é... lindo — falei ainda admirando.

— Sim, é muito bonito mesmo — sinto seus braços me envolverem. Ele beija o meu pescoço por trás e se aninha em mim. — Vamos entrar? — ele pergunta. E eu assenti.

O interior da casa é ainda mais lindo. Encostada no canto da parede, bem de frente para televisão, havia uma cama bem grande e alta. Impecavelmente arrumada, dava até pena de deitar e bagunçar ela.

Tinha um balcão que divida a sala-quarto da cozinha. Uma mesa de jantar quatro lugares. As luzes eram bem fracas, acho que para deixar o ambiente mais romântico.

Estilo filme da sessão da tarde.

Harry entrou com as nossas malas e largou tudo no canto, próximo a porta. Literalmente ele largou. Ele tira o cachecol que estava usando e pendura no porta-troço preso a parede.

Eu chamo aquilo de porta-troço, porquê nunca sei o verdadeiro nome daquilo. É um negócio de madeira, com umas seis ou sete bolinhas também de madeira, onde você pendura suas coisas. Casaco, chave, capa de chuva e cachecol.

Harry anda até minha direção e me pega no colo, me fazendo gargalhar. Ele me coloca na cama e fica por cima de mim. E ficamos assim, encarando um ao outro. Como sempre fazemos, mas, todas as vezes é uma sensação diferente.

Como se existissem aquelas bolhas, do plástico-bolha, que a gente aperta e faz barulho relaxante. Então. É como se existissem essas bolhas dentro de mim, e toda vez que entramos nesse transe. Uma bolha se estoura. E um sentimento é liberado. Uma sensação é liberada. E com isso, eu vou ficando apaixonada.

Sim, eu confesso. Afinal de contas, não dá mais pra fugir.

Então vamos lá.

Estão prontos?

Eu espero que sim.

Então lá vai.

— Eu te amo — acho que pensei alto.

Seus olhos se arregalaram. Ele não disse nada. Apenas continuou me olhando. Porém, surpreso.

Também, não é pra menos. De repente, eu solto um "eu te amo" bem na cara dele. Se fosse ao contrário, também entraria em estado de choque.

Sem dizer nada, ele me beija.

Harry pega as minhas duas mãos e desliza para cima da minha cabeça, segurando elas lá. Cada uma de um lado. Ele entrelaça nossas mãos.

A língua dele penetra a minha boca e quando se encontra com a minha. Elas dançam. Como se fosse um salão de festa de gala e elas estão ocupando todos os espaços do salão. Voando. Rodopiando.

E mais uma bolha se estoura.

Ele encerra nosso beijo e deita em cima de mim, eu o abraço. Sinto sua respiração quente no meu pescoço.
Eu poderia ficar assim, aguentaria todo o peso do seu corpo por milênios. Só para continuar desse jeito com ele, sem diálogo, sem nada. Apenas dessa mesma maneira que estamos.

Eu abraçada com seu corpo e ele respirando no meu pescoço.

Se essa não é a oitava maravilha do mundo, então é a primeira.















A 13° Entrevista De EmpregoOnde histórias criam vida. Descubra agora